Deputados do PDT veem Wolney como ministro da cota pessoal de Lula e sinalizam debandada
Substituição de Carlos Lupi por secretário-executivo expõe desgaste entre PT e PDT e pode provocar afastamento da sigla no Congresso
247 – O pedido de demissão do ministro da Previdência, Carlos Lupi, nesta sexta-feira (2), aprofundou as tensões entre PT e PDT e abriu caminho para um possível distanciamento da bancada pedetista no Congresso. A informação é da Folha de S.Paulo, que revelou os bastidores da crise no INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), marcada por descontos ilegais em aposentadorias e pensões. Embora Lupi não fosse investigado, integrantes do governo avaliaram que ele falhou ao não adotar providências eficazes para conter o esquema, o que levou à sua saída.
A nomeação do ex-deputado Wolney Queiroz (PDT-PE), atual secretário-executivo da Previdência, para substituir Lupi na pasta foi recebida com desconforto por deputados do próprio partido, que consideram a escolha como sendo da "cota pessoal" do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A avaliação entre parlamentares é de que o partido foi desconsiderado no processo de substituição e que a escolha de Queiroz não representa o PDT institucionalmente. "A indicação não foi discutida com a bancada, nem com a direção partidária", disseram aliados de Lupi ouvidos pela reportagem.
Com 17 deputados federais, o PDT vinha figurando entre as legendas mais fiéis ao governo nas votações da Câmara. No entanto, após o afastamento de Lupi e a forma como se deu a transição, líderes do partido indicam que a legenda pode ar a adotar uma postura de maior independência nas próximas votações. Deputados falam em “fritura” do ex-ministro e “desprestígio” ao PDT, sobretudo pelo fato de Lupi não ter sido sequer consultado sobre a nomeação do novo presidente do INSS, o procurador Gilberto Waller Júnior, que substitui Alessandro Stefanutto, exonerado após operação da Polícia Federal e da Controladoria-Geral da União.
A tensão atual é mais um capítulo de uma longa relação de altos e baixos entre PT e PDT, iniciada ainda nos anos 1980. As siglas disputaram a hegemonia da esquerda no fim da ditadura militar e mantêm rivalidades históricas desde a eleição presidencial de 1989, quando Lula foi ao segundo turno e Leonel Brizola, então líder pedetista, ficou em terceiro lugar. Em 1998, estiveram juntos numa chapa presidencial, mas em seguida voltaram a se afastar. Lupi, que presidia o partido e já havia sido ministro do Trabalho nos governos do PT, deixou o cargo no governo Dilma Rousseff em 2011, após denúncias sobre sua relação com ONGs e revelações de que atuava como funcionário fantasma da Câmara dos Deputados.
Mais recentemente, o PDT lançou Ciro Gomes como candidato à Presidência em 2018 e 2022, mantendo-se distante do PT mesmo na oposição ao governo de Jair Bolsonaro. Durante a campanha de 2022, Ciro dividiu ataques entre Lula e Bolsonaro, o que gerou forte irritação no petismo, que tentava atrair votos úteis no primeiro turno. O rompimento mais simbólico veio no Ceará, reduto político dos irmãos Ciro e Cid Gomes, após o PDT lançar Roberto Cláudio ao governo estadual, contrariando a preferência do PT pela reeleição de Izolda Cela. O PT venceu a disputa com Elmano de Freitas, e o episódio resultou em um racha entre os irmãos Gomes. Cid se aproximou do PT e, em 2024, migrou para o PSB, levando consigo 40 prefeitos.
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