Chefe do Pentágono alerta para "ameaça iminente da China" e cobra aliados asiáticos por mais gastos em defesa
Em sua estreia no Diálogo de Shangri-La, Pete Hegseth pressiona países do Indo-Pacífico a investir mais em defesa
247 – O secretário de Defesa dos Estados Unidos, Pete Hegseth, afirmou neste sábado (31) que a ameaça representada pela China é “real e possivelmente iminente”, ao instar os aliados asiáticos a aumentarem os investimentos em defesa. A declaração foi feita durante sua primeira participação no Diálogo de Shangri-La, realizado em Singapura — principal fórum asiático sobre segurança. A reportagem é da Reuters.
Em um discurso incisivo, Hegseth declarou: “Não há razão para dourar a pílula. A ameaça que a China representa é real e pode ser iminente”. Segundo ele, uma eventual tentativa de conquista de Taiwan por Pequim teria “consequências devastadoras para o Indo-Pacífico e para o mundo”. Ele reforçou que, sob o governo de Donald Trump, a China “não invadirá Taiwan”, repetindo o posicionamento do ex-presidente.
China e Taiwan no centro da tensão
Pequim considera Taiwan parte do seu território e vem intensificando manobras militares e pressões políticas sobre a ilha, que opera como uma democracia independente. O governo taiwanês, por sua vez, rejeita a soberania chinesa e defende que somente o povo da ilha pode decidir seu futuro.
“Tem que estar claro para todos que Pequim está se preparando, de forma crível, para usar força militar a fim de alterar o equilíbrio de poder no Indo-Pacífico”, afirmou o chefe do Pentágono.
Apesar de sua fala ser direcionada à China, a ênfase de Hegseth nos gastos com defesa gerou desconforto entre os aliados asiáticos, segundo analistas ouvidos pela Reuters. A ausência do ministro da Defesa chinês, Dong Jun, no evento — substituído por uma delegação acadêmica — também foi interpretada como um gesto de distanciamento de Pequim.
Comparações com Europa e recado aos aliados
Hegseth já havia criticado os aliados europeus por não contribuírem suficientemente com os gastos da OTAN. Em fevereiro, acusou a Europa de tratar os EUA como um “trouxa”. Em Singapura, reiterou essa cobrança, agora mirando os parceiros asiáticos.
“É difícil de acreditar, um pouco, depois de algumas viagens à Europa, que estou dizendo isso, mas graças ao presidente Trump, os aliados asiáticos deveriam olhar para os países europeus como exemplo”, disse. Ele mencionou que membros da OTAN estão comprometendo até 5% do PIB em defesa, inclusive a Alemanha.
O ministro da Defesa da Holanda, Ruben Brekelmans, considerou relevante o reconhecimento de que os europeus estão aumentando seus investimentos. “Talvez tenha sido a primeira vez, ou uma das primeiras, em que ouvi o governo dos EUA reconhecer isso explicitamente”, afirmou.
Por outro lado, a senadora democrata Tammy Duckworth criticou o tom de Hegseth: “Achei condescendente com nossos amigos do Indo-Pacífico”, disse ela, apesar de considerar positiva a reafirmação do compromisso dos EUA com a região.
Mudança de foco estratégico e industrialização militar
Um estudo recente do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), sediado em Londres, aponta que países asiáticos vêm aumentando seus gastos com armamentos e pesquisa, mesmo que a média regional de investimento em defesa tenha permanecido em 1,5% do PIB em 2024 — praticamente estável na última década.
Hegseth sugeriu que os aliados europeus concentrem seus esforços em segurança continental, para que os EUA possam reforçar seu papel na contenção da China. “Preferimos que o grosso dos investimentos europeus permaneça no continente, para que possamos usar nossa vantagem comparativa como nação do Indo-Pacífico para apoiar nossos parceiros aqui”, explicou.
Contudo, algumas decisões recentes do governo Trump lançaram dúvidas sobre esse foco. Neste ano, os EUA transferiram sistemas de defesa aérea da Ásia para o Oriente Médio em meio a tensões com o Irã — uma operação que exigiu 73 voos do cargueiro C-17.
“Respeitamos vocês”
Hegseth, ex-apresentador da Fox News, tem dedicado seus primeiros meses de mandato a temas domésticos. Em Singapura, abordou também tópicos caros ao seu discurso interno, como a “restauração do ethos guerreiro”.
“Não estamos aqui para pressionar outros países a adotarem nossa política ou ideologia. Não viemos pregar sobre mudanças climáticas ou questões culturais”, disse. “Respeitamos vocês, suas tradições e seus militares. E queremos trabalhar com vocês onde nossos interesses convergirem”.
O discurso marca uma inflexão retórica do governo Trump em relação à Ásia, com ênfase militarista e exigências de maior compartilhamento dos custos estratégicos — algo que pode redefinir os contornos das alianças na região.
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