Cooperação Cuba-Rússia em biotecnologia sinaliza nova etapa nas relações Sul-Sul e desafia bloqueios unilaterais
Encontro entre o presidente de Cuba e o governador de São Petersburgo reforça aliança estratégica entre Cuba e Rússia
247 - Durante sua visita oficial à Federação Russa, o presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, protagonizou um importante encontro com o governador de São Petersburgo, Alexander Beglov, sinalizando uma nova etapa na colaboração estratégica entre os dois países — especialmente no campo da biotecnologia e da indústria farmacêutica, informa a Telesur. O episódio marca um avanço concreto na cooperação científica e tecnológica entre a ilha socialista caribenha e a potência euroasiática, inserindo-se em uma conjuntura geopolítica marcada pela busca de maior autonomia dos países do Sul Global frente aos centros de poder hegemônicos.
A reunião entre Díaz-Canel e Beglov ocorreu no emblemático Palácio Smolny, símbolo histórico da Revolução de Outubro e sede atual do governo de São Petersburgo. Antes do encontro, o presidente cubano depositou flores no monumento a Vladimir Ilyich Lenin, num gesto simbólico que reafirma os vínculos históricos e ideológicos que unem Cuba e a Rússia.
“Como fizeram aqui em Leningrado, não nos renderemos, nem permitiremos que nos humilhem”, declarou Díaz-Canel, fazendo referência à resistência heroica da cidade durante o cerco nazista na Segunda Guerra Mundial e traçando um paralelo com a resistência cubana frente ao bloqueio econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos há mais de seis décadas.
Biotecnologia como vetor estratégico
No centro da agenda bilateral, estiveram os planos de aprofundar a cooperação no campo da biotecnologia e da indústria farmacêutica. As delegações visitaram a planta da empresa Vertex, reconhecida por seu papel de liderança na substituição de importações e no desenvolvimento de medicamentos inovadores na Rússia. Durante a visita, discutiram-se formas concretas de intercâmbio, produção conjunta e transferência tecnológica, com destaque para o papel estratégico da Zona Especial de Desenvolvimento Mariel (ZEDM), em Cuba.
Localizada na porção ocidental da ilha, a ZEDM abriga empresas biotecnológicas que já desenvolveram medicamentos reconhecidos internacionalmente, como uma vacina contra hepatite e um tratamento inovador para o pé diabético. “Estas conquistas demonstram o potencial da nossa biotecnologia, apesar das adversidades impostas pelo bloqueio”, afirmou Díaz-Canel.
O presidente cubano também destacou o interesse em retomar o intercâmbio científico e tecnológico com centros de pesquisa russos, visando não apenas o fortalecimento da produção de medicamentos e cosméticos, mas também a pesquisa avançada em áreas como nanotecnologia, imunologia e biofármacos.
Por sua parte, o governador Beglov enfatizou que São Petersburgo é hoje um polo estratégico da indústria farmacêutica russa e que o exemplo da Vertex ilustra como a inovação pode caminhar lado a lado com a soberania produtiva. “Existe um enorme potencial para ampliar ainda mais a colaboração entre nossos países”, declarou Beglov, ressaltando a importância da cooperação com Cuba para diversificar as parcerias da Rússia em um cenário de crescente isolamento econômico do Ocidente.
Repercussões regionais e globais
O encontro entre Díaz-Canel e Beglov vai além da diplomacia local e insere-se em uma tendência maior: o fortalecimento das alianças Sul-Sul diante da desordem global e do recrudescimento das sanções unilaterais por parte das potências ocidentais. Cuba, duramente afetada pelo cerco econômico dos EUA, encontra na parceria com a Rússia não apenas respaldo político, mas também possibilidades concretas de desenvolvimento industrial soberano.
A aproximação tecnológica entre Havana e São Petersburgo soma-se a outras iniciativas de cooperação multilateral no âmbito dos BRICS+ e da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), nas quais Cuba tem defendido uma nova arquitetura internacional baseada na solidariedade, no multilateralismo inclusivo e na autodeterminação dos povos.
Especialistas latino-americanos e analistas internacionais já veem esse episódio como um sinal de que os países do Sul estão buscando construir plataformas próprias de inovação científica e tecnológica, superando a dependência dos grandes laboratórios transnacionais e rompendo com a lógica neocolonial que historicamente limitou o o das nações periféricas ao desenvolvimento de ponta.
Um caminho de resistência e inovação
Ao destacar a capacidade criativa do povo cubano mesmo diante das maiores adversidades, Díaz-Canel reiterou o compromisso da Revolução com a ciência como instrumento de libertação. "Cuba não apenas resiste, como também avança, propõe e compartilha", disse o presidente, retomando o legado dos programas de cooperação médica internacional da ilha, que já beneficiaram dezenas de países em situações de emergência sanitária.
Esse novo capítulo da parceria entre Cuba e Rússia, centrado em biotecnologia, representa, portanto, uma aposta no futuro e na construção de uma ordem internacional mais justa e solidária. Em um mundo em disputa, onde as hegemonias tradicionais perdem força e novos polos de poder emergem, a cooperação entre Havana e São Petersburgo é mais do que simbólica: é uma semente de soberania tecnológica e uma demonstração concreta de que a solidariedade internacionalista ainda é possível e necessária.
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