“A palavra que define a China hoje é autoconfiança", diz Pepe Escobar

247 – Em entrevista à TV 247, nesta sexta-feira (25), o jornalista e analista geopolítico Pepe Escobar compartilhou as impressões de sua mais recente viagem pela China. Recém-chegado a Bangkok após uma agem por Xangai e Hong Kong, Escobar narrou, em conversa com o editor Leonardo Attuch, as mudanças profundas que observou no país asiático. Ao longo do diálogo, transmitido pela TV 247 no YouTube, Pepe Escobar descreveu a atual fase da China como de "autoconfiança absoluta", reflexo da maturidade alcançada pelo país no cenário internacional. Ele destacou que o momento é histórico, marcando a transição de uma ordem global dominada por um império decadente para uma nova liderança. "Estamos presenciando mudanças não vistas nos últimos 100 anos e a China está no volante", lembrou, citando palavras do presidente Xi Jinping ao presidente russo Vladimir Putin.

Pepe Escobar também abordou o impacto do plano “Made in China 2025”, que posicionou o país entre as maiores potências em setores de alta tecnologia. “Em 2015, os chineses já tinham planejado estar entre os líderes mundiais em dez setores de alta tecnologia até 2025. E agora, chegando a 2025, eles alcançaram ou superaram as metas em quase todas as áreas”, disse.

Sobre o ambiente interno, o jornalista relatou ter encontrado um país que, mesmo após os severos lockdowns durante a pandemia, sobretudo em Xangai, retomou seu crescimento e se consolidou como centro de inovação tecnológica. Ele destacou ainda o impacto de plataformas como o Guancha, mídia independente com alcance de 200 milhões de pessoas, e ressaltou a qualidade dos jornalistas chineses: “Me impressionou muito a visão de responsabilidade histórica que eles carregam”.

A percepção da China no Ocidente e as tensões com os Estados Unidos

A entrevista também abordou o atual estado das relações sino-americanas. Escobar lembrou que o governo chinês classificou oficialmente o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, como "disseminador de fake news", após declarações infundadas sobre negociações entre os dois países. Segundo o analista, “Trump tenta vender a imagem de uma China enfraquecida, mas a realidade é o contrário: a China está cada vez mais consolidada".

Ele também comentou sobre a percepção ocidental da Huawei, enfatizando como a liderança tecnológica da empresa gerou intensa campanha de sanções e bloqueios. “Isso explica a obsessão dos Estados Unidos com a Huawei”, afirmou.

O novo triângulo de poder e a importância dos BRICS

No campo geopolítico, Escobar mencionou a formação de um “novo triângulo Primakov”, agora composto por Rússia, China e Irã. Essa aliança estratégica, segundo ele, reforça o protagonismo do chamado Sul Global, no qual o Brasil também desempenha papel central. “O Brasil, liderando o hemisfério Sul e uma parte significativa do Sul Global, terá uma oportunidade histórica com a próxima cúpula dos BRICS no Rio”, disse.

Pepe Escobar também comentou o trabalho intenso da diplomacia chinesa para fortalecer parcerias na América Latina, na África e na Ásia, com projetos como a ferrovia bioceânica e a Nova Rota da Seda. “A China é hoje o grande aglutinador do Sul Global, operando o que eles mesmos chamam de 'frente unida'”, destacou. Assista: