Microsoft enfrenta protestos de funcionários por apoiar o genocídio promovido por Israel em Gaza
Funcionários protestam contra uso de tecnologia da empresa na ofensiva israelense e denunciam demissões, censura e violação de compromissos éticos
247 – A empresa de tecnologia Microsoft vive uma onda crescente de protestos internos contra sua colaboração com o genocídio promovido pelo estado de Israel contra o povo palestino em Gaza. A informação foi publicada originalmente pelo jornal britânico The Guardian nesta sexta-feira (18), revelando que engenheiros e outros funcionários da empresa vêm denunciando o uso de serviços de inteligência artificial e computação em nuvem no contexto da ofensiva militar israelense desde 7 de outubro de 2023. As manifestações ganharam força após reportagens detalhadas de veículos como a Associated Press e o site investigativo Dropsite.
O ponto alto da crise ocorreu em 4 de abril de 2025, durante a celebração dos 50 anos da Microsoft, quando duas funcionárias — Ibtihal Aboussad e Vaniya Agrawal — interromperam a fala do executivo de IA Mustafa Suleyman. Ambas foram demitidas poucos dias depois. No mês anterior, em 20 de março, o presidente Brad Smith e o ex-CEO Steve Ballmer também foram interrompidos por protestos durante um evento em Seattle. “Microsoft powers genocide” (Microsoft alimenta genocídio) foi a frase projetada por manifestantes na fachada do auditório.
Hossam Nasr, ex-engenheiro de software da companhia, afirmou ao Guardian que a situação está “muito próxima de um ponto de ruptura”. Ele relembrou manifestações como a de 24 de fevereiro, quando cinco funcionários se posicionaram sobre uma plataforma com camisetas estampando a frase: “Does Our Code Kill Kids, Satya?” (Nosso código mata crianças, Satya?), em referência ao CEO Satya Nadella. Os manifestantes foram retirados do local em silêncio. Nasr e outro organizador de um ato em outubro, Abdo Mohamed, também foram demitidos.
Além dos protestos presenciais, o descontentamento tomou conta dos canais internos da empresa. Postagens no Viva Engage, plataforma interna de comunicação, foram apagadas após funcionários denunciarem o uso da inteligência artificial da Microsoft para fins militares. Segundo uma dessas mensagens, “esta investigação da AP mostra claramente que a tecnologia de IA que fornecemos permite diretamente a destruição de Gaza”. O post foi removido no dia seguinte.
Aboussad, uma das demitidas após protestar no evento de abril, declarou ao Guardian: “Comecei a perceber cada vez mais os laços profundos da Microsoft com o governo israelense. O último estopim foi uma reportagem que mostrou como a IA está sendo usada para mirar e ass palestinos. Não havia como eu continuar e manter as mãos limpas.” Ela afirmou ainda não saber se seu próprio trabalho foi utilizado em Gaza, devido ao anonimato dos contratos mantidos pela empresa com o governo de Israel.
A repressão interna também foi evidenciada quando, em novembro de 2023, uma palestra com o jornalista palestino Ahmed Shihab-Eldin foi cancelada após denúncias de funcionários israelenses, que acusaram os organizadores de antissemitismo. Em outra ocasião, postagens que denunciavam a limpeza étnica em Gaza foram deletadas, enquanto mensagens que rotulavam palestinos como “terroristas” ou “monstros” permaneceram no ar.
O movimento interno “No Azure for Apartheid”, que faz referência ao serviço de nuvem Azure, organizou uma petição exigindo que a Microsoft encerre contratos com o exército israelense e divulgue publicamente seus vínculos com o governo do país. A campanha ganhou apoio do movimento global BDS (Boicote, Desinvestimento e Sanções), que incluiu a Microsoft em sua lista oficial de boicotes em 3 de abril de 2025.
Em meio à pressão crescente, vários funcionários pediram demissão. Em 4 de dezembro, Angela Yu enviou um e-mail a cerca de 30 mil colegas para anunciar sua saída. “Entrei na Microsoft acreditando que meu trabalho avançaria a tecnologia para o bem da humanidade”, escreveu. “Dói à minha consciência saber que os produtos que desenvolvemos estão permitindo ao exército israelense acelerar seu projeto de limpeza étnica.” Yu concluiu incentivando os colegas a em a petição do “No Azure for Apartheid” e lembrou que, em 1986, a Microsoft encerrou contratos com o regime do apartheid na África do Sul por razões éticas — um precedente que, segundo ela, deveria ser repetido.
Apesar da mobilização, um sentimento de exaustão se espalha entre os funcionários engajados. “A Microsoft é uma máquina de fazer dinheiro. Tudo o que importa é dinheiro. IA e trabalho, trabalho, trabalho”, desabafou uma funcionária sob condição de anonimato ao Guardian.
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