Trump usa criptomoedas para enriquecer e fortalecer influência política, aponta jornalista e pesquisador
Zeke Faux revela que família do presidente dos EUA já embolsou US$ 700 milhões com tokens, NFTs e moeda estável ligada a interesses estrangeiros
247 - Em entrevista ao apresentador e colunista político Ezra Klein em seu canal no YouTube, o jornalista e pesquisador Zeke Faux detalhou como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, construiu um império bilionário no universo das criptomoedas, transformando tokens digitais, NFTs e moedas digitais em instrumentos de arrecadação financeira e influência política.
Faux destacou que a família Trump já teria embolsado ao menos US$ 700 milhões com esses ativos, operando "numa zona cinzenta entre o legal e o escandalosamente corrupto".
“É difícil para o sistema político, até mesmo para a mídia, saber o que fazer quando a corrupção acontece de forma tão explícita”, afirmou Ezra Klein na abertura do programa. A frase define o tom de um escândalo cuja escala — financeira e institucional — parece sem precedentes nos Estados Unidos.
De crítico feroz a entusiasta lucrativo
Durante seu primeiro mandato, Trump se posicionou contra as criptomoedas. Em 2019, afirmou que o Bitcoin era “altamente volátil” e uma “fraude contra o dólar”. Seu governo, à época, moveu ações contra grandes players do setor, por meio da SEC, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA.
Mas tudo mudou após sua saída da presidência, em 2021. Com dificuldades financeiras, Trump lançou uma série de NFTs que o retratavam como super-herói, caçador e astronauta. Cada imagem custava US$ 99 e, segundo Faux, o ex-presidente lucrou cerca de US$ 20 milhões com o projeto. Em eventos realizados em Mar-a-Lago para compradores dos cartões, Trump ou a adotar discurso favorável às criptos: “Mais e mais eu sou a favor”, declarou.
A guinada se consolidou com a criação da World Liberty Financial, plataforma cripto promovida como uma alternativa aos “bancos lentos e ultraados”. Trump aparece como “chief crypto advocate”, enquanto Eric, Don Jr. e Barron Trump ocupam posições de “embaixadores Web3”.
O negócio, no entanto, está longe de ser transparente. Os tokens da World Liberty não podem ser revendidos e 75% de toda a receita gerada — incluindo futuras operações — é destinada diretamente à família Trump. Os principais articuladores do projeto são Chase Hero, que se autointitula o “lixo da internet”, e Zachary Folkman, ex-palestrante de seminários sobre relacionamentos.
Apesar do caráter duvidoso, o empreendimento foi alavancado por uma compra pública de US$ 75 milhões feita por Justin Sun, bilionário chinês acusado pela SEC de irregularidades com criptoativos. Após a aquisição, o caso contra Sun foi surpreendentemente arquivado, sem explicações oficiais. Ele ainda adquiriu mais US$ 45 milhões em tokens posteriormente.
Memecoin e leilão de influência
Em janeiro de 2025, três dias antes de tomar posse para o segundo mandato, Trump lançou seu próprio memecoin: TrumpCoin. Com estrutura puramente especulativa, o ativo valorizou-se de forma meteórica e ou a ser usado como aporte para jantares exclusivos com o presidente. Para integrar o seleto grupo dos 25 maiores detentores do coin, o investimento necessário girava em torno de US$ 2 milhões.
A nova moeda é vendida em lotes. Trump já comercializou 200 milhões de unidades por cerca de US$ 300 milhões, mantendo 80% dos ativos, o equivalente a cerca de US$ 10 bilhões, caso os preços se sustentem.
O banco paralelo do presidente
Em março, foi anunciada a USD1, uma moeda estável (stablecoin) vinculada a dólares reais, também sob a bandeira da World Liberty Financial. Um fundo ligado a Abu Dhabi anunciou a compra de US$ 2 bilhões em USD1, que seriam destinados a investimentos na Binance, a maior exchange de criptos do mundo. A operação, segundo Faux, pode render aos Trump até US$ 50 milhões por ano em juros, considerando as regras de remuneração da World Liberty.
O beneficiário indireto da operação é Changpeng Zhao (CZ), fundador da Binance e ex-prisioneiro nos EUA, acusado de facilitar transações para criminosos e grupos sancionados. CZ nega envolvimento com a World Liberty, embora tenha se reunido com representantes da empresa e busque um indulto presidencial.
Risco de captura institucional
Zeke Faux conclui que a família Trump transformou o ecossistema cripto em uma nova via de captura de influência: “Descobriram uma forma de permitir que atores estrangeiros façam pagamentos que seriam ilegais se feitos a uma campanha, mas que se tornam válidos quando direcionados a seus projetos em blockchain”.
Com isso, decisões regulatórias am a depender de atores diretamente interessados na preservação desses negócios. Logo após assumir a presidência, Trump indicou que memecoins seriam tratados como colecionáveis — afastando-os das regras da SEC. “É difícil imaginar que um Congresso dominado por seu partido vá aprovar algo que prejudique o ‘coin’ do presidente”, ironiza Faux.
A utopia cripto desfigurada
Para Ezra Klein, o caso Trump representa a deformação final da promessa libertária que fundou o universo cripto: “Antes, era sobre descentralização e combate ao poder. Agora, é sobre criar um ativo e vendê-lo para quem quiser comprar o político”.
A família Trump já teria lucrado ao menos US$ 700 milhões com suas iniciativas, segundo estimativas de Faux. “Como disse Eric Trump, ‘é uma das coisas mais bem-sucedidas que já fizemos’”.
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