Trump propõe acordo nuclear provisório que permite enriquecimento de urânio no Irã
istração dos EUA ite concessões enquanto busca solução que impeça bomba iraniana e forneça combustível para usinas nucleares
247 - A istração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentou uma nova proposta ao Irã nas negociações sobre o programa nuclear do país, segundo informações do The New York Times.
A proposta permite que Teerã continue enriquecendo urânio em níveis baixos de pureza — o que representa uma mudança em relação à postura anterior de Washington, que exigia a suspensão completa da atividade em solo iraniano.
O plano, redigido pelo enviado especial de Trump para o Oriente Médio, Steve Witkoff, prevê que o Irã possa manter parte de seu programa enquanto se constrói uma estrutura mais ampla de longo prazo. Nessa nova etapa, o combustível nuclear seria produzido por um consórcio regional — possivelmente com a participação de países como Estados Unidos, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos — e fornecido tanto ao Irã quanto a seus vizinhos interessados em desenvolver projetos civis de energia nuclear.
Enquanto os novos centros de enriquecimento não estiverem prontos, o Irã continuaria a enriquecer urânio a baixos níveis. Quando os benefícios prometidos começarem a ser entregues, Teerã precisaria interromper todas as atividades nucleares em seu território. Essa transição, no entanto, ainda carece de detalhes, e as partes seguem distantes em pontos-chave do acordo.
A proposta foi encaminhada a Teerã no fim de semana, e autoridades iranianas indicaram que uma resposta oficial será dada nos próximos dias. Embora represente a primeira sinalização concreta de compromisso mútuo desde que Trump reassumiu a presidência em 2025, a complexidade política interna nos dois países e o histórico de desconfianças dificultam o avanço das tratativas.
Durante seu primeiro mandato, Trump retirou unilateralmente os EUA do acordo firmado em 2015 durante o governo de Barack Obama. Mais recentemente, autorizou a execução de um dos principais generais iranianos, o que intensificou ainda mais as tensões entre os dois países. O Irã, por sua vez, tem sido acusado por autoridades americanas de tentar retaliar com planos de assassinato contra Trump durante sua campanha eleitoral de 2024 — acusação que o governo iraniano nega.
Apesar de a proposta norte-americana sugerir um novo caminho diplomático, ela não apresenta garantias claras de que todas as sanções seriam retiradas, o que é uma exigência central de Teerã. “Sem respeito ao nosso direito de enriquecer urânio, não haverá acordo”, afirmou o chanceler iraniano Abbas Araghchi. “Em breve daremos aos Estados Unidos uma resposta apropriada”, completou.
O ponto mais sensível do plano continua sendo o local onde o enriquecimento será feito. Washington insiste que não deve ocorrer em território iraniano. Teerã, por outro lado, exige manter esse direito, garantido pelo Tratado de Não Proliferação Nuclear, ao qual é signatário. Como alternativa, autoridades discutem a construção da planta em uma ilha no Golfo Pérsico. Iranianos já propam Kish ou Qeshm, sob soberania iraniana, mas visíveis ao mundo — diferentemente das atuais instalações subterrâneas de Natanz e Fordow.
Israel, por sua vez, critica qualquer acordo que permita ao Irã manter capacidades nucleares, e há pressão interna para uma ação militar imediata. O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu defende ataques preventivos, afirmando que “agora é o momento”, em razão do enfraquecimento das defesas aéreas iranianas e de seus aliados regionais, como o Hamas e o Hezbollah.
A proposta de Witkoff foi redigida com linguagem deliberadamente ambígua, segundo diplomatas iranianos e europeus, sugerindo que a intenção é manter margem para negociações. Isso levanta dúvidas sobre se a proposta atende às exigências declaradas por Trump, como a de “tomar o que quisermos, explodir o que quisermos”. Negociadores iranianos reagiram: “essa declaração é uma fantasia”, retrucaram.
Para o analista Ali Vaez, do International Crisis Group, o consórcio seria um possível ponto de conciliação. “Mesmo que as partes aceitem o conceito, ainda precisarão resolver os detalhes”, observou. Segundo ele, ainda que um acordo final esteja distante, as negociações podem resultar em um entendimento provisório que desenhe os contornos de uma futura resolução.
Entre as preocupações iranianas está o destino dos cientistas envolvidos no programa nuclear, que emprega centenas de profissionais de alto nível. Há temor de que, sem perspectivas de continuidade, muitos abandonem o país. Também não está claro o destino dos complexos nucleares já construídos com alto investimento, nem quais sanções seriam efetivamente retiradas.
Por ora, a istração Trump não comenta publicamente os termos da proposta. A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, limitou-se a dizer que o “Irã nunca poderá obter uma bomba nuclear”. Em nota ao New York Times, ela acrescentou: “O enviado especial Witkoff apresentou uma proposta detalhada e aceitável ao regime iraniano. Está no melhor interesse deles aceitá-la”.
Apesar dos obstáculos, o líder supremo do Irã, aiatolá Ali Khamenei, autorizou que as negociações prossigam. Mesmo com a resistência de setores mais radicais, a disposição de continuar os diálogos pode evitar uma escalada militar e, eventualmente, abrir uma rara janela para um pacto viável.
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