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      Elisabeth Lopes

      Advogada, especializada em Direito do Trabalho, pedagoga e Doutora em Educação

      63 artigos

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      Mídia corporativa x cidadãs de primeira classe

      As mulheres já não vivem sob a égide patriarcal que as reduzia a uma postura de submissão diante dos homens

      Janja Lula da Silva (Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil)

      Segundo o eminente jurista Dalmo Dallari: “A cidadania expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo.”

      A partir da compreensão do jurista acerca das possibilidades de expressão da cidadania, considerei oportuno escrever sobre as divulgações reiteradas por uma concessionária pública de telecomunicação a cabo, a respeito de um fato ocorrido durante um jantar oferecido pelo presidente e pela primeira-dama da República Popular da China ao presidente e à primeira-dama do Brasil.

      Além do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de sua esposa, Janja Lula da Silva, compareceram ao jantar alguns ministros e parlamentares brasileiros.

      A partir da disseminação do fato pela âncora do programa Estúdio i, Andréia Sadi da GloboNews, qualificado como um “furo de reportagem” e assinalado como uma possível crise diplomática entre China e Brasil, a jornalista solicitou aos demais colegas da bancada que se pronunciassem a respeito do disse-me-disse. Identifico a divulgação feita pelo canal a cabo como um disse-me-disse inútil, por tratar-se de um rumor vazado por alguém que, supostamente, presenciou parte de um diálogo entre o presidente brasileiro, a primeira-dama Janja, o presidente Xi Jinping e a primeira-dama da China, Peng Liyuan, sobre a plataforma TikTok.

      Os julgamentos emitidos pelos jornalistas, além de desairosos, foram ironicamente misóginos em relação à primeira-dama brasileira, pelo fato de ela ter participado de uma conversa com os dois presidentes sobre a natureza de algumas postagens veiculadas no TikTok, que têm colocado em risco a segurança de adolescentes e crianças brasileiras.

      Em documento recente publicado pelo Ministério das Mulheres, a misoginia é definida como “o ódio contra as mulheres e a raiz de uma sociedade em que homens são valorizados e mulheres são desvalorizadas” (Disponível em: https://www.gov.br/mulheres/pt-br/central-de-conteudo). 

      Além da misoginia manifesta por jornalistas homens, o mais surpreendente foi assistir jornalistas mulheres defenderem que primeiras-damas devem se resignar a permanecer caladas ao lado de seus maridos, durante conversas entre eles, pelo fato de não terem sido eleitas para representar os interesses do povo. Em outras palavras, as jornalistas censuraram a possibilidade de uma primeira-dama exercer seu direito de fala, ainda que de forma oportuna e cabível. Justificaram que a presença delas em eventos resulta, apenas, da contingência de serem esposas de presidentes.

      Nada mais preconceituoso do que essa justificativa, sobretudo, oriunda de mulheres. Dar uma opinião ou acrescentar informações a um assunto tratado por seus maridos não significa fazer a gestão por eles. O sentido maior é que elas são cidadãs e, nessa qualidade, não só podem, como devem exercer “a possibilidade de participar ativamente da vida e do governo de seu povo”, como assinalou o jurista Dallari. No fato em tela, explorado exaustivamente pela mídia corporativa, a primeira-dama Janja foi convidada pelo presidente Lula a complementar o tema abordado por ele em conversa com o presidente Xi Jinping.

      As primeiras-damas não são figuras ornamentais ou meras acompanhantes de seus maridos. Desde que não interfiram nos atos que competem exclusivamente às atribuições dos mandatos de seus companheiros, não há impeditivo protocolar que as impeça de participar de diálogos com eles.

      Em grande escala as mulheres já não vivem sob a égide patriarcal que as reduzia a uma postura de submissão diante dos homens. A partir da luta histórica das mulheres por emancipação, representatividade, conquistas políticas e sociais, é inaceitável, em pleno século XXI, assistir a uma coletânea de comentários discriminatórios à primeira-dama brasileira, vindos de prepostos dos donos dos conglomerados midiáticos tradicionais. Entretanto, há sociedades em que os valores patriarcais e dogmas religiosos ainda predominam nas relações entre homens e mulheres.

      Com temas extremamente relevantes ocorridos durante a visita do governo brasileiro ao país asiático que deveriam ser divulgados com mais ênfase pelo referido canal, como a de 36 acordos firmados pelo Brasil em parceria com a China, além de um vasto plano de cooperação que abrange diversos tópicos essenciais para o desenvolvimento dos dois países, a mídia corporativa continuou insistindo na divulgação de um vulgar disse-me-disse.

      Nesta semana, em 19/05/2025, o canal reacendeu a mesma cantilena misógina no programa GloboNews Mais, a partir de uma declaração emitida pela primeira-dama Janja em um evento do Ministério dos Direitos Humanos de enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes, em que ela afirmou:

      “Não há protocolo que me faça calar se eu tiver uma oportunidade de falar sobre isso com qualquer pessoa que seja, do maior grau ao menor grau, do mais alto nível a qualquer cidadão comum […] Eu quero dizer que a minha voz vocês podem ter certeza que vai ser usada para isso (combate à violência sexual contra menores) […] E foi para isso que ela foi usada na semana ada quando eu me dirigi ao presidente Xi Jinping após a fala do meu marido sobre uma rede social […] Como mulher, não ito que alguém me diga que eu tenho que ficar calada. Eu não me calarei quando for para proteger a vida das nossas crianças e dos nossos adolescentes.”

      Novamente encenaram um show de julgamentos e misoginia sobre Janja, pelo fato narrado, à boca pequena, por um informante (alguém da comitiva brasileira) aos informados (jornalistas da TV a cabo).

      No dia seguinte, em 20/05/2025 pela manhã, voltaram a abordar o tema no programa Conexão GloboNews, com mais comentários críticos sobre a primeira-dama, desta vez por duas jornalistas que, costumeiramente, criticam os atos do governo Lula. Apesar da desfaçatez proposital dessa pauta, ela tem sido repetida desde a semana ada ao longo da programação do canal.

      Os veículos dessa mídia inculta, preconceituosa, sinônimo do profundo atraso reacionário dominante no país, têm aproveitado qualquer circunstância para distorcer situações que envolvam os governos progressistas. Tem sido assim desde 2002, quando o PT venceu as primeiras eleições para a Presidência da República. Foi assim durante o apoio explícito ao indevido impeachment da presidenta Dilma e nas eleições presidenciais de 2018, quando um dos jornais dessa mídia corrompida afirmou que a escolha entre os candidatos Bolsonaro e Haddad se tratava de uma “escolha difícil” (Opinião do Estadão- Jornal Estado de São Paulo, 2018).

      Aliados às mentiras produzidas diariamente nas redes sociais pela extrema-direita e direita escatológicas, os canais de televisão e jornais panfletários se locupletam ao se insurgirem contra o governo Lula, numa linha falsa de transparência e de verdade.

      Temas que ainda assombram todos os governos, sejam eles de direita ou de esquerda, como casos de corrupção que persistem nas instituições públicas, são frequentemente atribuídos unilateralmente pela mídia hegemônica às istrações de esquerda.

      Foi assim durante as coberturas intermitentes da Operação Lava Jato, coordenada por um ex-juiz posteriormente declarado suspeito, que agia em conluio com membros do Ministério Público e, juntos, corrompiam, a cada ato, o devido processo legal.

      Atualmente, o foco recai sobre os inissíveis descontos ilegais aplicados nos benefícios de aposentados e pensionistas do INSS, uma prática que remonta aos anos 1990, mas que, segundo a narrativa predominante na mídia corporativa, só ganha destaque quando ocorre sob o governo Lula. A mídia, em suas investidas maliciosas, não ressalta que foi apenas neste governo que se determinou uma rigorosa investigação pela Polícia Federal sobre os descontos indevidos, entre outras medidas que visam inibir a ocorrência de crimes relacionados aos benefícios pagos pela autarquia.

      Quando não conseguem apontar falhas nos êxitos do governo Lula no campo do desenvolvimento econômico, nas políticas públicas voltadas à redução das desigualdades sociais, ou nos indicadores irrefutáveis que posicionam o Brasil de forma vantajosa em rankings internacionais, os grandes veículos recorrem a críticas infundadas. Tudo isso com o claro objetivo de manipular a opinião pública e influenciar os rumos do país.

      Por fim, é imprescindível destacar um dos atos mais misóginos desta semana, expresso pelo “grilo falante” dos Marinhos, o medíocre e insignificante Merval Pereira, motivo de desprezo por parte de brasileiros conscientes, por ter sido, em um dia de absoluto equívoco, eleito imortal da Academia Brasileira de Letras. Além de não saber se expressar com clareza e fluidez, talvez por suas limitações em diversos aspectos do saber, este senhor teve a ousadia de referir-se à ex-presidenta Dilma Rousseff, atual presidente do Banco dos BRICS, como “a mulher de Lula” no programa Estúdio i. Com esse comentário, esse falso imortal ecoa seu desprezível lugar de fala que, com toda a certeza, situa-se na lama.

      Essa mídia, mantida pela chamada “elite do atraso”, que silencia jornalistas mulheres diante de impropérios machistas proferidos por colegas, levando-as a reproduzir preconceitos contra sua própria condição feminina, guiadas pela cartilha de submissão aos interesses da mídia que as controla, que conspira diuturnamente contra as ações dos governos progressistas, que prioriza o jornalismo que lhe convém, tem como maior refém o próprio povo brasileiro, que, em larga medida, acaba sucumbindo a mentiras que parecem verdades.

      Apesar das mazelas deste país, vivemos realidades opostas: ao mesmo tempo em que temos uma mídia hegemônica que nos envergonha, contamos com uma mídia progressista que nos alenta. Temos mulheres e homens exponenciais que dignificam o país. Nossa homenagem póstuma ao grandioso fotógrafo brasileiro, Sebastião Salgado, morto na véspera da publicação deste texto. 

      Salgado lia através das lentes de sua máquina fotográfica os sentidos do humano, dos animais e demais bens da natureza. 

      Como ele disse uma vez: “É preciso ter paciência para esperar o que vai acontecer. Pois algo vai acontecer, necessariamente. Na maioria dos casos, não há como acelerar os fatos. É preciso descobrir o prazer da paciência”. Que tenhamos a paciência dos brilhantes fotógrafos! 

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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