Trump dobra tarifas sobre aço e alumínio, preços disparam nos EUA e ações de siderúrgicas estrangeiras despencam
Alta nas tarifas, que sobem para 50% a partir de 4 de junho, amplia guerra comercial e afeta duramente produtores da Europa e da Ásia
Reuters - Os preços do aço e do alumínio dispararam nos Estados Unidos após o presidente Donald Trump anunciar a duplicação das tarifas sobre a importação desses metais.
A medida, que eleva as tarifas para 50% e entra em vigor em 4 de junho, fez com que ações de siderúrgicas estrangeiras desabassem nos mercados globais.
O anúncio foi feito na sexta-feira (31), apenas algumas horas depois de Trump acusar a China de ter violado um acordo comercial bilateral sobre minerais críticos. Segundo o Departamento de Comércio dos EUA, o país foi o maior importador mundial de aço em 2024, excluindo a União Europeia, com um total de 26,2 milhões de toneladas adquiridas ao longo do ano.
Embora analistas avaliem que Trump possa reverter a medida — como já fez em decisões anteriores —, o impacto imediato foi de forte instabilidade. A alta nos preços dos metais preocupa o setor industrial norte-americano, que já enfrenta retração. “Os preços mais altos devem pesar ainda mais sobre a demanda por aço nos EUA, especialmente no setor manufatureiro, que já esperamos que contraia este ano”, afirmou Eoin Dinsmore, analista do Goldman Sachs.
No mercado físico norte-americano, o prêmio pago por consumidores de alumínio saltou 54%. Já o aço laminado a quente subiu 7,4%. O cobre também teve forte valorização, impulsionada pela expectativa de que Trump estenda as tarifas ao metal, essencial para os setores de energia e construção civil. O preço do cobre nos EUA atingiu o maior patamar em quase dois meses, ampliando a diferença em relação às cotações de referência em Londres.
A alemã Salzgitter, segunda maior siderúrgica do país, alertou que a política tarifária de Washington representa um “golpe severo” para a indústria europeia. A associação siderúrgica da Alemanha informou que cerca de 20% das exportações europeias de aço destinadas a países fora da UE vão para os Estados Unidos.
“O risco para o mercado europeu e outros mercados regionais é o redirecionamento desses fluxos comerciais”, observou Bastian Synagowitz, do Deutsche Bank.
Apesar do tom agressivo do anúncio de Trump, analistas demonstram ceticismo sobre a implementação integral da medida. “Acho que o resultado final será muito mais brando do que o inicialmente projetado, especialmente em relação à duração da tarifa”, avaliou Chelsea Ye, analista sênior da consultoria McCloskey.
Por outro lado, produtores norte-americanos de alumínio, utilizado nos setores de transporte, embalagens e construção, elogiaram a iniciativa. “Durante décadas, produtores estrangeiros subsidiados devastaram a indústria nacional de alumínio”, afirmou Mark Duffy, presidente da American Primary Aluminum Association.
A notícia impulsionou as ações de siderúrgicas dos Estados Unidos. Os papéis da Nucor, Cleveland-Cliffs e Steel Dynamics chegaram a subir entre 11% e 24% no pregão de segunda-feira em Wall Street.
Ações de siderúrgicas asiáticas sofrem forte queda
Na Ásia, os reflexos foram imediatos. As ações de siderúrgicas caíram fortemente na Coreia do Sul, que foi o quarto maior exportador de aço para os EUA em 2023, atrás apenas de Canadá, México e Brasil, segundo o Instituto Americano do Ferro e Aço.
O Ministério da Indústria sul-coreano informou que convocou uma reunião de emergência com executivos das principais siderúrgicas do país, incluindo POSCO e Hyundai Steel. As ações de ambas recuaram cerca de 3%, enquanto os papéis da SeAH Steel Corporation desabaram 8%.
No Vietnã, empresas como Hoa Sen Group, Nam Kim Steel e Vietnam Steel Corp também sofreram perdas entre 2,7% e 3,4%.
Um executivo do setor, que pediu anonimato por se tratar de tema sensível, disse à Reuters que os exportadores coreanos evitaram elevar os embarques para os EUA nos últimos meses justamente para não chamar atenção das autoridades norte-americanas. “Será um peso para as empresas exportadoras se não houver novos aumentos no preço do aço nos EUA”, afirmou.
As tarifas sobre aço e alumínio foram algumas das primeiras medidas comerciais adotadas por Trump desde sua volta ao poder em janeiro de 2025. Em 12 de março, entrou em vigor uma alíquota de 25% sobre a maioria das importações desses dois metais.
Negociações comerciais em curso
Aliado estratégico dos EUA, o governo da Coreia do Sul tem buscado negociar isenções tarifárias para setores como aço e automóveis. Em abril, Seul se comprometeu a elaborar um pacote comercial até o fim da trégua de 90 dias determinada por Trump, que se encerra em julho. No entanto, segundo a Reuters, a indefinição política antes das eleições no país tem dificultado avanços nas negociações.
No fim de março, a Hyundai Steel anunciou a construção de uma fábrica no estado da Louisiana, com investimento previsto de US$ 5,8 bilhões, como forma de mitigar os impactos tarifários. A inauguração, contudo, está prevista apenas para 2029. Já a POSCO, maior siderúrgica sul-coreana, assinou em abril um acordo preliminar para investir no mesmo projeto.
Na Índia, onde os Estados Unidos são o principal destino das exportações de alumínio, especialistas também demonstraram preocupação. “Isso vai ter um impacto extremamente negativo”, disse B.K. Bhatia, diretor-geral da Federação das Indústrias Minerais da Índia. “Os Estados Unidos são o maior mercado para o alumínio indiano. O governo está negociando, então esperamos que essas tarifas sejam reduzidas.”
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