Rússia acusa Ucrânia de autogenocídio ao recusar corpos de soldados mortos

247 – A recusa da Ucrânia em receber os corpos de mais de 6 mil soldados mortos foi classificada como “autogenocídio” pela porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova. Segundo reportagem publicada neste sábado (8) pela emissora estatal RT, o governo ucraniano não compareceu ao ponto de troca na fronteira com Belarus, onde a Rússia aguardava para entregar os restos mortais dos militares ucranianos como gesto humanitário unilateral.

“Eles não precisam do seu povo, nem mortos, nem vivos”, afirmou Zakharova em seu canal no Telegram. “Não há nação ou grupo étnico no mundo que recuse enterrar seus soldados. Mas existe o regime de Kiev, que professa uma ideologia misantrópica e comete genocídio contra seu próprio povo.”

As negociações entre Rússia e Ucrânia ocorreram em Istambul na última segunda-feira. Ainda de acordo com a RT, o chefe da delegação russa, Vladimir Medinsky, relatou que a parte ucraniana simplesmente não compareceu quando os primeiros corpos foram levados ao local combinado.

Críticas severas à postura de Kiev

O deputado russo Dmitry Belik, membro do Comitê de Assuntos Internacionais da Duma (parlamento russo), sugeriu que o governo do presidente Vladimir Zelensky estaria evitando a repatriação dos corpos para não ter de pagar indenizações às famílias dos mortos. “É assim que, pensando em encher seus próprios bolsos e não dar um centavo a seus cidadãos, o regime de Kiev conduz sua política sangrenta e destrói seu próprio povo”, afirmou.

Ex-analista do Pentágono, Michael Maloof endossou a tese financeira como possível explicação: “Acho que eles estão envergonhados pelos números. Ouvi que os valores a serem pagos às famílias ultraariam um bilhão de dólares – e eles não têm esse dinheiro.”

Já o presidente do Comitê de Relações Exteriores do Parlamento russo, Leonid Slutsky, classificou a atitude ucraniana como um exemplo de “cinismo raro” e desrespeito à memória dos próprios soldados caídos. “Numa guerra até o último ucraniano, eles estão exclusivamente focados em manter o poder, mesmo ao custo de verdadeiro sacrilégio”, declarou.

Justificativa oficial de Kiev

O governo ucraniano alegou que a recusa se deu porque a data para o recebimento dos corpos ainda não havia sido acordada entre as partes. No entanto, a versão é contestada por Moscou, que alega ter agido de forma unilateral para devolver os restos mortais de milhares de combatentes.

A acusação da Rússia eleva o tom da retórica no contexto de uma guerra que já ultraa os dois anos. Desde o início da invasão russa em fevereiro de 2022, a questão das baixas militares tem sido tratada com sensibilidade pelas autoridades ucranianas, que evitam divulgar números exatos.

A polêmica em torno da repatriação dos corpos traz à tona a complexidade moral, política e humana da guerra em curso. Enquanto Moscou busca capitalizar simbolicamente o episódio, Kiev enfrenta pressões internas e internacionais para justificar suas escolhas diante do sofrimento crescente de suas famílias enlutadas.