Com ultimato de Trump, UE corre para evitar tarifas de até 50%

247 - Com um prazo de apenas seis semanas até o fim da trégua tarifária, Estados Unidos e União Europeia iniciaram uma corrida contra o tempo para tentar destravar um novo acordo comercial, diante da ameaça do presidente Donald Trump de impor pesadas tarifas a produtos europeus a partir de 1º de junho. (O movimento marca a primeira distensão significativa entre Washington e Bruxelas desde o início do segundo mandato de Trump, em janeiro de 2025.

A reviravolta começou na última sexta-feira, quando Trump voltou a acusar a União Europeia de agir com lentidão nas negociações e anunciou a possibilidade de aplicar uma tarifa de 50% sobre importações do bloco. O anúncio gerou imediata instabilidade nos mercados acionários de ambos os lados do Atlântico, com receios de uma nova guerra comercial.

Após uma ligação com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, Trump afirmou no domingo que adiaria a medida para 9 de julho, novo prazo final antes da aplicação de tarifas automáticas de 20% sobre países que não tenham firmado acordos com os Estados Unidos. A fala foi acompanhada por uma postagem em sua rede Truth Social: “Fui informado de que a UE ligou para estabelecer rapidamente datas de reuniões. Isso é positivo e espero que eles, FINALMENTE, como exigi da China, abram os países europeus para o Comércio com os Estados Unidos da América. Ambos ficarão MUITO felizes e terão sucesso, se o fizerem!!!”.

Apesar do tom entusiasmado, o presidente dos EUA repetiu que mantém o direito de impor tarifas caso não haja avanço nas tratativas. “Lembrem-se, tenho autoridade para ‘FECHAR UM ACORDO’ comercial com os Estados Unidos, caso não consigamos fazer um acordo ou sejamos tratados de forma injusta”, escreveu, sem detalhar quando ou como ocorrerão os encontros.

Comissão Europeia elabora estratégia e reforça pressão

Fontes próximas à Comissão Europeia revelaram que o novo plano de negociação com os EUA inclui foco em setores estratégicos — como aço, alumínio, automóveis, aeronaves, semicondutores e produtos farmacêuticos — além de uma proposta para reduzir barreiras tarifárias e não tarifárias. A UE também quer vincular a remoção de entraves regulatórios a uma simplificação geral das regras internas do bloco.

O comissário de Comércio, Maros Sefcovic, liderará a frente política das conversas, enquanto as equipes técnicas abordarão tarifas e normas não tarifárias. Na segunda-feira, Sefcovic conversou com os representantes norte-americanos — o secretário de Comércio, Howard Lutnick, e o Representante de Comércio, Jamieson Greer — e depois atualizou os Estados-membros do bloco.

Segundo a Bloomberg, setores europeus já atingidos por tarifas dos EUA, ou sob ameaça de novas sobretaxas, estariam entre os prioritários nas discussões. A UE teria oferecido, na semana anterior, uma proposta abrangente de cooperação que incluía redução de tarifas, parcerias estratégicas em desafios globais e investimentos mútuos — proposta essa que foi prontamente rejeitada por Washington, motivando a nova escalada retórica de Trump.

Contradições e imes

A ausência de clareza nas demandas norte-americanas tem gerado frustração do lado europeu. Segundo diplomatas envolvidos nas tratativas, paira a dúvida sobre quem de fato fala em nome de Trump e quais são as exigências concretas de sua istração. Washington, por sua vez, acusa Bruxelas de perseguir empresas americanas com ações judiciais e regulações consideradas abusivas.

Membros do governo dos EUA, como o secretário do Tesouro Scott Bessent, apontaram dificuldades da UE em alcançar consensos internos em temas comerciais como fator adicional para o ime.

Caso as conversas fracassem, o bloco europeu pretende reagir com rapidez. Segundo as fontes ouvidas pela Bloomberg, Bruxelas já aprovou uma lista de retaliações tarifárias sobre € 21 bilhões (US$ 23,8 bilhões) em produtos norte-americanos, mirando setores politicamente sensíveis nos EUA. Entre os alvos estão soja da Louisiana — reduto do presidente da Câmara dos Deputados, Mike Johnson — além de produtos agrícolas, carne de frango e motocicletas.

Mais ainda: a União Europeia prepara uma segunda leva de tarifas sobre € 95 bilhões em bens dos EUA, voltada a mercadorias industriais como aviões da Boeing, carros e bourbon. Alguns países também pressionam por sanções preventivas contra futuros ataques tarifários de Trump em áreas como semicondutores e indústria farmacêutica.

Ceticismo europeu

Apesar do reinício das negociações, o ceticismo reina em Bruxelas. Autoridades da UE ouvidas pela Bloomberg acreditam que parte das tarifas já impostas por Trump deve permanecer, mesmo em caso de acordo, o que reduz o entusiasmo quanto a um desfecho favorável.

“Queremos uma solução rápida agora”, afirmou o ministro das Finanças da Alemanha, Lars Klingbeil, em entrevista coletiva nesta segunda-feira, em Berlim. Segundo ele, é preciso que o bloco “responda às ameaças tarifárias dos EUA de maneira unificada, coordenada e consistente”, embora tenha declarado estar “cautelosamente otimista” sobre a possibilidade de entendimento.