Ataques com drones atingem Porto Sudão e ameaçam entregas de ajuda humanitária
Explosões destroem depósitos de combustível e danificam infraestrutura essencial em meio à pior crise humanitária do mundo, segundo a ONU
Reuters – Fortes explosões e incêndios atingiram Porto Sudão, capital istrativa em tempos de guerra do Sudão, nesta terça-feira (6), segundo relato de uma testemunha. Os ataques, que duram vários dias, causaram incêndios nos maiores depósitos de combustível do país e atingiram a principal via de entrada da ajuda humanitária, marcando uma grave escalada do conflito.
De acordo com a empresa britânica de segurança marítima Ambrey, as ações incluíram um ataque com veículo aéreo não tripulado (drone) por parte das Forças de Apoio Rápido (RSF), grupo paramilitar sudanês, contra estruturas em Porto Sudão. Um dos alvos foi o terminal de contêineres.
As ofensivas desta terça foram as mais intensas desde o início da investida contra Porto Sudão, no domingo. O uso de drones tem crescido no conflito, tendo inclusive favorecido avanços do exército sudanês no início do ano.
Testemunhas relataram colunas densas de fumaça negra subindo dos principais depósitos de combustível localizados perto do porto e do aeroporto. Outros alvos incluíram uma subestação de energia e um hotel nas proximidades da residência presidencial.
A destruição das instalações de combustível e os danos à infraestrutura do porto e do aeroporto representam um risco iminente de agravamento da crise humanitária que assola o país. As Nações Unidas classificam o cenário atual como o pior do mundo. As ofensivas comprometem a distribuição de ajuda humanitária por vias terrestres, além de afetarem a geração de energia elétrica e o fornecimento de gás de cozinha.
Desde que a guerra civil entre o exército e a RSF teve início repentino, em abril de 2023, Porto Sudão havia se mantido relativamente estável. A cidade, situada às margens do Mar Vermelho, tornou-se a base do governo aliado ao exército após a RSF assumir o controle de grande parte da capital nacional, Cartum, no início do conflito.
Centenas de milhares de pessoas deslocadas buscaram refúgio em Porto Sudão, que também ou a sediar escritórios da ONU, de embaixadas e de agências humanitárias, tornando-se o principal centro logístico das operações de socorro no país.
Segundo testemunhas, o ataque à subestação provocou um apagão em toda a cidade, enquanto unidades do exército se deslocaram para proteger edifícios públicos.
O curso da guerra tem oscilado entre avanços de ambos os lados, mas nenhuma das forças aparenta estar próxima de uma vitória definitiva. Os ataques com drones em Porto Sudão abrem uma nova frente de batalha, agora voltada ao principal reduto militar do exército no leste do país. Em março, o exército havia conseguido empurrar a RSF para o oeste, retomando boa parte da região central do Sudão, incluindo Cartum.
Fontes militares culpam a RSF pelos bombardeios iniciados no domingo, embora o grupo ainda não tenha assumido oficialmente a autoria.
As ações ocorrem após o exército afirmar que destruiu depósitos de armas e uma aeronave no aeroporto de Nyala, controlado pela RSF, na região de Darfur – considerada o principal bastião do grupo paramilitar.
Fome e deslocamento forçado
A guerra no Sudão atraiu potências regionais interessadas em ampliar sua influência em um território de posição estratégica, que ocupa boa parte da costa do Mar Vermelho e faz fronteira com países do norte e centro da África, além do Chifre africano.
Egito e Arábia Saudita condenaram os ataques, enquanto a ONU expressou preocupação com a escalada da violência.
O governo sudanês, alinhado ao exército, acusa os Emirados Árabes Unidos de apoiarem a RSF. Especialistas da ONU consideram tais alegações críveis e continuam investigando o caso. Os Emirados negam envolvimento com o grupo paramilitar, e a Corte Internacional de Justiça informou nesta segunda-feira que não poderá julgar uma ação na qual o governo do Sudão acusa o país de fomentar genocídio.
O conflito, desencadeado por uma disputa sobre a transição para um governo civil, já provocou o deslocamento de mais de 12 milhões de pessoas e empurrou metade da população sudanesa para a fome aguda, segundo a ONU.
Enquanto o exército consolidava sua presença no centro do país, a RSF avançou sobre áreas do oeste e do sul, adotando novas táticas com uso intensivo de drones para atacar subestações e outras instalações em regiões sob controle do exército.
Os bombardeios aéreos promovidos pelo exército continuam em Darfur. As duas forças seguem travando batalhas terrestres pelo controle de al-Fashir, capital do estado de Darfur do Norte, além de outros pontos, à medida que as linhas de frente se consolidam em zonas de domínio bem definidas.
Reportagem de Nafisa Eltahir, Yomna Ehab e Angus McDowall; edição de Aidan Lewis
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