EUA: Cortes de Trump favorecem ricos e penalizam trabalhadores com gorjetas, dizem estudos
Medida pode aumentar a desigualdade e retirar benefícios de milhões, segundo projeções orçamentárias
247 - O pacote de corte de impostos impulsionado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deve trazer ganhos limitados para a população de baixa renda, segundo especialistas.
A proposta inclui a isenção de imposto federal sobre gorjetas, apresentada como um alívio para trabalhadores da classe média, mas que, na prática, beneficiaria apenas uma pequena fração de profissionais como garçons, cabeleireiros e bartenders.
“A medida parece ajudar, mas muitos desses trabalhadores já não pagam imposto de renda por estarem abaixo da faixa de contribuição”, explicou Martha Gimbel, diretora do Laboratório de Orçamento da Universidade de Yale. Ela acrescentou: “Se você está pensando em coisas que poderiam ajudar trabalhadores de baixa renda, 'nenhum imposto sobre gorjetas' não estaria no topo da minha lista”.
A Câmara dos Representantes aprovou no mês ado o projeto que permite deduzir gorjetas da renda bruta anual de trabalhadores que ganham até US$ 160 mil, até o ano de 2029. Apesar da dedução, as gorjetas continuam sujeitas às contribuições previdenciárias e ao Medicare.
O plano é parte de uma ofensiva mais ampla do Partido Republicano para tornar permanentes os cortes de impostos implementados por Trump em 2017 e promover novas deduções, como para horas extras e juros sobre financiamentos de veículos.
Jason Smith, presidente republicano do Comitê de Recursos e Meios da Câmara, defendeu a proposta. “Taxas de impostos permanentemente mais baixas e uma dedução padrão dobrada, combinadas com a isenção de impostos do presidente Trump sobre gorjetas, horas extras e juros de financiamento de veículos, ajudarão os trabalhadores a pagarem um teto sobre suas cabeças, comida para suas famílias e a construir sua segurança financeira e riqueza.”
Contudo, segundo o Laboratório de Orçamento de Yale, 37% dos trabalhadores que recebem gorjetas já não pagam imposto de renda. No total, esse grupo representa cerca de 2,5% dos trabalhadores norte-americanos.
A medida custaria quase US$ 40 bilhões aos cofres públicos até 2028, segundo estimativa do Comitê Tributário Conjunto do Congresso. E os ganhos obtidos com a isenção podem ser anulados por perdas em áreas como saúde e alimentação.
Estudo do Modelo Orçamentário da Universidade da Pensilvânia (Penn Wharton) estimou que o projeto reduziria em US$ 1.500 a renda líquida de famílias com rendas anuais abaixo de US$ 22 mil, enquanto famílias que ganham mais de US$ 5,2 milhões veriam um acréscimo de US$ 104 mil.
Além disso, analistas alertam que os cortes de impostos vêm acompanhados de uma redução significativa nos programas sociais. O Escritório de Orçamento do Congresso (CBO) projeta que 8,7 milhões de americanos de baixa renda perderão cobertura de saúde devido a restrições ao Medicaid e ao Affordable Care Act.
Há ainda novas exigências para o crédito tributário infantil, que, apesar de ter valor aumentado temporariamente, a a demandar número de Seguro Social dos filhos — o que deve excluir 4,5 milhões de crianças. O crédito tributário para renda auferida, importante para famílias trabalhadoras, também terá regras mais rígidas.
Cortes no financiamento e no corpo técnico da Receita Federal americana (IRS) também devem dificultar o o da população mais pobre aos novos mecanismos tributários.
No fim das contas, a proposta pode ampliar desigualdades. O Modelo Orçamentário da Penn Wharton calcula que famílias de baixa renda teriam uma perda vitalícia de US$ 8.500 por causa da deterioração da rede de proteção social e do aumento da dívida pública, que deve crescer US$ 3,8 trilhões e alcançar US$ 36,2 trilhões. Enquanto isso, famílias ricas podem acumular ganhos de até US$ 17.800.
“Vocês estão herdando essa dívida maior, esse fardo maior. Alguém tem que pagar por isso”, concluiu Kent Smetters, diretor do modelo orçamentário.
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