O Líbano como você nunca viu: a experiência de Thiago Ávila

247 - O ativista internacionalista Thiago Ávila concedeu entrevista à TV 247 relatando sua experiência no Líbano após o assassinato do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah. Durante a conversa, ele compartilhou detalhes sobre o funeral, as dinâmicas políticas do país e a influência de atores internacionais na região.

Ávila destacou que “só depois de um acordo de cessar-fogo, as autoridades locais avaliaram que era possível fazer um funeral à altura de Nasrallah, recentemente assassinado por Israel”. Segundo ele, a cerimônia reuniu uma multidão de mais de um milhão de pessoas, evidenciando a relevância do líder para a população local.

Ele pontuou que a islamofobia no Ocidente contribui para a falta de compreensão sobre as lideranças libanesas. “A islamofobia do Ocidente faz com que as pessoas não compreendam as lideranças do Líbano”, afirmou. Sobre Nasrallah, Ávila enfatizou que “ele é visto como uma liderança, como um pai para boa parte da população”.

O ativista também abordou a história de divisão política e social no país. “O Líbano viveu muita divisão e um processo de guerra civil”, disse, acrescentando que “os cristãos maronitas receberam muito apoio de Israel e dos Estados Unidos”. Segundo ele, essa dinâmica segue presente na política local, sendo estimulada por potências estrangeiras. “Estados Unidos e Israel tentam promover divisão entre cristãos e muçulmanos xiitas”, explicou.

A desigualdade social também foi mencionada. “Existe também um fator de classe. Os muçulmanos xiitas sempre foram mais precarizados socialmente”, afirmou Ávila, destacando que essa realidade influencia diretamente a organização política e as alianças locais.

O futuro do Hezbollah, segundo o ativista, está intrinsecamente ligado ao contexto geopolítico do Oriente Médio. “O futuro do Hezbollah está conectado ao futuro da região e do eixo da resistência, que foi precarizado”, disse. Para ele, há uma estratégia coordenada para reduzir a influência iraniana no Líbano e em outras partes do Oriente Médio. “O tabuleiro daquela região envolve Estados Unidos, Israel e Turquia tentando varrer qualquer influência iraniana daquela região”, explicou.

Sobre o legado de Nasrallah, Ávila destacou sua posição antiimperialista. “Nasrallah era profundamente antiimperialista e questionava o mundo unipolar”, afirmou. Ele também ressaltou a politização das mulheres no país. “As mulheres do Líbano são extremamente politizadas e inclusive feministas”, pontuou.

O ativista mencionou ainda uma análise do historiador Ilan Pappé sobre o futuro do sionismo. “Ilan Pappé diz que o sionismo está começando o seu fim e eu concordo com isso”, declarou. Ele citou uma pesquisa recente sobre a opinião da população americana em relação a Israel. “Saiu uma pesquisa hoje mostrando que apenas 46% da população dos Estados Unidos apoia o Estado de Israel”, destacou, avaliando que “o dano de imagem de Israel é irrecuperável”.

Para Ávila, os acontecimentos recentes apontam para uma mudança na ordem mundial. “A ordem multipolar está de fato se impondo no mundo”, afirmou. Ele considera que o apoio global à causa palestina expôs contradições do sistema internacional. “O levante global em solidariedade ao povo palestino fez todas as máscaras do imperialismo caírem”, disse.

Apesar do cenário desafiador, Ávila acredita que há possibilidades de mudança. “O mundo avança para um futuro melhor, mas depende de uma batalha que não sabemos se iremos vencer”, afirmou. Ele destacou o papel da Rússia na configuração desse novo contexto. “Vejo a Rússia como um elemento determinante para derrotar o sistema imperialista”, concluiu. Assista: