Harvard: a hora limite de sono por noite que pode dobrar risco de Alzheimer
Uma das descobertas mais alarmantes vem de um estudo canadense publicado na revista Science Advances
247 - Uma rotina de sono desregulada, especialmente dormir menos de cinco horas por noite, pode ter consequências sérias para o cérebro — inclusive aumentar significativamente o risco de desenvolver Alzheimer. É o que mostram estudos recentes realizados por instituições de renome, como a Universidade de Harvard, a Universidade de Toronto e o CONICET, na Argentina. A reportagem é do jornal O Globo.
O alerta não é novo, mas tem ganhado mais força com o avanço da chamada “medicina do sono”. Segundo o médico Daniel Cardinali, professor emérito da Universidade de Buenos Aires (UBA) e pesquisador do CONICET, o sono desempenha um papel crucial no equilíbrio de todo o organismo. “Esta é uma etapa fundamental para a manutenção do equilíbrio, não apenas do cérebro, mas de todo o corpo. A homeostase — a capacidade do organismo de manter a estabilidade interna e responder a estímulos externos — depende inteiramente da qualidade do sono”, afirma.
Uma das descobertas mais alarmantes vem de um estudo canadense publicado na revista Science Advances. Os cientistas demonstraram que a privação de sono impede o cérebro de realizar uma espécie de “limpeza” de resíduos, o que leva ao acúmulo de substâncias semelhantes a placas — como a beta-amiloide — associadas à demência. “Tomamos banho em horários diferentes do dia, mas o cérebro o faz durante a fase de sono de ondas lentas... ocorre um processo de fluxo glinfático, no qual uma corrente flui através do tecido cerebral da porção arterial para a venosa para eliminar resíduos”, explica Cardinali.
Essa “faxina cerebral” é essencial para evitar o acúmulo de proteínas tóxicas, como a Tau e a já mencionada beta-amiloide, ligadas ao desenvolvimento de doenças neurodegenerativas. Quando o sono é interrompido ou insuficiente, essas proteínas não são eliminadas de forma eficiente, o que pode desencadear processos inflamatórios crônicos no cérebro.
Andrew Lim, neurologista da Universidade de Toronto e um dos autores do estudo, confirma que “os participantes que acordavam com frequência durante a noite ou tinham sono fragmentado demonstraram pior desempenho cognitivo nos testes”. Mais do que isso: os que dormiam melhor apresentaram células imunológicas cerebrais mais jovens e menos ativadas, o que os protegeu contra os efeitos da doença de Alzheimer.
Harvard também contribuiu com dados significativos. Um levantamento feito pela Escola de Medicina da universidade com mais de 2.800 idosos revelou que pessoas que dormiam menos de cinco horas por noite tinham o dobro de chances de desenvolver Alzheimer e morrer em comparação com aquelas que dormiam de seis a oito horas. Já um estudo europeu com 8 mil indivíduos mostrou que manter esse padrão de sono reduzido dos 50 aos 70 anos está associado a um aumento de 30% no risco de demência.
Apesar do cenário preocupante, especialistas defendem que nem tudo está perdido. De acordo com Andrew E. Budson, neurologista do Boston VA Healthcare System, há maneiras de reverter ou ao menos reduzir esse risco com mudanças no estilo de vida. Em artigo de opinião, ele citou um estudo conjunto das universidades de Toronto e Chicago, que mostrou melhora significativa em indivíduos com predisposição genética ao Alzheimer após a adoção rigorosa de práticas de higiene do sono. “Nem tudo são más notícias”, escreve Budson.
Entre as práticas recomendadas pela World Sleep Society para uma boa higiene do sono estão manter horários regulares para dormir e acordar, evitar álcool e nicotina antes de dormir, escolher alimentos leves à noite, manter o quarto ventilado e escuro e bloquear ruídos externos.
Por fim, Cardinali destaca que o mais importante não é apenas o número de horas dormidas, mas a qualidade do estado de vigília — ou seja, como a pessoa se sente e se comporta ao longo do dia. “Após a pandemia, ficou claro que não é tão claro que uma pessoa precise dormir um certo número de horas dependendo da sua idade. Portanto, o único elemento que precisa ser avaliado é a qualidade da vigília: se for adequada, a qualidade do sono também será adequada”, conclui.
A mensagem é clara: dormir bem não é um luxo — é uma necessidade vital para proteger o cérebro, preservar a memória e garantir saúde mental e física ao longo dos anos.
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