“Foi mais um crime de guerra de Israel”, diz Thiago Ávila sobre atentado contra Flotilha da Liberdade
Ativista relata ataque com drones a embarcação humanitária em águas internacionais e denuncia impunidade diante do bloqueio imposto a Gaza
247 – Em entrevista ao Bom Dia 247, o ativista de direitos humanos Thiago Ávila classificou como “crime de guerra” o ataque com drones à embarcação da Flotilha da Liberdade, ocorrido em águas internacionais entre Malta e Itália. O barco, que carregava alimentos e medicamentos destinados à população palestina da Faixa de Gaza, foi atingido na madrugada de 2 de maio por forças israelenses. Segundo o governo de Malta, todos os ocupantes sobreviveram, mas a embarcação sofreu danos significativos.
Thiago Ávila, um dos coordenadores internacionais da flotilha, destacou que a missão tem caráter exclusivamente humanitário e não violento. Segundo ele, a investida israelense ultraou os limites territoriais da ocupação: “Eles levam o genocídio deles até a Europa, 100 km de distância de Gaza. Então, de fato, Israel não tem limites e nós precisamos utilizar todas as táticas que a gente tem”.
Desde 2008, a Flotilha da Liberdade tenta furar o bloqueio imposto à Faixa de Gaza, levando mantimentos essenciais à população sitiada. O barco atingido, chamado “Handala”, é o 36º a tentar a travessia. Apenas cinco embarcações conseguiram atingir seu destino nos primeiros meses das ações, há 17 anos. Thiago Ávila explicou que os organizadores das missões trabalham sob a possibilidade de quatro cenários: “A gente pode ser derrotado no porto, pode ser interceptado e preso, pode ser atacado, como agora, ou pode conseguir chegar até Gaza”.
Segundo ele, o ataque da semana ada foi semelhante à ofensiva que, em 2010, resultou na morte de dez ativistas a bordo do navio Mavi Marmara. “Dessa vez, foi um milagre que ninguém morreu”, relatou. “Cinco horas depois, todos nós estaríamos no barco: eu, Greta Thunberg, atores de Hollywood, ex generais dos Estados Unidos, parlamentares de diversos países”.
A missão era confidencial. Os participantes se reuniram em Malta discretamente, com a intenção de encontrar o barco a 13 milhas náuticas da costa. Quando o ataque ocorreu, a embarcação ainda estava desocupada. Thiago Ávila afirmou que a população maltesa ficou “em choque” com o episódio: “As pessoas param para abraçar a gente, falam: ‘obrigado pelo que vocês fizeram’”.
O ativista lamentou que apenas uma pequena parte das necessidades de Gaza possa ser atendida com uma missão desse tipo, mas defendeu a importância política da ação: “Se está acontecendo o genocídio, se os países do mundo estão falhando, se organismos multilaterais estão falhando com o povo palestino, os povos do mundo não podem falhar”.
Para Thiago Ávila, a tentativa de silenciar a missão com ataques armados evidencia a gravidade do bloqueio imposto por Israel. “A flotilha é uma ação não violenta, mas que vai sempre sofrer difamação. Eles disseram que era uma missão do Hamas, que carregava armas, mas também diziam isso sobre hospitais e bairros residenciais de Gaza”.
Apesar da gravidade do atentado, ele considera que o episódio ajudou a chamar atenção para o cerco imposto à população palestina: “É uma missão de altíssimo risco, mas ainda é uma pequena fração do risco que o povo palestino a todo dia em Gaza”. E completou: “O que a gente tem visto é que isso gera uma solidariedade internacional, como outras lutas anticoloniais geraram ao escancarar a violência da força ocupante”.
Na avaliação do ativista, a ofensiva não deve interromper os esforços. “Agora o nosso desafio é consertar o nosso barco e continuar puxando e empurrando para romper o cerco ilegal de Israel sobre Gaza e de fato deter o genocídio. É o nosso dever histórico desse momento”.
Em sua fala final, Thiago Ávila destacou o drama das crianças palestinas: “São 65 dias que nenhuma garrafa de água é permitida entrar em Gaza, que nem um pedaço de pão entra em Gaza. Tem mais de 300 mil crianças à beira da morte por desidratação e desnutrição. Nós precisamos deter isso já”. Assista:
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