Arábia Saudita pede que Irã feche acordo nuclear com EUA para evitar ataque israelense
O ministro da Defesa da Arábia Saudita levou mensagem do rei Salman ao Aiatolá Khamenei, alertando que a região não aria uma nova guerra
247 - A Arábia Saudita alertou o Irã para aproveitar a atual oferta de negociação nuclear proposta pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ou arriscar uma potencial ofensiva militar de Israel. A informação foi divulgada pela agência Reuters, com base em entrevistas com autoridades do Golfo e fontes iranianas próximas às tratativas.
Segundo a reportagem assinada por Samia Nakhoul e Parisa Hafezi, publicada nesta sexta-feira (30), o ministro da Defesa saudita, príncipe Khalid bin Salman, levou uma mensagem direta e sigilosa do rei Salman bin Abdulaziz ao líder supremo iraniano, aiatolá Ali Khamenei, durante uma visita a Teerã no dia 17 de abril. O encontro, que ocorreu no complexo presidencial iraniano, também contou com a presença do presidente Masoud Pezeshkian, do chefe das Forças Armadas Mohammad Bagheri e do chanceler Abbas Araqchi.
“O presidente Trump deixou claro: faça um acordo ou enfrente consequências graves, e o mundo inteiro está claramente levando-o a sério, como deveria”, afirmou a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, em resposta às perguntas da Reuters.
Segundo as fontes ouvidas pela agência, o príncipe Khalid advertiu os dirigentes iranianos de que Trump “não tem paciência para negociações prolongadas” e que a janela de oportunidade para um entendimento diplomático está se fechando rapidamente. Ele teria enfatizado que era preferível chegar a um acordo com os EUA do que enfrentar a possibilidade de um ataque israelense às instalações nucleares iranianas, especialmente diante das recentes derrotas sofridas pelos aliados regionais do Irã.
Embora a visita do príncipe saudita a Teerã tenha sido noticiada pela imprensa, esta foi a primeira vez que o conteúdo da mensagem enviada pelo rei saudita foi revelado publicamente.
A escalada diplomática ocorre em um contexto de crescente tensão no Oriente Médio.
Para o analista Mohanad Hage Ali, do Carnegie Middle East Center, a ação saudita reflete uma tentativa estratégica de preservar a estabilidade regional. “Eles querem evitar a guerra porque a guerra e o confronto com o Irã terão implicações negativas para eles e para sua visão e ambições econômicas”, disse ele à Reuters.
As fontes consultadas pela agência informaram que, durante a reunião, o presidente iraniano Masoud Pezeshkian expressou interesse em firmar um acordo, visando o alívio das sanções. No entanto, destacou a preocupação com a natureza “imprevisível” das exigências do governo Trump, que vão desde permitir o enriquecimento limitado de urânio até requerer o desmantelamento completo do programa nuclear iraniano.
“A vontade de Teerã por um acordo existe, mas o Irã não está disposto a sacrificar seu programa de enriquecimento só porque Trump quer um entendimento”, teria afirmado uma das fontes iranianas.
As negociações entre Washington e Teerã já aram por pelo menos cinco rodadas, mas ainda enfrentam imes, como o direito iraniano de enriquecer urânio para fins civis. Na quarta-feira (28), a Reuters informou que o Irã estaria disposto a suspender temporariamente o enriquecimento se os EUA liberassem seus fundos congelados e reconhecessem esse direito em um “acordo político” preliminar.
Durante o encontro com as autoridades iranianas, o príncipe Khalid também teria pedido que o Irã revisasse sua política regional e demonstrasse moderação nas ações dos grupos que apoia. Sem apontar diretamente o Irã como responsável, ele manifestou preocupação com possíveis episódios semelhantes aos ataques com drones de 2019 contra as instalações da estatal saudita Aramco — ataques que Riad atribuiu aos Houthis, com apoio de Teerã, embora o governo iraniano negue envolvimento direto.
O ministro saudita também teria assegurado que a Arábia Saudita não permitiria que seu território ou espaço aéreo fosse utilizado por forças americanas ou israelenses em qualquer eventual ataque ao Irã.
A visita do príncipe Khalid marcou a primeira de um membro sênior da família real saudita ao Irã em mais de duas décadas. Ela reflete uma nova fase nas relações entre Riad e Teerã, que aram de décadas de rivalidade e confrontos indiretos a uma reaproximação estratégica, iniciada com a mediação da China em 2023.
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