Corrida armamentista com drones aumenta tensão na fronteira entre Índia e Paquistão
Após confronto recente com uso inédito de veículos aéreos não tripulados, potências nucleares sul-asiáticas aceleram investimentos em tecnologias bélicas
247 - Pouco depois das 20h do dia 8 de maio, o céu noturno sobre Jammu, no norte da Índia, foi iluminado por sinalizadores vermelhos, enquanto os sistemas de defesa aérea da cidade reagiam à entrada de drones vindos do Paquistão. A cena marcou o início de quatro dias de combates intensos — e inéditos — entre os dois rivais históricos, agora movidos a veículos aéreos não tripulados (UAVs). Pela primeira vez, Índia e Paquistão utilizaram drones em grande escala um contra o outro, num novo capítulo da já longa disputa militar entre os dois países.
A agência Reuters conversou com autoridades de segurança, executivos da indústria e analistas dos dois lados da fronteira, que descreveram como os recentes enfrentamentos acentuaram uma corrida armamentista silenciosa, mas estratégica, centrada no uso de drones militares. "Os UAVs permitem que os líderes demonstrem determinação, alcancem efeitos visíveis e gerenciem expectativas domésticas — tudo isso sem expor aeronaves ou pilotos caros ao perigo", observou o cientista político Walter Ladwig III, do King's College London.
Com o cessar-fogo intermediado pelos Estados Unidos ainda recente, os dois países — que juntos gastaram mais de US$ 96 bilhões em defesa em 2024 — direcionam agora uma fatia crescente de seus orçamentos militares para tecnologias não tripuladas. As razões vão da pressão interna por resposta aos ataques até o desejo de evitar escaladas descontroladas, comuns em confrontos com armamentos tripulados e convencionais.
Segundo Smit Shah, diretor da Drone Federation of India, o governo indiano pode investir até US$ 470 milhões em drones nos próximos 12 a 24 meses — quase três vezes mais que os níveis anteriores ao conflito. “Essa projeção surgiu após a aprovação de cerca de US$ 4,6 bilhões em fundos emergenciais para compras militares. Parte desses recursos será destinada a drones de combate e vigilância”, explicou Shah.
A urgência por novos equipamentos já altera a tradicional morosidade da burocracia indiana. Vishal Saxena, vice-presidente da fabricante local ideaForge Technology, contou que o governo tem chamado empresas para testes e demonstrações “em um ritmo sem precedentes”.
Do outro lado da fronteira, Islamabad acelera parcerias estratégicas para compensar suas limitações financeiras. Segundo uma fonte paquistanesa ouvida pela Reuters, a Força Aérea do país busca ampliar rapidamente seu arsenal de UAVs para poupar suas aeronaves de ponta. Hoje, o Paquistão dispõe de cerca de 20 caças J-10C, fornecidos pela China, enquanto a Índia opera aproximadamente três dezenas de Rafales ses.
Diante desse desequilíbrio, o Paquistão aposta na cooperação com a China e a Turquia para desenvolver e produzir drones nacionalmente. Um dos principais projetos envolve o drone YIHA-III, montado localmente pela empresa turca Baykar em parceria com o Parque Nacional de Ciência e Tecnologia Aeroespacial paquistanês. “Uma unidade pode ser montada internamente em apenas dois ou três dias”, afirmou a fonte.
Oishee Majumdar, analista da empresa de inteligência de defesa Janes, avalia que Islamabad está aproveitando o excesso de capacidade industrial para acelerar a produção local e reduzir a dependência externa. Já a Índia ainda lida com uma complexa cadeia de suprimentos, parte da qual depende de componentes chineses — algo que, segundo alguns oficiais e executivos indianos, representa uma vulnerabilidade estratégica em tempos de tensão.
Apesar das vantagens táticas, analistas alertam para os riscos de uma escalada involuntária. Drones podem ser usados para atingir áreas densamente povoadas ou territórios disputados que, em outros tempos, seriam evitados por missões tripuladas. “Embora os UAVs permitam aplicar pressão militar sem um custo humano direto, eles também abrem caminho para confrontos mais frequentes e imprevisíveis”, alertou Ladwig.
A mudança no cenário bélico sul-asiático evidencia uma nova realidade: a guerra do futuro, ao menos entre Índia e Paquistão, já começou — silenciosa, tecnológica e cada vez mais autônoma.
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