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      "Os EUA, com seu negacionismo, estão ficando para trás", diz Jeffrey Sachs

      Enquanto os EUA retrocedem no clima, China avança em tecnologia verde e Brasil tem chance única de liderar, diz economista Jeffrey Sachs

      (Foto: .REUTERS/Max Rossi)
      Guilherme Levorato avatar
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      247 - O economista Jeffrey Sachs, um dos mais respeitados nomes globais em desenvolvimento sustentável, criticou duramente a postura dos Estados Unidos na agenda ambiental, afirmando que o negacionismo climático promovido no país está levando a potência a perder protagonismo econômico. A entrevista foi concedida ao jornal O Globo durante sua visita ao Brasil, onde participou de uma aula magna na PUC-Rio, promovida em parceria com o Cebri, nos preparativos para a COP30.

      Diretor do Centro para Desenvolvimento Sustentável da Universidade Columbia e ex-líder do Earth Institute, Sachs é categórico: “os que saírem na frente terão vantagens econômicas e serão os líderes industriais ao exportar soluções para os demais”. Em contraponto, advertiu: “os que agirem depois ou forem negacionistas ficarão para trás. E os EUA, com seu negacionismo, estão ficando para trás”.

      Críticas à política ambiental de Trump e à postura dos EUA - Durante a conversa, Sachs teceu críticas contundentes ao presidente Donald Trump, que assumiu seu segundo mandato em janeiro de 2025. Ele classificou como um erro estratégico o afastamento dos EUA de pactos multilaterais, como o Acordo de Paris e a Organização Mundial da Saúde, e apontou que a ausência de uma governança global efetiva agrava as crises ambientais. “Mesmo no meu país, os Estados Unidos, a classe política ainda não assimilou os limites do poder americano”, observou.

      Segundo Sachs, Trump não apenas retirou os EUA de tratados fundamentais como também promoveu uma guerra comercial baseada em falsas premissas econômicas. “A guerra comercial foi criada pelo presidente dos EUA. Nem foi uma criação do governo americano, mas de uma única pessoa”, criticou. Ele acrescentou que o déficit comercial americano não é causado por práticas externas injustas, mas por desequilíbrios internos, como o baixo índice de poupança e altos déficits fiscais.

      O protagonismo da China e o papel singular do Brasil - Em contraste com os EUA, Sachs destacou o papel ativo da China na defesa do multilateralismo e das tecnologias sustentáveis. Para ele, o gigante asiático está “levando essa agenda extremamente a sério” e assumindo a dianteira em áreas como veículos elétricos, energia solar, turbinas eólicas e transporte de emissão zero. “Ela realmente apoia o sistema de direito internacional, a Carta da ONU, a Organização Mundial do Comércio e outros tratados internacionais”, afirmou.

      Sobre o Brasil, Sachs vê uma oportunidade única. Sediando a COP30, presidindo o G20 e o BRICS, o país pode liderar a transformação verde. “O Brasil tem um papel único nesse novo sistema multipolar”, ressaltou. Ele também enfatizou o potencial brasileiro como maior fornecedor mundial de biocombustíveis e futuro líder em combustíveis de aviação com emissão zero.

      Desigualdade, pobreza e ética: uma combinação de desafios - Coautor dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, Sachs defendeu que acabar com a pobreza extrema é uma meta viável. “A China conseguiu. Grande parte dos países pobres não conseguiu, em parte porque não houve um esforço global organizado. Ainda podemos fazer isso, se essa for a escolha”.

      Ao abordar a desigualdade, no entanto, ele foi mais incisivo ao apontar que o problema não é apenas técnico, mas ético. “A medida mais importante para lidar com a desigualdade é a educação de qualidade. O segundo ponto é a provisão adequada de infraestrutura”, afirmou. Mas destacou que é também uma questão de visão de mundo: “existe uma ideia, geralmente promovida por pessoas ricas e poderosas, de que o máximo que o governo deve fazer é não se meter na vida dos outros, manter os impostos baixos e, se alguém ainda for pobre, a culpa é dele mesmo”.

      Sachs alertou para a influência crescente de uma ideologia libertária entre bilionários próximos a Trump e criticou a filosofia individualista que se dissemina entre elites econômicas dos EUA. Ele fez referência à escritora Ayn Rand como símbolo desse pensamento, que considera imoral ajudar os pobres. Para o economista, essa visão precisa ser combatida com uma “orientação ética adequada”.

      Inteligência artificial e concentração de renda - Outro ponto de preocupação para Sachs é o papel das novas tecnologias na ampliação da desigualdade. Segundo ele, a inteligência artificial pode tanto beneficiar a sociedade quanto agravar disparidades, a depender da orientação ideológica. “Se tivermos apenas IA, mas não tivermos uma visão política de que todos devem se beneficiar, essa tecnologia pode realmente aumentar ainda mais a desigualdade”.

      O economista também lamentou a combinação de “riqueza com falta de empatia” de muitos líderes do setor tecnológico. “É uma combinação muito ruim, mas é uma parte muito poderosa do cenário político americano atualmente”.

      Ética, filantropia e responsabilidade social - Sachs encerrou com uma defesa da responsabilidade moral das elites e de uma ética voltada ao bem comum. Citou exemplos como o de Bill Gates, que anunciou a doação de sua fortuna, e Andrew Carnegie, que defendia que morrer rico era uma desgraça. “A resposta para sua pergunta é que temos um desafio de políticas públicas para lidar com a desigualdade e a pobreza. Mas também temos um desafio ético, de criar sociedades em que as pessoas se responsabilizem umas pelas outras”.

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