Trump aposta em tarifaço para ampliar poder e inspira extrema direita global, avalia historiador
James Green afirma que política econômica de Trump visa reforçar projeto autoritário e tem influência direta sobre Bolsonaro e a nova direita no Brasil
247 - Durante participação no programa Brasil Agora, da TV 247, o historiador norte-americano James Green, professor aposentado da Universidade Brown e especialista em história da América Latina, fez uma análise incisiva sobre o avanço autoritário representado por Donald Trump nos Estados Unidos e sua profunda influência na extrema direita brasileira. Para Green, o presidente norte-americano utiliza a política tarifária como instrumento de poder, mais do que como uma estratégia econômica legítima. Ele alerta para os riscos à democracia nos Estados Unidos e para os impactos diretos desse modelo político sobre figuras como Jair Bolsonaro.
Na avaliação de Green, o novo pacote de tarifas que Trump anunciou — e que já provoca temor nos mercados — não conta com apoio da maioria da população. “A maioria está contra essa política. Acho que cerca de 60% rejeita e menos de 40% aprova”, afirmou. O historiador lembra que quase a totalidade dos economistas norte-americanos já alertou que a medida deve elevar a inflação e prejudicar a economia do país. Ainda assim, Trump insiste na agenda tarifária como forma de reposicionar os Estados Unidos no cenário global e, sobretudo, de fortalecer seu apelo político junto à base mais radicalizada. “Ele sabe que não é popular”, disse.
Green descreve Trump como alguém imprevisível, guiado por impulsos. “Analisar o Trump é como lidar com uma criança mimada de sete anos comandando o país mais poderoso do mundo”, afirmou. A tática, segundo ele, é criar crises sucessivas, gerar caos e confusão, para depois recuar estrategicamente e capitalizar politicamente: “Ele tem talento político para recuar na hora certa, declarar que venceu e mudar de assunto”.
A leitura de Green se estende ao impacto internacional do trumpismo. Ele observa uma conexão explícita entre Trump e os movimentos de extrema direita em outros países, especialmente no Brasil. “Existe uma relação direta entre os dois. Bolsonaro copia o Trump em tudo, desde a invasão do Capitólio até o ataque ao sistema eleitoral”, disse. Green lembra que Bolsonaro enviou seu filho Eduardo aos Estados Unidos para tentar reforçar laços com aliados de Trump, como Steve Bannon, e construir uma narrativa internacional contra o governo Lula. “Eles querem dizer que o Brasil vive uma ditadura, que há censura, que jornalistas são perseguidos. É um insulto a quem viveu a ditadura de verdade”, pontuou.
Para o historiador, a influência de Trump transcende o campo ideológico e se manifesta também na tentativa de desmantelar as instituições democráticas americanas. O sistema eleitoral dos Estados Unidos, descentralizado e complexo, é alvo de ataques constantes do presidente, que propõe restringir o direito ao voto sob o pretexto de exigir comprovação de cidadania. “A maioria das pessoas não tem aporte ou não encontra sua certidão de nascimento com facilidade. Isso afeta principalmente os mais pobres, mas pode prejudicar também a base do próprio Trump”, explicou. Segundo ele, trata-se de uma tentativa de excluir setores inteiros da população do processo eleitoral, uma prática que remonta ao período em que se impedia o voto de negros nos EUA.
James Green também destacou o papel das grandes empresas de tecnologia, as chamadas Big Techs, no apoio ao projeto autoritário de Trump. “Essas empresas criaram a imagem de modernas, progressistas, mas no fundo são grandes corporações interessadas em lucro. Quando perceberam que Trump era útil para seus interesses, aram a apoiá-lo e a financiar suas campanhas”, afirmou. De acordo com ele, o apoio não é apenas financeiro: as empresas buscam a proteção do governo dos EUA contra regulações mais rígidas da União Europeia e de países como o Brasil. “Eles querem liberdade absoluta de expressão, mas o que querem mesmo é não ter que responder às leis dos países em que atuam”.
Ao abordar o atual momento político nos EUA, Green mostrou preocupação com a mobilização institucional e popular diante da ameaça autoritária. “Trump começa criando pânico, lançando medidas caóticas todos os dias para desorientar a imprensa, a oposição e a população. Mas agora há uma movimentação concreta. Em mais de 300 distritos eleitorais já ocorreram protestos, visitas a gabinetes de congressistas e atos organizados”, disse. Ele citou a convocação de um “dia nacional de ação” contra Trump e alertou para a necessidade de pressão contínua sobre o Congresso, especialmente sobre os republicanos.
Apesar de a maioria dos parlamentares republicanos continuar alinhada a Trump, Green vê sinais de fissura. “Alguns senadores republicanos já cogitam limitar os poderes de Trump para impor tarifas. É pouco, mas mostra que a resistência está começando a emergir”, avaliou. O historiador acredita que a crescente insatisfação com a economia pode enfraquecer a base de apoio ao presidente. “Trump prometeu resolver a inflação, mas os preços dos alimentos continuam subindo. E o tarifaço só tende a piorar esse cenário”.
Por fim, Green lamentou os cortes drásticos que vêm sendo feitos por aliados de Trump em áreas sensíveis como saúde e ciência. “Ontem cortaram todos os fundos para pesquisas sobre Alzheimer. Isso é um ataque à nação. E o discurso é sempre o mesmo: cortar desperdícios e combater a corrupção. Mas na prática estão destruindo o Estado”, alertou.
A análise de James Green ajuda a compreender os mecanismos de poder construídos pela extrema direita no mundo, especialmente o vínculo entre os movimentos liderados por Trump e Bolsonaro. Para ele, essa articulação é real, estratégica e ameaçadora, mas pode ser enfrentada com mobilização, articulação internacional e fortalecimento institucional. “É preciso entender a complexidade do momento. Não é apenas sobre economia ou eleições. É um projeto de poder que ameaça a democracia por inteiro”, concluiu. Assista:
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: