Trump está destruindo a democracia nos Estados Unidos, aponta especialista
“Estamos enfraquecendo nossa própria capacidade de governar e exercer influência no mundo. É como um suicídio coletivo”, diz Steven Levitsky
247 – O cientista político Steven Levitsky, professor da Universidade de Harvard e um dos autores do best-seller Como as democracias morrem, afirmou em entrevista ao jornal Valor Econômico que os Estados Unidos estão perdendo sua democracia sob o segundo mandato de Donald Trump. “Acho que estamos perdendo nossa democracia, mas a maioria dos cidadãos não percebe isso”, declarou, em entrevista ao Valor.
Desde o lançamento do livro em 2018, Levitsky e seu coautor, Daniel Ziblatt, alertavam para o risco de líderes autoritários eleitos democraticamente que corroem instituições sem tanques ou golpes, explorando as brechas do sistema. No entanto, o que antes era um alerta hoje se tornou realidade, segundo o pesquisador. “A trumpização do Partido Republicano é uma das mudanças mais drásticas que não previmos. Hoje, Trump controla o partido como Erdogan controla o AKP, como Orban controla o Fidesz”, disse Levitsky.
O especialista afirmou que Trump se encaixa em todos os quatro indicadores de autoritarismo descritos em seu livro — rejeição das regras democráticas, negação da legitimidade dos oponentes, tolerância à violência e disposição para restringir liberdades civis. Além disso, ele alerta que o ex-presidente cercou-se apenas de aliados leais, eliminando qualquer elemento de contenção institucional dentro de seu próprio governo.
Levitsky classificou como “catastrófica” a onda de demissões no serviço público promovida pelo atual governo. Segundo ele, figuras influentes como Elon Musk e membros do chamado grupo DOGE estão promovendo um desmonte deliberado do Estado. “Estamos enfraquecendo nossa própria capacidade de governar e exercer influência no mundo. É como um suicídio coletivo”, afirmou.
A ordem internacional baseada em regras, construída após a Segunda Guerra Mundial, também estaria sob ameaça. “Este governo é mais simpático ao regime russo do que ao governo canadense ou alemão”, alertou Levitsky, apontando um risco real de rompimento das alianças tradicionais dos EUA com outras democracias.
A Universidade de Harvard, onde leciona, tornou-se um dos alvos do governo Trump. Sob o pretexto de combater o antissemitismo, o governo tem pressionado a instituição com cortes de rees e tentativas de interferência no conteúdo acadêmico, especialmente em temas relacionados à Palestina. “A liberdade de expressão foi extinta para estrangeiros. Muitos acadêmicos vivem hoje com medo real de represálias ou deportação”, relatou.
Apesar do cenário sombrio, Levitsky ainda vislumbra resistência institucional. Ele ressalta que, embora o Congresso tenha se omitido e o Partido Democrata esteja enfraquecido, os tribunais continuam sendo uma barreira fundamental — ainda que insuficiente — contra a escalada autoritária. “Trump entrou em muitas brigas e sua popularidade está caindo. A incompetência e o radicalismo podem ser sua ruína”, concluiu.
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