“O Lula tomou para si a política externa brasileira”, diz Elias Jabbour
Para Jabbour avanço nas relações com a China ocorreu apesar do Itamaraty e marca mudança estratégica no governo Lula
247 - Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o economista e professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Elias Jabbour, afirmou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou a conduzir diretamente a política externa do Brasil, deslocando o Itamaraty de um papel tradicionalmente central. “O Lula tomou para si a política externa brasileira”, declarou Jabbour. Segundo ele, esse movimento marca uma inflexão estratégica que reposiciona o Brasil no cenário internacional, especialmente em sua relação com a China e os países do sul global.
Jabbour pontuou que essa mudança vem ocorrendo “desde que o Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos”, e se consolidou com os recentes acordos entre Brasil e China, firmados durante visita oficial do presidente Lula ao país asiático. Para o professor, esses acordos não se restringem a “fogos de artifício”, mas incluem elementos concretos como a entrada da China no mercado de títulos da dívida pública brasileira — o que, em sua avaliação, pode, no futuro, ameaçar o atual monopólio da Faria Lima sobre esse setor.
“Isso já está acontecendo, ainda é residual”, explicou o economista, ao comentar o movimento chinês em direção aos papéis da dívida pública nacional. Ele destacou que não há dados públicos sobre os volumes, mas sublinhou o significado geopolítico da mudança: “o grande golaço do governo Lula na relação com a China não está nos investimentos, está nesse acontecimento aí”.
Durante a entrevista, Jabbour criticou duramente a atuação do Ministério das Relações Exteriores. “Na minha opinião, o Itamaraty é um problema seríssimo dentro desse governo”, disse. Para ele, a diplomacia brasileira mantém uma visão de mundo anacrônica, moldada por uma tradição “atlantista”, centrada nos Estados Unidos e na Europa, que não dialoga com as transformações recentes da ordem internacional. “O Itamaraty se reinventa na década de 90 com uma visão de que o mundo gira em torno dos EUA e da Europa”, afirmou.
A centralização da política externa nas mãos do presidente, segundo Jabbour, foi uma resposta a essa limitação institucional. “O salto qualitativo que o governo Lula deu nos últimos meses em relação à política externa ocorre apesar do Itamaraty”, reforçou. Ele avaliou como acertada a decisão de Lula de priorizar as relações com Rússia e China, mesmo diante de pressões internas e externas. “Se fosse entregar para o chefe do Itamaraty a decisão do Lula ir para a Rússia ou não, certamente não seria para a Rússia.”
Embora tenha reconhecido os limites dos acordos firmados com a China — muitos deles ainda voltados à exportação de commodities —, Jabbour considerou que, dadas as restrições políticas e institucionais atuais, houve um avanço real. “O golaço foi político”, disse, referindo-se à postura mais assertiva do Brasil no cenário global. Para que os acordos se traduzam em transformação produtiva e tecnológica, no entanto, ele apontou a necessidade de uma mudança profunda na forma como o país formula sua estratégia nacional. “Isso demandaria um grau de pensamento e sofisticação estratégico que não existe hoje no Brasil, nem dentro do Estado, nem dentro do governo e nem dentro da própria esquerda.”
Por fim, o professor afirmou que o Brasil começa a embarcar em um “novo mundo”, definido por fluxos comerciais e alianças políticas cada vez mais orientados pelo sul global. No entanto, advertiu que ainda há entraves estruturais, como a fragmentação do pensamento político e a ausência de uma visão estratégica de longo prazo. “Ficamos meio soltos, perdidos no mundo inteiro numa guerra comercial, tecnológica, a gente para onde que nós vamos?”, concluiu. Assista :
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