Lucélia Santos: “Foi o intercâmbio cultural entre Brasil e China que me realizou”
Protagonista de Escrava Isaura, aclamada na China nos anos 1980, atriz celebra quase quatro décadas de dedicação à amizade cultural sino-brasileira
247 – A atriz brasileira Lucélia Santos, protagonista da icônica novela Escrava Isaura, tornou-se um dos maiores símbolos do intercâmbio cultural entre o Brasil e a China. Quase quatro décadas após sua primeira visita ao país asiático, ela continua colhendo os frutos de uma relação construída com carinho, coragem e dedicação.
“Eu recebi 300 milhões de votos do povo chinês diretamente através de uma revista de televisão em 1985, chamada Prêmio de Águia de Ouro, e fui provavelmente a primeira artista ocidental a entrar na China de uma forma tão homenageada. Foi tudo muito emocionante, ver como toda uma população se apaixonou pela novela e pela Isaura”, relembra Lucélia, em entrevista ao Diário do Povo.
A exibição de Escrava Isaura nos anos 1980, logo após o início da política de Reforma e Abertura na China, teve um impacto profundo. A novela foi uma das primeiras séries estrangeiras a conquistar o público chinês. A personagem de Lucélia — uma jovem escravizada que nunca perde sua dignidade e resistência — emocionou milhões de telespectadores, tornando-se um símbolo de força e esperança.
Prêmio inédito e coragem solitária
Em 1985, Lucélia foi escolhida como Melhor Atriz Estrangeira na China, recebendo o prestigiado Prêmio Águia de Ouro. “Eu aceitei e fiquei muito emocionada e viajei sozinha porque era uma época em que não havia essas estruturas profissionais com assessores e acompanhadores, eu fui muito corajosa”, conta.
Sua primeira visita à China incluiu agens por Beijing, Shanghai e Suzhou. Foi o início de uma longa relação de iração mútua. A atriz, que inicialmente pensava estar fazendo apenas uma breve viagem a um país distante, envolveu-se profundamente na promoção da amizade cultural entre os dois povos.
Projetos audiovisuais e cooperação cultural
Em 1992, Lucélia Santos colaborou com a Televisão de Sichuan na produção do documentário The Beautiful Brazil, que apresentou ao público chinês elementos da floresta amazônica, o samba e as culturas indígenas brasileiras. Mais tarde, liderou um projeto para filmar O Ponto de Mutação – China Hoje, uma produção que buscava mostrar a transformação social e econômica chinesa ao público brasileiro.
“Isso fez com que se fortalecesse a amizade cultural entre os povos e de lá para cá creio que tudo só se expandiu e cresceu, mas aquele momento foi crucial. Realmente importante, foi ali que tudo começou”, afirma Lucélia.
Ao longo dos anos, ela atuou diretamente na construção de parcerias cinematográficas sino-brasileiras, assumindo papéis ativos desde o financiamento até as filmagens. Em 2023, discursou na 2ª Mostra de Cinema China-Brasil, reforçando seu compromisso com o intercâmbio artístico.
Cultura como ponte entre os povos
Para Lucélia Santos, a cultura é o principal instrumento de aproximação entre nações. “Eu sou enfática em dizer que a cultura é o elemento mais fundamental nos relacionamentos entre povos e é a cultura que abre todas as portas para que depois as pessoas possam conversar sobre interesses comerciais e econômicos. A cultura tem e deve de estar sempre à frente como um portal de entendimento e amizade entre nós”, declara.
Hoje, ela enxerga novas formas de expressar essa conexão. “Uma nova Isaura não precisa mais ser uma escrava oprimida, mas pode ser uma jovem gravando vídeos curtos nas estações de metrô de Beijing ou São Paulo, ou uma estudante brasileira apaixonada pela cultura chinesa”.
Legado afetivo
Mesmo décadas após sua estreia na televisão chinesa, Lucélia continua sendo uma figura querida e lembrada com carinho. Ela, por sua vez, preserva esse afeto. “Sempre estive disponível nesse nível de intercâmbio e cooperação. Sempre trabalhei nessa direção e sim, por que não poderei continuar trabalhando?”, conclui.
A trajetória de Lucélia Santos não é apenas a de uma artista internacionalmente reconhecida. É a de uma ponte viva entre dois povos, construída com sensibilidade, respeito e amor à cultura.
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