Marco Rubio defende revogação agressiva de vistos de estudantes chineses nos EUA
Medida promovida pelo governo Trump gera críticas de especialistas e ameaça intercâmbio acadêmico e avanço tecnológico norte-americano
247 - Uma nova ofensiva do governo dos Estados Unidos contra a China provocou reações contundentes de acadêmicos e especialistas em relações internacionais. Segundo reportagem publicada pelo Politico nesta quarta-feira (28), o senador Marco Rubio afirmou que o país irá “revogar agressivamente” os vistos de estudantes chineses como parte de uma política de segurança nacional, em alinhamento com a estratégia do presidente Donald Trump de endurecer as regras para estrangeiros em universidades americanas.
A decisão, que está sendo justificada como uma resposta a riscos de “espionagem não tradicional”, já começou a impactar a vida acadêmica. O governo pausou entrevistas para novos requerentes de visto estudantil enquanto avalia ampliar a triagem de redes sociais como parte do processo. Além disso, Trump sugeriu estabelecer um teto de 15% para o número de estudantes internacionais em Harvard — uma universidade que tem sido particularmente visada por seu governo, acusado de ser excessivamente “liberal” ou “antissemita”.
A medida foi criticada por acadêmicos influentes. Mary Gallagher, reitora da Keough School of Global Affairs da Universidade de Notre Dame e especialista em política chinesa, declarou: “o governo dos EUA precisa levar em consideração os riscos de espionagem não tradicional, mas a forma como estão traçando essas fronteiras é ampla demais e mal definida. Todas as universidades na China, de alguma forma, estão ligadas ao Partido Comunista Chinês, então isso me parece um exagero e prejudicial não apenas para o intercâmbio educacional entre EUA e China, mas também para a competitividade científica e tecnológica dos EUA”.
Stephen Orlins, presidente do Comitê Nacional de Relações EUA-China, ressaltou o impacto econômico negativo: “se você andar pelo Vale do Silício, verá milhares de estudantes chineses ou ex-estudantes chineses fazendo contribuições enormes aos Estados Unidos, ao nosso empreendedorismo. Revogar seus vistos cortará essa fonte e criará danos de longo prazo aos Estados Unidos”.
O movimento ocorre em meio a uma série de iniciativas legislativas. A Câmara dos Representantes aprovou recentemente um projeto de lei que impede o financiamento do Departamento de Segurança Interna para universidades americanas que mantêm parcerias com instituições chinesas ligadas ao aparato de segurança de Pequim — classificação que atinge até universidades de prestígio como Duke.
A política de restrição aos estudantes chineses revive ecos da controversa “Iniciativa China”, lançada no primeiro mandato de Trump e encerrada posteriormente após acusações de preconceito racial e investigações mal conduzidas contra acadêmicos chineses.
Apesar das críticas, parlamentares republicanos reforçaram apoio à medida nas redes sociais. A senadora Ashley Moody (Flórida) afirmou no X: “América primeiro. Os EUA não estão mais no negócio de importar espionagem. Essa é uma grande liderança de @SecRubio e @POTUS”.
O senador Jim Banks (Indiana) também ecoou o slogan: “américa primeiro. O que vocês achavam que isso significava? Vibes? Trabalhos acadêmicos? Redações?”, escreveu, em tom provocador. O deputado Riley Moore (Virgínia Ocidental) endossou a mesma linha de pensamento.
Os estudantes internacionais representam uma parte significativa da economia educacional norte-americana. Somente no ano letivo de 2023-2024, eles contribuíram com US$ 43,8 bilhões e sustentaram quase 400 mil empregos. A retórica e as ações da Casa Branca sob Trump, incluindo congelamento de bilhões em recursos federais para universidades acusadas de liberalismo excessivo, indicam uma guinada agressiva contra a presença estrangeira no sistema de ensino superior dos EUA.
As consequências podem ser duradouras. Além de afetar diretamente o financiamento das universidades, o isolamento de talentos internacionais ameaça minar a própria base de inovação que historicamente impulsionou o avanço tecnológico dos Estados Unidos. A nova política, longe de ser apenas uma resposta de segurança, parece ser também uma guerra ideológica contra as instituições acadêmicas e a globalização educacional.
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