Aquisição da Braskem por Tanure depende de acordo com Petrobras, BB, BNDES e bancos privados
Empresário deu ênfase, em seu comunicado, à reindustrialização e ao tema da transição energética com uma "petroquímica verde"
247 – O empresário Nelson Tanure formalizou nesta sexta-feira (23) um acordo com a Novonor (antiga Odebrecht) que lhe concede exclusividade por 90 dias nas negociações para adquirir o controle da Braskem, uma das maiores petroquímicas do mundo. A informação foi detalhada pelo jornal Valor Econômico. O pacto, que pode ser prorrogado, representa um marco importante em um processo iniciado em 2018 e pode resultar na maior transação empresarial já protagonizada por Tanure.
Segundo fato relevante divulgado pela Braskem à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a companhia foi comunicada formalmente pela Novonor sobre a proposta. A operação prevê a aquisição indireta do controle por meio de um fundo de investimento ligado ao empresário, mantendo a Novonor como acionista minoritária, com participação entre 3% e 5%.
Petrobras e bancos são peças-chave na equação
Embora o acordo represente avanço significativo, a conclusão da transação depende da anuência de atores fundamentais: os cinco bancos credores da Novonor — Banco do Brasil, BNDES, Bradesco, Itaú e Santander — e, sobretudo, da Petrobras, que detém 36,1% do capital total da Braskem e 47% das ações ordinárias, além de participar do bloco de controle por meio de um acordo de acionistas.
A estatal tem direito de preferência na aquisição das ações da Novonor e ainda não manifestou publicamente sua posição. Segundo o Valor, o período de exclusividade começará a contar apenas após a Petrobras informar se participará ou não da operação. Fontes próximas ao processo indicam que o posicionamento da empresa é considerado decisivo para o avanço das negociações.
Tanure propõe petroquímica verde e aposta na reindustrialização
Em nota à imprensa, Nelson Tanure destacou que a proposta apresentada por seu fundo, Petroquímica Verde, tem como objetivo "contribuir com a estabilidade e o futuro dessa companhia estratégica para o Brasil". O empresário afirmou que seu compromisso é com o longo prazo, com a indústria nacional e com a construção de uma Braskem "ainda mais forte, inovadora e alinhada aos desafios da nova economia".
"Nós acreditamos que ela tem potencial para alcançar a quarta posição [no ranking global]. E o que é mais importante: pode se tornar a primeira petroquímica verde", declarou Tanure, que também enfatizou a importância de manter uma "atuação conjunta, construtiva e duradoura ao lado da Petrobras".
A transformação da Braskem em uma líder mundial na produção de petroquímicos renováveis — com a substituição da nafta pelo gás natural — é um dos pilares do projeto, que também prevê a reestruturação do polo de Camaçari (BA) como centro de inovação em química verde e a ampliação das operações no polo do Rio de Janeiro.
Credores e ivos no centro da negociação
As ações da Novonor na Braskem estão atualmente dadas em garantia a uma dívida de cerca de R$ 15 bilhões com os cinco bancos credores. Tanure, segundo apurou o Valor, não pretende adquirir a dívida, mas renegociá-la, buscando redução do ivo, extensão de prazos e eventual conversão parcial em participação acionária — estratégia semelhante à adotada por ele no caso da Light.
Outro ponto sensível é a questão dos problemas geológicos em Maceió, que representam um ivo estimado em R$ 18 bilhões. Segundo fontes próximas ao investidor, esse desafio está sendo "bem endereçado" como parte fundamental do plano de viabilização da aquisição.
Histórico de tentativas frustradas e novo cenário
A investida de Tanure ocorre após a desistência de outros potenciais compradores, como a Adnoc (Abu Dhabi National Oil Company) e a LyondellBasell, que abandonaram negociações com a Novonor após se aprofundarem nas questões estruturais e judiciais da Braskem. As conversas entre Tanure e a holding começaram há cerca de um ano, mas ganharam impulso com a do novo acordo.
A Novonor confirmou em nota que assinou com o fundo de Tanure um acordo relativo à Braskem, com cláusulas condicionantes como a conclusão de negociações com os bancos e o cumprimento das obrigações com a Petrobras decorrentes do acordo de acionistas.
“Após a comunicação oficial feita ao mercado, as partes se engajarão: (i) em uma diligência compatível com este tipo de operação; (ii) no cumprimento das condições precedentes previstas no acordo; e (iii) na negociação dos documentos definitivos que determinarão os detalhes da parceria”, declarou Tanure.
A Petrobras não se manifestou até o momento da publicação da reportagem. Enquanto isso, o mercado reagiu positivamente à notícia: as ações da Braskem subiram 9,15%, encerrando o dia cotadas a R$ 11,09, com valor de mercado em R$ 8,8 bilhões — ainda distante dos R$ 54 bilhões registrados no auge da indústria petroquímica, em setembro de 2021.
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