Servidores da Abin se recusaram a prestar informações sobre sistema de espionagem, diz ex-diretor
Carlos Afonso Coelho afirmou em depoimento que os servidores foram agressivos ao serem questionados sobre o software FirstMile
247 - Durante depoimento prestado nesta sexta-feira (23), o ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), delegado Carlos Afonso Gonçalves Gomes Coelho, relatou que servidores da agência se recusaram a fornecer informações sobre o sistema de monitoramento FirstMile e chegaram a agir de forma agressiva durante uma apuração interna. As informações são da CNN Brasil.
As declarações ocorreram no âmbito da investigação que apura uma tentativa de golpe de Estado em 2022. A audiência foi realizada no Supremo Tribunal Federal (STF), e Coelho foi indicado como testemunha pela defesa do deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), também ex-diretor da Abin.
A Polícia Federal investiga o uso ilegal do software FirstMile — ferramenta de geolocalização de celulares desenvolvida pela empresa israelense Cognyte (ex-Verint). A tecnologia teria sido usada pela Abin para rastrear autoridades públicas sem autorização judicial, em suposta atuação de uma estrutura clandestina dentro do órgão, conhecida como “Abin paralela”.
Coelho relatou que, ao iniciar uma auditoria sobre contratos de tecnologia da informação na agência, encontrou resistência ao tentar obter informações sobre o FirstMile. “O gestor de contrato, quando ele foi questionado sobre a regularidade da ferramenta e para prestar outras informações, ele se mostrou recalcitrante”, afirmou. Segundo ele, o servidor Marcelo Furtado, responsável pelo contrato, chegou a declarar que “não se sentia à vontade” para responder às solicitações.
O ex-diretor também relatou um episódio de hostilidade com o então chefe do Departamento de Operações de Inteligência da Abin, Paulo Maurício Fortunato. “Ele foi agressivo, disse que eu não tinha que me imiscuir em assuntos da atividade-fim e que aquilo deveria ser tratado no âmbito da direção-adjunta”, relatou Coelho.
Diante da resistência, Coelho afirma ter levado a situação ao conhecimento de Alexandre Ramagem e do diretor-adjunto da agência, que, segundo ele, determinaram a abertura de investigação interna. Ramagem teria acionado a corregedoria da Abin para apurar a contratação e o uso do software.
Apesar de ter sido ouvido como testemunha, Coelho também é investigado na operação Última Milha, da Polícia Federal, que apura a atuação da chamada “Abin paralela”. A estrutura teria monitorado ilegalmente ao menos 22 pessoas, incluindo ministros do Supremo Tribunal Federal, parlamentares, jornalistas e servidores públicos, entre 2021 e 2022.
Por ser alvo da investigação, o procurador-geral da República, Paulo Gonet, chegou a solicitar que o depoimento de Coelho não fosse colhido. O pedido foi negado pelo ministro Alexandre de Moraes, que autorizou a oitiva na condição de informante — o que significa que ele não foi obrigado a prestar compromisso de veracidade nem a responder perguntas que pudessem incriminá-lo.
❗ Se você tem algum posicionamento a acrescentar nesta matéria ou alguma correção a fazer, entre em contato com [email protected].
✅ Receba as notícias do Brasil 247 e da TV 247 no Telegram do 247 e no canal do 247 no WhatsApp.
Assine o 247, apoie por Pix, inscreva-se na TV 247, no canal Cortes 247 e assista: