Rebaixamento da nota de crédito dos EUA expõe crise fiscal e ameaça crescimento econômico
Moody's cita déficits persistentes e dívida crescente. Impacto deve elevar custos de empréstimos e prejudicar o mercado imobiliário
247 - A agência de classificação de risco Moody's rebaixou a nota de crédito soberana dos Estados Unidos de Aaa para Aa1, alertando para os riscos crescentes associados à deterioração fiscal do país. A informação foi divulgada pela Xinhua e repercutida por especialistas do mercado financeiro, que apontam impactos relevantes sobre a economia norte-americana.
O rebaixamento representa a primeira vez em que as três principais agências internacionais – Moody's, S&P Global Ratings e Fitch Ratings – colocam os EUA abaixo da classificação máxima, o que indica uma quebra de confiança inédita nas finanças do governo norte-americano. A Moody’s justificou a decisão pelo aumento expressivo da dívida pública e do volume de pagamentos de juros, que, segundo a agência, “alcançaram níveis significativamente superiores aos observados em países com classificação semelhante”.
“Trata-se da continuação de uma longa tendência de irresponsabilidade fiscal, que eventualmente levará a custos de financiamento mais altos tanto para o setor público quanto para o privado nos Estados Unidos”, declarou Spencer Hakimian, fundador do fundo hedge Tolou Capital Management.
A Moody's acrescentou que “sucessivas istrações e o Congresso norte-americano falharam em alcançar acordos que revertessem os déficits fiscais anuais elevados e o crescimento das despesas com juros”.
Riscos fiscais e impacto sobre a economia real - A deterioração fiscal norte-americana já tem consequências tangíveis. O rendimento dos títulos do Tesouro norte-americano deve subir, o que pressiona também o custo dos financiamentos imobiliários, já que as taxas fixas de hipoteca nos EUA estão atreladas ao rendimento desses papéis.
Ed Yardeni, presidente da Yardeni Research, afirmou ao Business Insider que os juros dos títulos de 10 anos podem subir até 5%, à medida que se detalha o futuro da política tributária do país.
A Moody’s alertou ainda para o efeito da eventual prorrogação dos cortes de impostos implementados pelo presidente Donald Trump em 2017. Caso o Congresso mantenha essas reduções, o déficit fiscal norte-americano pode crescer em cerca de US$ 4 trilhões na próxima década. Com isso, a agência projeta que os déficits federais poderão chegar a 9% do PIB em 2035, frente aos 6,4% estimados para 2024. A dívida pública, que hoje corresponde a 98% do PIB, pode atingir 134% em pouco mais de uma década.
Efeitos sobre o crescimento e o risco de recessão - Estudos indicam que rebaixamentos na classificação de crédito soberano impactam diretamente o crescimento econômico. Pesquisa publicada no Journal of Banking & Finance mostrou que um rebaixamento de um ponto pode reduzir em cerca de 0,3% a taxa média anual de crescimento do país afetado ao longo de cinco anos.
Nos Estados Unidos, os sinais de desaceleração já se acumulam. A economia encolheu a uma taxa anualizada de 0,3% no primeiro trimestre de 2025. Apesar do alívio momentâneo após reuniões bilaterais com a China, que diminuíram tensões comerciais, analistas apontam que o risco de recessão permanece elevado.
O economista-chefe do JPMorgan nos EUA, Michael Feroli, revisou para baixo sua estimativa de recessão no país, de 60% para “abaixo de 50%”, após o encontro com autoridades chinesas. Já o bilionário Steve Cohen estimou a probabilidade de recessão em 45% e ressaltou: “Ainda não estamos em recessão, mas o crescimento está desacelerando de forma significativa”.
Além disso, o índice de preços ao produtor caiu 0,5% em abril, impulsionado pela queda na demanda por viagens aéreas e hospedagem. Porém, a inflação de curto prazo continua a preocupar: dados preliminares da Universidade de Michigan mostraram que as expectativas inflacionárias para o ano seguinte alcançaram o nível mais alto desde 1981, enquanto a confiança do consumidor caiu pelo quinto mês consecutivo.
Fragilidade estrutural e incertezas políticas - Para o estrategista global de câmbio e juros da Macquarie Group, Thierry Wizman, o enfraquecimento da confiança dos consumidores e a instabilidade nas políticas econômicas norte-americanas ainda geram incertezas profundas. “É uma questão de tarifas, mas também da fragilidade subjacente entre os consumidores dos EUA neste momento. O segundo trimestre será fraco, dadas as más expectativas e as indefinições que persistem, apesar do avanço com a China no fim de semana”, afirmou ele à CNBC.
A deterioração da credibilidade fiscal dos Estados Unidos e seus efeitos sobre a economia são sinais de que o país enfrenta desafios estruturais de longo prazo. Sem reformas capazes de conter déficits recorrentes e estabilizar o crescimento da dívida, analistas apontam que o país pode entrar em uma trajetória de crescimento lento e instabilidade macroeconômica.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: