“O mundo deixou de ser eurocêntrico”, diz Reginaldo Nasser sobre nova ordem global
Professor aponta reação geopolítica do Sul Global e destaca equilíbrio estratégico da China diante da pressão militar ocidental
247 - Durante entrevista ao programa Boa Noite 247, o professor de Relações Internacionais Reginaldo Nasser afirmou que a guerra na Ucrânia e o conflito em Gaza revelam um cenário internacional em transformação, com o enfraquecimento da centralidade política e militar do Ocidente. “O mundo deixou de ser eurocêntrico. Eles não podem mais brincar com isso”, disse.
A declaração surgiu no contexto de uma análise sobre o avanço das potências do Sul Global — especialmente China e Rússia — e a mudança nas dinâmicas de poder desde o início da guerra na Ucrânia. “O pós-guerra da Ucrânia mostrou que o outro lado do mundo não está quieto. Sabe resistir, tem poder econômico, tem poder militar”, afirmou o professor.
Nasser criticou o discurso reiterado de que a China representaria uma ameaça iminente ao equilíbrio global, ideia amplamente difundida por lideranças políticas ocidentais, incluindo o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. “A China nunca atacou país nenhum. Você não tem um caso da China invadir outro país. E é interessante como isso é repetido sem parar para pensar”, disse.
Para o professor, o crescimento da indústria bélica europeia após o início da guerra na Ucrânia é um indicativo claro de que os principais fomentadores da militarização global continuam sendo os Estados Unidos e os países europeus. “Quem está armando o mundo são, sem dúvida nenhuma, os europeus”, afirmou, citando dados do Instituto de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI) que apontam um aumento substancial nas exportações de armamentos por países da União Europeia.
Segundo ele, a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), criada para proteger o território europeu, ou a agir fora de sua zona original, intensificando conflitos em outras regiões. “O tratado do Atlântico Norte foi criado para defender a Europa. Mas foi para o norte da África, para o Oriente Médio e para a Ásia.”
Em contraste, Nasser ressaltou o papel estratégico da China diante das pressões. “A China tem uma sabedoria em ação política internacional muito grande. É equilibrada quando precisa e impetuosa quando deve”, afirmou, destacando a habilidade do país asiático em lidar com a retórica agressiva de Donald Trump. “Ele avança, vê resistência, recua. Vai ser assim por quatro anos.”
O professor também chamou atenção para a postura diplomática do Brasil diante desse cenário. “O Brasil também tem lidado bem com isso. É preciso destacar”, disse, avaliando que a política externa brasileira vem conseguindo manter diálogo com diversos polos geopolíticos, mesmo em um ambiente internacional altamente polarizado.
A entrevista evidenciou o entendimento de Nasser de que o atual momento é de rearranjo das forças globais, com a emergência de novos atores e a reorganização das alianças estratégicas. Para ele, a insistência de países europeus em manter uma agenda militarizada evidencia a dificuldade de aceitar essa nova realidade. “Os europeus continuam apostando na guerra. Ainda sonham com a derrota da Rússia e com a mudança de regime em Moscou.” Assista:
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