Na França, Lula alerta para risco de "apartheid climático"
Presidente defende financiamento climático internacional e afirma que sem recursos, pobres pagarão sozinhos pelos efeitos do aquecimento global
247 - Em visita oficial à França, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva destacou a urgência de enfrentar a crise climática com ambição e solidariedade internacional. Ao lado do presidente francês Emmanuel Macron, Lula alertou que, sem o financiamento prometido pelos países desenvolvidos, o mundo pode caminhar para um “apartheid climático”, em que os mais pobres serão os mais penalizados pelos efeitos do aquecimento global. A declaração foi feita nesta quarta-feira (5), durante pronunciamento à imprensa.
“Sem mobilizar US$ 1,3 trilhão para o enfrentamento para a mudança do clima, corremos o risco de criar um apartheid climático”, afirmou o presidente. Lula cobrou o cumprimento da promessa feita em 2009, durante a COP15 em Copenhague, quando os países mais ricos se comprometeram a destinar US$ 100 bilhões por ano para ações de mitigação e adaptação em nações em desenvolvimento. “Eu estava na COP15, na Dinamarca, quando os países mais desenvolvidos prometeram uma contribuição financeira para ajudar os países que ainda têm floresta em pé a manter sua floresta em pé”, lembrou.
Financiamento climático e justiça social - O presidente brasileiro defendeu que os recursos internacionais não devem ser disputados por países como a França por conta de territórios ultramarinos. “A França não pode entrar na partilha desse dinheiro por causa da Guiana sa, porque a Guiana sa está na parte mais pobre do mundo, mas a França está na parte mais rica do mundo. Então a França não é receptora. A França tem que ser doadora desse dinheiro”, declarou.
Lula ressaltou que a preservação das florestas depende diretamente das comunidades que vivem nelas. “É importante dizer sempre que embaixo de cada árvore deve ter algum indígena, um pescador, um extrativista, um seringueiro, um pequeno produtor rural. E que é importante garantir a esta gente o direito de se manter na floresta vivendo com o mínimo de qualidade de vida”, disse.
Brasil e França unidos pelo clima - A visita à França marca o início de uma nova fase na cooperação ambiental entre os dois países. Lula anunciou a de dois acordos voltados à transição energética: um para a promoção do hidrogênio de baixo carbono e outro para a descarbonização do setor marítimo. “Firmamos hoje dois atos que fortalecerão a cooperação em matéria de hidrogênio de baixo carbono e de descarbonização do setor marítimo”, declarou.
O presidente destacou ainda a relevância dos biomas oceânicos no combate à mudança climática e adiantou sua participação na próxima Conferência da ONU sobre Oceanos, em Nice. “Os biomas marítimos demandam o mesmo nível de atenção e de compromisso que as florestas tropicais”, afirmou. “É chegada a hora de cumprirmos as promessas que fizemos para o planeta e para as futuras gerações.”
Metas brasileiras e liderança climática - Lula reafirmou o compromisso do Brasil com metas ambiciosas de redução de emissões. Segundo ele, o país apresentará até novembro suas novas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), com cortes entre 59% e 67% nas emissões de gases de efeito estufa até 2035, abrangendo todos os setores da economia. “Não é uma tarefa fácil. Ninguém pediu para a gente assumir essa responsabilidade. Nós assumimos por interesse e compromisso do governo”, destacou.
O presidente também enfatizou o papel da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, na articulação internacional pelo cumprimento do Acordo de Paris e pela ampliação do financiamento climático. Segundo Lula, Marina “tem muito a discutir sobre as questões climáticas, desde o cumprimento do Acordo de Paris até a novidade que é o financiamento para que a gente possa atingir as metas determinadas no Acordo de Paris”.
Amazônia como eixo da relação franco-brasileira - Para Lula, a Amazônia deve estar no centro da parceria com a França. Ele ressaltou que a maior fronteira terrestre da França não está na Europa, mas na América do Sul, com o Brasil, por meio da Guiana sa. “A França deveria estar para a América do Sul como está para a Europa. A França é também sul-americana”, afirmou.
A criação do Centro Franco-Brasileiro de Biodiversidade Amazônica, prevista para este ano, deverá financiar pesquisas conjuntas e integrar os esforços de preservação ambiental. Além disso, Lula destacou a importância da cooperação entre as polícias dos dois países no combate ao garimpo e desmatamento ilegais.
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