Jeffrey Sachs defende papel estratégico do Brasil no desenvolvimento sustentável
Em aula magna na PUC-Rio, economista norte-americano destaca a importância do Brasil na nova ordem global e critica o unipolarismo dos EUA
247 – O economista Jeffrey D. Sachs, diretor do Centro de Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Columbia e presidente da Rede de Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da ONU, ministrou uma aula magna na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), abordando o tema “Brasil, desenvolvimento sustentável e o mundo multipolar”. O evento, transmitido pelo YouTube, evidenciou o prestígio internacional de Sachs e seu compromisso com uma governança global mais equitativa e ambientalmente responsável. A íntegra da palestra está disponível no canal da universidade (assista aqui).
Logo no início da cerimônia, o reitor da PUC-Rio, padre Anderson Antonio Pedroso, celebrou a presença de Sachs, que havia acabado de plantar uma árvore no campus como gesto simbólico de enraizamento e compromisso com a sustentabilidade. “Professor Jeffrey simboliza um paradigma. Não apenas uma troca intelectual de ideias, mas também ações concretas, como o plantio de raízes por meio de iniciativas”, afirmou o reitor.
O Brasil como ponto de convergência global
Sachs destacou o papel central que o Brasil pode desempenhar na construção de uma nova ordem mundial. Segundo ele, “o Brasil é talvez o ponto máximo de convergência entre economia e natureza no mundo”. O país, com sua vasta biodiversidade e importância ecológica global, tem uma responsabilidade singular na promoção do desenvolvimento sustentável.
Ele também fez menção ao protagonismo brasileiro no G20, agora com 21 membros, após a inclusão da União Africana, e ao fato de o país sediar a próxima cúpula dos BRICS, o que, em suas palavras, “é extremamente importante para consolidar uma diplomacia sul-global ativa e multipolar”.
Críticas ao imperialismo e à hegemonia norte-americana
A palestra também incluiu duras críticas à política externa dos Estados Unidos. Sachs afirmou que, após a Segunda Guerra Mundial, os EUA se tornaram a potência dominante por razões geográficas e econômicas, mas que essa hegemonia gerou uma “atmosfera de delírio de poder”. Segundo ele, “o poder é intoxicante, e quando se tem, acredita-se que é por direito. Isso cria uma mentalidade de dominação permanente”.
Ele identificou no neoconservadorismo o vetor de uma política externa que transformou os EUA no “policial do mundo”, justificando guerras e mudanças de regime. Sachs lamentou que esse pensamento tenha prevalecido por tanto tempo em Washington, impedindo soluções diplomáticas para conflitos como a guerra na Ucrânia.
O papel de Trump e a esperança de mudanças
Em um trecho polêmico da aula, Sachs afirmou que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump — empossado para seu segundo mandato em 2025 — demonstrou desejo genuíno de encerrar o conflito na Ucrânia. “Trump, por mais estranho e instável que seja, quer de fato acabar com a guerra. E isso é a coisa certa a se fazer”, declarou. Para o economista, esse gesto pode representar uma mudança de paradigma no pensamento estratégico norte-americano.
Educação, ética e desigualdade
Respondendo a perguntas de estudantes, Sachs defendeu uma educação transdisciplinar que una ciência, ética, política e economia. Para ele, “a universidade deve ser um lugar de compartilhamento de conhecimento, não de sua privatização”. Também apontou a desigualdade como um dos principais entraves ao desenvolvimento: “A desigualdade não é apenas moralmente inaceitável, é também insustentável na prática. Educação e bem-estar social são essenciais para combatê-la”.
Sobre o Brasil, Sachs reconheceu a complexidade do sistema federativo, mas reforçou sua confiança na capacidade do país de liderar debates ambientais e sociais no cenário internacional: “Com o maior bioma do planeta, o Brasil tem um papel desproporcional na solução dos desafios do século XXI”.
Espiritualidade, ciência e a nova revolução
Sachs encerrou sua fala com referências ao papa Francisco, que ele considera uma das vozes mais lúcidas da atualidade em questões ecológicas e sociais. Destacou as encíclicas Laudato Si’ e Fratelli Tutti, e louvou a capacidade do papa de dialogar com outras tradições religiosas, como ao dedicar uma encíclica ao grande imã de Al-Azhar.
Segundo Sachs, “estamos vivendo uma nova revolução — a da inteligência artificial e do mundo digital. E, para enfrentá-la, precisamos organizar a esperança, como diz o papa Francisco, para que ela não seja capturada por ideologias destrutivas”.
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