“Somos agora um império em declínio – e precisamos aceitar”, diz Richard Wolff
Economista alerta para a nova inflação nos Estados Unidos e critica políticas de Donald Trump que podem agravar a crise
247 - Em vídeo publicado no YouTube, o economista norte-americano Richard Wolff fez uma contundente análise sobre as raízes da inflação nos Estados Unidos e alertou para o agravamento da crise econômica sob o segundo mandato do presidente Donald Trump. Segundo Wolff, a pandemia expôs as fragilidades do sistema capitalista, e novas medidas prometidas por Trump, como o aumento de tarifas e a deportação em massa de imigrantes, devem provocar ainda mais inflação e instabilidade social.
"Uma inflação existe quando, em geral, os preços estão subindo. E quem determina os preços? Os empregadores", afirmou Wolff logo no início da exposição. De acordo com dados do Censo dos Estados Unidos citados por ele, apenas 3% da população são empregadores — ou seja, capitalistas que decidem os preços visando o lucro. "Temos inflação quando os negócios acham que é o melhor caminho para obter mais lucros", resumiu.
Pandemia e o aumento de preços
Wolff destacou que a pandemia de Covid-19 foi o grande catalisador para o aumento abrupto dos preços. "Metade da força de trabalho perdeu o emprego em algum momento da pandemia", lembrou. Com a retração da atividade econômica e a perda de receitas, as empresas buscaram recuperar os lucros rapidamente após a reabertura, aumentando os preços sem necessariamente elevar a produção. "Você pode simplesmente ajustar o computador do caixa e cobrar dez vezes mais por uma dúzia de ovos", ironizou.
Para o economista, a atual estrutura de formação de preços favorece o surgimento da inflação sempre que as crises oferecem uma oportunidade para ampliar margens de lucro. "Se queremos evitar a inflação, precisamos interferir na fixação dos preços", defendeu.
As promessas de Trump e o risco de nova inflação
Wolff alertou que duas das principais propostas de Trump para seu segundo mandato — a imposição de tarifas generalizadas e a deportação de milhões de imigrantes — podem provocar uma nova onda inflacionária.
Sobre as tarifas, Wolff explicou: "Tarifa é apenas outro nome para imposto sobre importações. Se Trump fizer isso, produtos como café, açúcar e automóveis ficarão muito mais caros." Ele lembrou que os Estados Unidos dependem das importações para esses produtos, principalmente da América Latina e da África.
Em relação à imigração, Wolff foi categórico: "Se milhões de imigrantes forem deportados, setores inteiros como agricultura, construção civil e restaurantes sofrerão." Segundo ele, esses setores dependem fortemente de trabalhadores indocumentados, que recebem salários mais baixos e têm menos direitos. Sem essa força de trabalho, as empresas terão de contratar trabalhadores nativos a salários mais altos, reando esses custos aos consumidores.
O declínio do império americano
Em um dos trechos mais fortes de sua fala, Wolff afirmou: "Somos agora um império em declínio." Para ele, assim como Roma, Grécia e outros impérios históricos, os Estados Unidos atingiram seu auge e agora vivem um processo inevitável de decadência. "Temos duas escolhas: cooperar com os que estão subindo ou cair lutando. Mas cair, vamos", alertou.
O economista criticou a postura de Trump em relação às nações do BRICS, advertindo que ameaças e tarifas não deterão o avanço econômico desses países. "O BRICS representa mais da metade da população mundial. Nós somos apenas 4,5%. Não é mais páreo", afirmou. "Sacudir o sabre e ameaçar não vai resolver o problema, só vai fazer o mundo nos odiar ainda mais."
Críticas ao sistema de saúde e educação
Wolff também comparou o sistema de saúde e educação dos Estados Unidos com o da Europa, apontando o sofrimento das famílias americanas para pagar tratamentos médicos e custos universitários. "Na França, você vai ao médico e não paga nada. O médico é funcionário público. Educação superior também é gratuita", destacou.
Segundo ele, o sistema norte-americano submete as novas gerações a um ciclo de endividamento e sofrimento. "Estamos torturando gerações inteiras com dívidas estudantis", lamentou.
Wolff encerrou sua análise com uma advertência aos americanos: "Não se irritem com o mensageiro só porque não gostam da mensagem. Estamos em queda e precisamos encarar os fatos." Para ele, os Estados Unidos devem buscar soluções cooperativas e parar de agir como uma potência hegemônica em declínio. "Não vamos derrotar a China ameaçando-a. Temos que sentar e encontrar um arranjo viável para ambos." Assista:
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