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      “A Polícia Militar se tornou uma célula de extrema-direita”, diz Cristiano Maronna

      Advogado aponta que PM age como se estivesse acima da lei e denuncia estrutura que favorece repressão em vez de investigação

      (Foto: Brasil247 | Reprodução)
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      247 - Durante entrevista ao programa Boa Noite 247, o advogado Cristiano Maronna, especialista em segurança pública, fez duras críticas à atuação da Polícia Militar no Brasil e apontou um processo de politização crescente das corporações estaduais, especialmente em São Paulo. De acordo com ele, a PM foi “completamente convertida ao bolsonarismo”, o que, em sua avaliação, representa um risco institucional grave.

      “Infelizmente, ao longo dos últimos anos, temos assistido a uma escalada da politização das forças policiais. A Polícia Militar se tornou uma célula de extrema-direita e foi completamente convertida ao bolsonarismo. Em São Paulo, a situação é ainda mais grave, considerando que o secretário de Segurança foi escolhido justamente por ter matado muitas pessoas quando era policial da Rota — apesar de ser considerado um mau soldado”, afirmou.

      Maronna destacou que essa conversão ideológica também se reflete na ocupação de cargos públicos por militares, o que, segundo ele, desvirtua a função da segurança pública no Estado democrático de direito. “A verdade é que, atualmente, há uma série de policiais militares ocupando cargos políticos — são deputados federais, estaduais, senadores e vereadores. O policial militar se tornou um ator político no pior sentido do termo. E o episódio ocorrido em São José do Rio Preto é a culminância desse processo de degradação que atinge a Polícia Militar — a começar pelo fato de que, hoje, ela age como se estivesse acima da lei.”

      Ao comentar o vídeo em que policiais militares aparecem em uma cerimônia que simula rituais da Ku Klux Klan e fazem gestos interpretados como saudação nazista, Maronna foi enfático: “De fato, essa filmagem retrata atos criminosos. Além da emulação de rituais ligados à Ku Klux Klan, há ali uma saudação nazista — semelhante àquela feita por Elon Musk na posse do presidente Trump. A Lei nº 7.716, de 1989, com a redação dada pela Lei nº 9.459, de 1997, criminaliza condutas que resultem em discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional, incluindo expressamente a saudação nazista. Em tese, estamos diante de um crime: a veiculação de um símbolo vedado por lei, sujeitando os infratores à pena de reclusão de dois a cinco anos.”

      Maronna também criticou a resposta institucional da corporação, que tratou o episódio como algo rotineiro. “O que torna tudo ainda mais chocante é o fato de a Polícia Militar ter divulgado uma nota justificando esse episódio tristíssimo, tratando-o como algo corriqueiro, normal — como se fosse apenas um símbolo de ‘ultraagem dos limites’ durante o treinamento dos policiais.”

      Segundo o advogado, a crise da PM está diretamente ligada a um modelo de financiamento da segurança pública que favorece a repressão em detrimento da investigação. Ele explicou que, com base em dados coletados pela plataforma Justa, verificou-se um desequilíbrio na alocação dos recursos destinados à área: “Infelizmente, a situação da Polícia Militar hoje está no centro do debate sobre segurança pública. Segurança pública é uma das principais preocupações do povo brasileiro. Na plataforma Justa, realizamos uma pesquisa sobre o orçamento destinado às instituições do sistema de justiça, e os dados revelam que, dos recursos destinados à segurança pública, dois terços vão para a Polícia Militar e apenas um terço para a Polícia Civil e a Polícia Técnico-Científica.”

      Esse desequilíbrio, segundo Maronna, afeta diretamente a capacidade de investigação criminal do Estado. “Qual é a consequência disso? A Polícia Civil e a Técnico-Científica — responsáveis pela investigação dos crimes — estão sucateadas, sem estrutura e sem recursos. Isso compromete profundamente a capacidade investigativa do Estado. No caso dos homicídios, por exemplo — o crime mais grave de todos —, dois em cada três não têm a autoria esclarecida.”

      Ele apontou ainda que o investimento concentrado na PM a torna mais influente politicamente e mais poderosa do que seria recomendável dentro da estrutura do Estado: “Enquanto isso, a concentração de recursos na Polícia Militar não só a torna politicamente mais poderosa do que deveria ser, como também transforma a segurança pública em refém de uma lógica de policiamento ostensivo. De um lado, não conseguimos investigar crimes complexos — especialmente crimes financeiros, de corrupção e fraudes em licitações. De outro, esse policiamento ostensivo cria um superpoder: o de decidir quem vai ser preso. E o resultado está à vista nas nossas prisões.”

      Maronna concluiu sua análise apontando o impacto direto dessa política sobre a população carcerária brasileira. “Hoje, o Brasil tem a terceira maior população carcerária do planeta. A maioria esmagadora dos presos são pessoas pretas, pobres e periféricas, geralmente acusadas de tráfico de drogas, roubo ou furto. Ou seja, o caos da segurança pública está diretamente relacionado ao fato de que a Polícia Militar se tornou o eixo central da política pública na área. A prioridade não é a investigação, mas a repressão, a prisão em flagrante.”

      Segundo ele, esse modelo não tem contribuído para a redução da criminalidade, ao contrário: “E o resultado disso é o aumento da criminalidade. Aqui em São Paulo, os números de roubos e furtos explodiram.” Assista: 

       

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