"A memória indígena precisa ser ouvida", diz o indigenista Gustavo Guerreiro
Indigenista Gustavo Guerreiro analisa a violência histórica contra os povos indígenas e os desafios da atualidade
247 - Em entrevista ao programa Boa Noite 247, o indigenista da Funai, pesquisador do Observatório das Nacionalidades e doutor em Políticas Públicas, Gustavo Guerreiro, abordou a história da violência contra os povos indígenas no Brasil e os desafios enfrentados na atualidade. Durante a conversa, ele destacou a persistente invisibilização das memórias indígenas e a necessidade de resistência. "Eu estudei a influência das Forças Armadas na política indigenista brasileira, e esse texto surgiu no calor das discussões sobre o prêmio do Globo de Ouro do filme Ainda Estou Aqui, que é excelente. Procurei escrever esse texto para chamar atenção a essa memória invisibilizada", afirmou Guerreiro.
O pesquisador utilizou referências do sociólogo austríaco Michael Polak para discutir a "hierarquia invisível do luto", conceito que reflete como certas memórias são silenciadas de forma estrutural. "Algumas memórias precisam ser silenciadas pelo uso político da força, mas, ao mesmo tempo, esse silêncio pode ser uma forma de existência", explicou. Segundo Guerreiro, a transmissão oral dessas memórias dentro das comunidades indígenas tem sido um instrumento fundamental de resistência.
Política indigenista e ditadura militar
Guerreiro traçou um panorama da política indigenista brasileira desde a Proclamação da República, quando foi criado o SPI (Serviço de Proteção aos Índios), até a sua substituição pela Funai durante a ditadura militar. "Os militares positivistas enxergavam os povos indígenas como estando entre a barbárie e a civilização", afirmou. Durante a ditadura, a violência contra os povos indígenas se intensificou, com deslocamentos forçados, genocídio cultural e físico, como os bombardeios aéreos com napalm contra os Waimiri-Atroari, envenenamento de alimentos e disseminação de doenças propositalmente.
A Constituição de 1988 foi um marco histórico ao reconhecer a autodeterminação dos povos indígenas, com o artigo 231 garantindo os direitos originários sobre seus territórios e o artigo 232 permitindo que os indígenas ingressem na Justiça sem depender de tutela. No entanto, Guerreiro lembra que "a previsão de que todas as terras indígenas fossem demarcadas em cinco anos não foi cumprida, e hoje, décadas depois, ainda estamos longe disso".
Governo atual e desafios futuros
Ao comentar o cenário político atual, Guerreiro reconheceu avanços, como a criação do Ministério dos Povos Indígenas e algumas demarcações, mas apontou limitações significativas. "A correlação de forças no Congresso é muito desfavorável, com uma bancada ruralista muito poderosa. O governo Lula é de centro, não de esquerda, o que impõe restrições", avaliou. Apesar disso, ele ressaltou a importância de manter a resistência: "Como dizia Gramsci: pessimismo da razão, otimismo da ação". Assista:
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