Organizações regionais da África dialogam em busca de nova relação depois das mudanças nos países do Sahel
Encontro em Bamako, Mali, inaugura diálogo entre países da África Ocidental
247 - Em meio a crescentes mudanças geopolíticas na África Ocidental, a Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) e a Aliança dos Estados do Sahel (AES) dialogam em busca de um equilíbrio na região. O sinal mais recente desse movimento foi o encontro realizado em Bamako, capital do Mali, entre representantes das duas organizações — uma reunião considerada por analistas como um o importante rumo ao diálogo e à redefinição dos papéis regionais. A informação é da Sputnik África.
“A reunião marca o início de um diálogo”, avaliou Ibrahim Salifou, especialista em relações internacionais ouvido pela Sputnik. Para ele, o fortalecimento da AES, fundada em 2023 por Mali, Burkina Faso e Níger após suas respectivas saídas da CEDEAO, representa um desafio direto ao modelo até então liderado pela comunidade regional tradicional.
A AES tem se firmado com uma proposta de governança soberana, ancorada na recusa de interferências externas e de políticas ditadas por antigos centros de poder, como a França e os Estados Unidos. Essa postura crítica ao neocolonialismo atraiu apoio popular em vários setores da sociedade civil e das forças armadas locais, o que tem contribuído para sua rápida consolidação.
“Em termos de equilíbrio de poder, a CEDEAO está atrás da AES, que está ganhando mais força na sub-região”, analisou Salifou. Ele acredita que, embora em desvantagem, ainda não é tarde para a CEDEAO adotar uma nova postura mais alinhada aos anseios populares. “A CEDEAO deve ser libertada da arregimentação em que foi mergulhada pelo imperialismo. Ambas as organizações devem compartilhar a mesma visão, que defenda os interesses do povo”, afirmou o especialista.
Criada em 1975, a CEDEAO reúne atualmente 15 países-membros e tem como missão promover a integração econômica e política da África Ocidental. Entretanto, nos últimos anos, a organização tem enfrentado críticas por sua submissão a interesses estrangeiros e sua atuação em crises internas, como nas intervenções contra golpes de Estado.
Já a AES surgiu como uma resposta a essas críticas. Os três países fundadores da aliança romperam com a CEDEAO após sanções e ameaças de intervenção militar, especialmente após as mudanças de governo conduzidas por juntas militares. Desde então, a AES tem adotado uma retórica de soberania, cooperação regional baseada na autodeterminação e fortalecimento da segurança interna.
O encontro em Bamako não apenas abriu um canal de diálogo institucional entre CEDEAO e AES, como também evidenciou a nova correlação de forças no continente. Embora nenhuma medida concreta tenha sido anunciada até o momento, a movimentação diplomática é vista como um primeiro sinal de que a CEDEAO pode estar disposta a rever seus posicionamentos.
A disputa por legitimidade e influência entre as duas entidades reflete um momento decisivo para o futuro da integração regional na África Ocidental. A capacidade da CEDEAO de se adaptar às novas dinâmicas políticas será determinante para sua sobrevivência como liderança regional. A AES, por sua vez, parece consolidar-se como porta-voz de um novo tempo, em que a soberania dos povos africanos a a ser a principal bandeira.
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