GAC Motor aposta no Brasil como base estratégica na América Latina
Com investimento de US$ 1,3 bilhão, montadora estatal chinesa planeja produzir carros elétricos e híbridos no País
247 - A GAC Motor, primeira montadora estatal chinesa a se instalar no Brasil, quer transformar o País em um centro estratégico de produção e exportação para toda a América Latina. Em entrevista ao Estadão, o CEO da GAC International, Wei Haigang, detalhou os planos da empresa, que incluem produção local, centro de pesquisa, geração de empregos e o lançamento de cinco modelos no mercado brasileiro — quatro elétricos e um híbrido.
“Queremos nos desenvolver como uma excelente empresa de automóveis, realizar contratações de funcionários locais e assim contribuir com o desenvolvimento do País”, afirmou Wei, conhecido como Dr. Wei, durante a entrevista. A GAC é controlada pelo governo da província de Guangdong, no sul da China, e está vinculada ao Partido Comunista Chinês.
Na última semana, o executivo foi recebido em audiência pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, tornando-se o primeiro CEO chinês do setor automotivo a ter um encontro oficial com o líder brasileiro. Na reunião, ele apresentou os investimentos previstos, agora da ordem de US$ 1,3 bilhão, e reiterou a intenção de fazer do Brasil um polo de produção para abastecer não só o mercado interno, mas também países vizinhos.
“A longo prazo queremos que o Brasil seja a nossa base para América do Sul e América Latina. Temos um plano de longo prazo para toda a região”, afirmou o CEO, ao comentar os planos de instalação de linhas de montagem de três modelos — Aion V, Emkoo e Hyper HT — ainda em 2025.
Produção local e geração de empregos - Inicialmente, os veículos chegarão importados da China e serão lançados oficialmente no Brasil na próxima sexta-feira (23), em São Paulo. A expectativa é comercializar cerca de 7 mil unidades até o fim do ano e gerar aproximadamente 7 mil empregos diretos e indiretos.
Wei também confirmou negociações com a HPE Automotores, em Catalão (GO), para montar os veículos localmente, e revelou que a empresa avalia instalar um centro de Pesquisa e Desenvolvimento na região Nordeste. “Vamos trabalhar com universidades brasileiras e desenvolver motores híbridos flex, a etanol, adaptados às condições locais”, anunciou.
Estratégia diante da guerra comercial e da concorrência - Questionado sobre os impactos da guerra tarifária entre China e Estados Unidos, o executivo disse que o cenário tem aproximado Brasil e China. “Essa guerra comercial levou o Brasil e a China, e também países da cooperação Sul-Sul, a se aproximarem e trabalharem juntos”, avaliou.
A GAC chega ao Brasil em um momento de tensão com a indústria nacional, que pressiona o governo a antecipar a taxação de 35% sobre carros importados. Segundo Wei, a montadora está ciente do impacto e prepara medidas para mitigar os efeitos. “Vamos estabelecer nossa produção local para lidar com o impacto do imposto”, disse.
Marca e infraestrutura de recarga - Embora novas montadoras chinesas estejam apostando em modelos populares, a GAC quer se posicionar como uma marca . Os preços dos veículos só serão revelados no evento de lançamento. “Queremos oferecer melhores produtos, melhores serviços e experiências aos clientes brasileiros”, disse.
A empresa também pretende atuar na infraestrutura de recarga para veículos elétricos. “Vamos construir pontos de recarga rápida em frente às concessionárias e trabalhar com empresas locais para expandir esse serviço”, explicou.
Relação com o governo e apoio à industrialização verde - Durante a reunião com o presidente Lula, a GAC se comprometeu a apoiar iniciativas ligadas à COP-30 e ao programa Mover (antigo Rota 2030), voltado à transição ecológica da indústria automotiva. “Queremos contribuir com soluções mais verdes e inteligentes”, afirmou Wei.
A empresa já conta com um depósito de peças de reposição em São Paulo, demonstrando sua estratégia de chegar ao mercado com estrutura de pós-venda e e técnico. “As autopeças chegaram ao Brasil antes mesmo dos nossos veículos”, ressaltou o executivo, destacando o compromisso com o serviço ao cliente.
Imagem e confiança - Ao ser questionado sobre o desafio de mudar a imagem de que carros chineses seriam de baixa qualidade, Wei foi direto: “Acreditamos que o lançamento de carros de alta qualidade vai mudar essa imagem muito em breve.” A GAC também quer ser vista como uma embaixadora cultural da China no Brasil e já avalia patrocinar times de futebol no País.
"Presenteamos Lula com a camisa oficial do nosso clube de futebol, o Guangdong GZ-Power. Queremos promover o intercâmbio cultural e esportivo entre China e Brasil", concluiu.
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