Japão busca fortalecer laços com China diante de tarifas dos EUA, diz especialista
Para professor Hiroshi Shiratori, Tóquio deve agir com firmeza contra medidas protecionistas de Washington e aprofundar cooperação regional
247 - Diante da intensificação das ameaças tarifárias dos Estados Unidos, cresce no Japão o debate sobre a necessidade de fortalecer a cooperação econômica com a China.
Em entrevista exclusiva ao jornal chinês Global Times, o cientista político Hiroshi Shiratori, professor da Universidade Hosei, em Tóquio, defendeu uma postura mais assertiva de seu país nas negociações com Washington e destacou a relevância de ampliar os laços com Pequim em um contexto de crescentes incertezas na ordem econômica global.
“Japão deveria responder às ameaças tarifárias dos EUA com firmeza, assim como a China tem feito”, afirmou Shiratori, referindo-se ao recente encontro econômico-comercial entre representantes chineses e norte-americanos em Genebra.
Segundo a agência Reuters, o principal negociador comercial japonês, Ryosei Akazawa, deve retornar aos Estados Unidos nesta sexta-feira para a quarta rodada de diálogos bilaterais. Até o momento, já ocorreram três encontros. Conforme revelou a Kyodo News, Washington recusou conceder ao Japão isenção total tanto da tarifa “recíproca” de 10% quanto de tarifas específicas impostas ao país.
Alerta contra submissão às exigências dos EUA
Embora reconheça a aliança estratégica entre Tóquio e Washington, Shiratori alerta para os riscos de uma postura submissa frente ao governo norte-americano. “Aceitar demandas de maneira iva torna difícil proteger os interesses econômicos e o desenvolvimento de longo prazo do Japão”, afirmou o especialista, que também é comentarista político.
Para ele, manter princípios sólidos na mesa de negociações é essencial em um cenário global marcado por políticas comerciais protecionistas adotadas pelos Estados Unidos. Nesse sentido, o Japão deveria buscar alternativas regionais que garantam sua inserção no comércio internacional e reforcem sua estabilidade econômica.
Cooperação regional como estratégia contra incertezas
Shiratori ressalta que, enquanto a China tem promovido a Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI), voltada à integração por meio de infraestrutura, comércio e investimento com países da Ásia, Europa e do Sul Global, o Japão tem apostado no Acordo Abrangente e Progressivo para a Parceria Transpacífica (TPP) para estreitar laços na região Ásia-Pacífico. Já os países europeus, afirma, vêm investindo na integração via União Europeia como resposta ao cenário econômico internacional instável.
Para o professor, “o Japão voltou a reconhecer a importância de cooperar com a China para defender o livre comércio e enfrentar as incertezas causadas pelas ações dos Estados Unidos”.
Papel global e estabilidade das cadeias produtivas
O acadêmico defende que o Japão exerça um papel mais ativo na governança econômica mundial, aproveitando sua posição no TPP e buscando colaborações com China, Europa e outras economias relevantes. “Ao fortalecer a cooperação com economias-chave, o Japão pode ter um papel ativo na estabilização das cadeias industriais e de suprimento globais e na promoção da recuperação e do desenvolvimento econômico sustentáveis”, observou.
Ele também destacou o compromisso da China com o sistema de comércio multilateral e a defesa da cooperação aberta como uma diretriz útil para o Japão e a Europa na promoção de um ambiente econômico global mais equilibrado.
Vizinhança estratégica
Para além dos aspectos econômicos, Shiratori sublinhou a importância da proximidade geográfica e dos laços históricos entre China e Japão como alicerces para uma relação mais profunda. “Não apenas o Japão, mas o mundo inteiro precisa considerar como se proteger das incertezas causadas pelo governo dos EUA”, advertiu. E completou: “Diferentemente dos EUA, Japão e China são vizinhos com proximidade geográfica e laços históricos profundos. Além da esfera econômica, os dois países podem expandir ainda mais os intercâmbios culturais e interpessoais, construindo uma relação ainda mais próxima”.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: