“Se a tirania for aceita, nada sobra do Islã”
A Palestina é o ponto central, o epicentro capaz de distinguir entre a teoria e a prática islâmica
Por Leonardo Sobreira*, de Teerã
A frase que dá título a esta reportagem foi proferida pela principal autoridade do Hezbollah em Teerã, durante a “Conferência Internacional sobre o Imam Khomeini e a Questão Palestina”, realizada nesta segunda-feira (2) na fervilhante capital iraniana. O evento reuniu líderes políticos e religiosos para celebrar o legado do aiatolá Ruhollah Khomeini, falecido há exatos 36 anos, e reafirmar a centralidade da causa palestina na doutrina da Revolução Islâmica.
Com presença marcante de representantes do Hezbollah, HAMAS, Jihad Islâmica e do movimento iemenita Ansar Allah (Houthis), a conferência foi marcada por discursos contundentes, que exaltaram a resistência como elemento essencial do Islã político moderno. Todos reiteraram que a libertação da Palestina, para além de uma causa regional, é uma missão de envergadura civilizacional e religiosa, e que o caminho traçado por Khomeini permanece como referência estratégica e espiritual para os movimentos de resistência.
Segundo os oradores, foi o próprio Khomeini quem moldou a lógica da jihad contemporânea e estabeleceu a Palestina como “epicentro” da distinção entre teoria e prática islâmica. Essa perspectiva, afirmaram, contrapõe-se diretamente aos interesses das “potências arrogantes”, cujo objetivo seria perpetuar a opressão sobre os povos muçulmanos e desarticular qualquer avanço de uma civilização islâmica autônoma.
Segundo foi reiterado ao longo do seminário, apenas a unidade islâmica pode libertar a Palestina —e essa unidade deve reconhecer no Irã o centro irradiador da civilização islâmica e do jihad. Foi esse o papel histórico atribuído a Khomeini, apontado como “fundador de fato” da resistência islâmica, e celebrado como referência moral e estratégica para as lutas dos povos oprimidos na região.
As falas também realçaram o apoio popular à resistência dentro do Irã e exaltaram os grupos presentes como “forças brilhantes” que mantêm vivo o processo iniciado por Khomeini. Em plena Guerra Fria, lembraram, o líder revolucionário iraniano ousou propor um terceiro eixo geopolítico: o da civilização islâmica, alternativa ao imperialismo ocidental e ao comunismo soviético.
O prefeito de Teerã, que também discursou na conferência, defendeu que os países do BRICS+ assumam a causa palestina como pauta prioritária em suas declarações e articulações internacionais. A proposta visa ampliar o apoio geopolítico à Palestina, dentro e fora do mundo islâmico.
Zahra Mostafavi Khomeini, filha do aiatolá, foi o destaque do evento. Ao final da cerimônia, ela entregou honrarias a lideranças e convidados como reconhecimento pelo engajamento contínuo na causa que seu pai internacionalizou. A presença de Zahra simbolizou a continuidade do legado de Khomeini e foi recebida com entusiasmo pelos presentes, que lotaram o auditório.
Nesta terça-feira (3), Teerã amanhecerá em luto. Nas ruas da capital, bandeiras negras já tremulam ao lado dos estandartes nacionais, em memória dos 36 anos da morte do líder que redefiniu os rumos do Irã e transformou a Palestina em pilar da identidade política islâmica contemporânea.
*Leonardo Sobreira é editor-executivo do Brasil 247 e está em Teerã a convite oficial entre 01/06/2025 e 08/06/2025
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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