Uma aula sobre o colapso dos EUA – e a culpa não é da China
Kim Iversen explica por que a culpa pelo colapso estadunidense é de suas próprias elites
247 – Em uma análise profunda e incisiva, a jornalista norte-americana Kim Iversen desmonta a narrativa amplamente difundida por setores da elite política e empresarial dos Estados Unidos de que a China seria a grande responsável pela decadência econômica e industrial do país. Segundo Iversen, o verdadeiro colapso norte-americano foi promovido internamente, por decisões tomadas ao longo de décadas por seus próprios dirigentes. As declarações foram feitas em vídeo publicado em suas redes e repercutido por veículos de mídia independentes.
Logo no início, Iversen critica os discursos repetitivos que acusam a China de “trapacear”, “quebrar regras”, “roubar propriedade intelectual”, “manipular sua moeda” e “subvencionar sua indústria”. Embora reconheça que essas práticas existam em algum grau, ela afirma que se os Estados Unidos quiserem realmente entender por que perderam milhões de empregos bem remunerados, por que sua infraestrutura está em ruínas e por que a China lidera o mundo em setores como carros elétricos e trens de alta velocidade, será preciso abandonar os slogans fáceis e fazer uma pergunta incômoda: será que a China trapaceou mesmo, ou será que foram as próprias elites americanas que traíram o país?
O preço do lucro fácil
Iversen relembra que, por muitos anos, empresas estrangeiras que desejavam ar o mercado chinês precisavam se associar a companhias locais e compartilhar sua tecnologia proprietária. Esse processo ficou conhecido como “transferência forçada de tecnologia” e é frequentemente citado como exemplo de deslealdade chinesa. No entanto, a jornalista rebate: “Ninguém foi forçado. As empresas ocidentais aceitaram voluntariamente as condições impostas pela China em troca da possibilidade de lucrar com o maior mercado consumidor do planeta”.
Segundo ela, os executivos dessas empresas não estavam pensando no futuro do país, mas sim em seus lucros imediatos. “Disseram sim, repetidas vezes, porque seus CEOs estavam focados nas reuniões trimestrais de resultados, não nas próximas décadas.”
Ela aponta que os Estados Unidos também têm um longo histórico de espionagem e intervenção em governos ao redor do mundo. “Enquanto a China subsidia setores estratégicos de forma aberta, o governo americano faz o mesmo de forma disfarçada: com subsídios agrícolas, militares, à indústria do petróleo, aos bancos de Wall Street e, recentemente, à indústria de chips por meio do CHIPS Act.”
Um país que abandonou seu povo
Kim Iversen também critica a hipocrisia da retórica americana sobre “manipulação cambial”, afirmando que essa prática ocorreu há 20 anos, mas que, na última década, a China tem agido justamente para sustentar sua moeda e manter a estabilidade. Sobre barreiras comerciais, ela lembra que “todos jogam esse jogo”, incluindo os Estados Unidos, que banem vendas de navios, impõem sanções a empresas como a Huawei, embargam países e reescrevem regras financeiras conforme seus próprios interesses.
A análise é dura: “A China não roubou nossa prosperidade. Foram nossas elites que a entregaram. Elas pressionaram para que a China entrasse na OMC, terceirizaram fábricas, destruíram sindicatos e disseram aos trabalhadores que aprendessem a programar. As cidades industriais entraram em colapso, os setores têxtil e de autopeças desapareceram, mas a bolsa de valores bateu recordes — e isso era tudo o que importava.”
E conclui: “O que a China fez com seu superávit? Não distribuiu recompra de ações nem alimentou bolhas financeiras. Ela construiu trens de alta velocidade, cidades inteligentes, redes energéticas modernas e indústrias do zero. E os Estados Unidos? Construíram bolhas especulativas, sucatearam escolas públicas, cortaram investimentos em infraestrutura e deram isenções fiscais aos ultrarricos, pedindo ao restante da população que apertasse o cinto.”
Tarifas não reconstroem um país
Iversen afirma que apostar em tarifas contra a China é inútil: “É como colocar fita adesiva numa ponte que está desabando. Tarifas aumentam preços, desorganizam cadeias de suprimento e provocam retaliações. Elas não constroem novas fábricas, não criam mão de obra qualificada, não consertam um sistema falido.”
Para ela, os Estados Unidos precisam de um reinício total: “Precisamos reconstruir o país do zero. Isso exige uma política industrial nacional de longo prazo, com definição clara de setores estratégicos e investimentos robustos. É necessário um programa de infraestrutura no nível do New Deal, não simples remendos em estradas.”
Ela defende a valorização do trabalho técnico, a formação profissional, o fim dos monopólios, a punição de empresas que transferem produção para fora e o incentivo àquelas que constroem, contratam e permanecem em solo americano.
“Mas em vez disso, ao invés de focar nos problemas internos, o que estamos fazendo? Falamos sobre guerra com o Irã, bombardeamos o Iêmen, gastamos bilhões em guerras por procuração que não têm nada a ver com o povo americano e tudo a ver com os interesses dos fabricantes de armas e seus lobistas.”
Um império em ruínas
Kim Iversen também denuncia o expansionismo militar dos Estados Unidos: “Quando não estamos tentando iniciar uma guerra, estamos fantasiando sobre expandir nosso império — tornar o Canadá um estado americano, comprar a Groenlândia, estacionar tropas em todos os continentes para proteger rotas de petróleo e minérios, enquanto nossos veteranos dormem em barracas e nossas cidades parecem zonas de guerra.”
Ela acusa os líderes americanos de priorizarem o império em vez da nação: “Eles não se importam com os Estados Unidos como país. Eles enxergam os EUA como uma marca, um veículo para extrair riqueza.”
A maior traição, segundo Iversen, é que, enquanto a China atua em nome de seus próprios interesses nacionais, a elite dos EUA atua por interesses próprios — nunca pelo povo.
“O verdadeiro problema não é que a China trapaceia. O problema real é que fomos enganados por aqueles que venderam um sonho no qual nunca acreditaram. Eles destruíram a classe média, disseram que era normal ter três empregos e continuar na miséria, zombaram da ideia de reconstruir o país enquanto enchiam os bolsos com o dinheiro das empresas que enviaram nossos empregos para o exterior.”
“Eles entregaram os projetos, am os acordos, redigiram as leis comerciais e agora querem culpar quem aproveitou a oportunidade criada por eles? Isso não é trapaça. Isso é inteligência. É estratégia. Nós deveríamos estar tomando notas, e não tendo chilique.”
O único caminho viável
Iversen encerra sua crítica com uma proposta clara: “Se queremos vencer de novo, não precisamos de mais sanções, precisamos de mais engenheiros. Não precisamos de mais porta-aviões, precisamos de mais fábricas. Não precisamos de mais uma guerra trilionária. Precisamos de um investimento trilionário na América — nos trabalhadores, nas cidades, nas famílias, na soberania.”
E conclui com um apelo direto: “Quer que a América volte a ser grande? Então construa. Pare de perseguir guerras. Pare de se distrair. Pare de alimentar o império. Traga tudo de volta pra casa e comece de novo. Esse é o verdadeiro 'América em primeiro lugar'. E é o único caminho possível.” Assista:
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