"Lula marca um golaço em política externa", avalia historiador sobre visita à Rússia
Para Thomas de Toledo, viagem marca rompimento com ambiguidade inicial e reafirma o Brasil como ator central no Sul Global
247 - Em entrevista ao Boa Noite 247, o historiador Thomas de Toledo analisou a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Rússia, onde participa da celebração dos 80 anos da vitória soviética sobre o nazismo. Segundo ele, o gesto representa um novo marco na política externa brasileira e reafirma o alinhamento com o projeto de mundo multipolar defendido pelo bloco dos Brics.
"Lula marca um golaço em termos de política externa", afirmou Toledo. Para ele, a viagem encerra um período de ambiguidade diplomática que marcou o início do terceiro mandato do presidente, quando o governo brasileiro evitava se posicionar de forma clara em relação ao conflito na Ucrânia. "No começo do mandato, Lula repetiu diversas vezes que não visitaria nem a Rússia nem a Ucrânia enquanto estivessem em guerra", lembrou.
Segundo Toledo, essa postura cautelosa se explicava por compromissos firmados com o Partido Democrata dos Estados Unidos, que teve papel importante no reconhecimento da eleição brasileira diante da ameaça golpista de Jair Bolsonaro. "O alinhamento com o Partido Democrata impediu o Lula de ter um gesto como esse", disse.
Agora, com a mudança no governo dos EUA e a ascensão do presidente Donald Trump a um segundo mandato, o historiador avalia que o cenário geopolítico se reconfigura. "O Trump não tem interesse direto na guerra na Ucrânia, ele quer apenas negociar a partilha da Ucrânia com a Rússia", afirmou. Nesse contexto, a ida de Lula a Moscou simboliza o fortalecimento da soberania diplomática brasileira e o compromisso com um mundo multipolar.
"Lula abandona a ideia de neutralidade ambígua e afirma que o Brasil é Brics", afirmou Toledo. Segundo ele, o gesto também se conecta com uma memória histórica relevante: "Os 80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial são também 80 anos da derrota do nazifascismo", afirmou, destacando o simbolismo de o Brasil se posicionar nesse momento ao lado da Rússia, enquanto potências ocidentais se ausentam da comemoração.
O historiador também vinculou a política externa de Lula à experiência dos mandatos anteriores. "Se for mesmo um divisor de águas, tomara que Lula retome a ousadia do seu segundo mandato, quando tinha Marco Aurélio Garcia como assessor internacional", disse.
Para Toledo, o gesto de Lula é claro: o Brasil aposta no fortalecimento do Sul Global, ao lado de países como a China e a Rússia. Ele citou, como exemplo, a atuação russa no continente africano. "A Rússia retomou parte da sua política da era soviética, oferecendo apoio militar e político a países africanos que combatem o colonialismo", afirmou.
Nesse contexto, a presença do Brasil na celebração russa reforça um posicionamento estratégico no cenário internacional. "O gesto tem menos a ver com a guerra na Ucrânia e mais com a afirmação de uma política externa soberana, voltada para os Brics e para o mundo multipolar", concluiu. Assista:
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