Significado da visita de Lula à Rússia e à China
A Rússia e a China Socialista são duas grandes potências mundiais que, atuando em aliança granítica, representam o principal pilar da nova ordem mundial
As duas visitas que Lula fez à Rússia e à China revestiram-se da maior importância, poderia mesmo dizer, de significado estratégico. Iniciadas dia 8 e encerradas no dia 13 de Maio de 2025. A Rússia e a China Socialista são duas grandes potências mundiais que, atuando em aliança granítica, representam o principal pilar da nova ordem mundial ora em consolidação, o mundo multipolar. Países que lutam para que essa nova era seja de paz, de desenvolvimento compartilhado.
Na Rússia a viagem foi essencialmente política em um momento em que todo o Ocidente coletivo, EUA à frente, fazia violentas pressões para tentar esvaziar o grande ato comemorativo dos 80 anos de vitória sobre o nazismo. Na mente dessa gente qualquer ato que se realizasse em Moscou serviria para engrandecer a Rússia, diminuir a Ucrânia e seus apoiadores dos EUA e da OTAN. Lula resolveu enfrentar as pressões e foi. Em Moscou, manteve profícua conversação com o anfitrião, o presidente Putin com o qual, mais uma vez, reforçou a vontade brasileira para uma solução que leve a paz ao conflito russo-ucraniano. Além disso, foram firmados protocolos de intenções comuns para a área energética, exploração de urânio, combustível e gás natural. Lá também encontrou-se com Xi Jinping, o que voltaria a acontecer dias mais tarde em Pequim.
Na China realizou-se a 4ª reunião ministerial do Fórum China-Celac, a Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos, aberto por Xi Jinping, no qual Lula esteve presente. Além disso, esteve reunido o Fórum Empresarial Brasil-China, em Pequim, prestigiado por Lula que se encontrou com executivos de grupos econômicos que chegaram a anunciar a intenção de investimentos da ordem de 27 bilhões de dólares no Brasil. Isso pode significar o renascimento da Celac.
Em ambos os países foram assinados cerca de 5 dezenas de acordos em setores estratégicos, com ênfase em energia, mobilidade, tecnologia e agronegócio.
A importância que Lula deu a essas viagens fica esclarecida quando se vê o peso da delegação que o acompanhou, nada menos que 12 ministros de Estado, entre os quais a ministra da Ciência e Tecnologia, Luciana Santos que é também presidente do PcdoB, dois governadores, além de vários parlamentares e presidentes de instituições nacionais.
Mas o que significa tudo isto? É que diante da cada vez mais tensa situação internacional o governo Lula ou a ser alvo de variadas ameaças por parte dos países do Ocidente Coletivo, em assuntos e situações muito sensíveis a exemplo da intervenção militar russa na Ucrânia, da nova escalada de guerra na Palestina, das eleições presidenciais venezuelanas, do fortalecimento e novo ingresso de novos países membros nos Brics e uma série de outras semelhantes.
E, diante dessas pressões, o governo Lula adotou posições dúbias ou mesmo equivocadas onde nem sempre a equidistância era possível. Assim foi nas eleições venezuelanas com a exigência esdrúxula de atas eleitorais, no veto à entrada da Venezuela nos Brics, na dubiedade no conflito russo-ucraniano, na equidistância inicial entre Israel e Palestina no conflito entre os dois países, nas dúvidas em relação à proposta chinesa de Cinturão Rota.
Mas como é que os fatos foram evoluindo? Enquanto os EUA de Trump, país líder do Ocidente Coletivo desencadearam uma guerra comercial contra praticamente todo o resto do mundo, os países do Sul Global, onde se destacam Rússia e China, se mostraram e se mostram acolhedores, amigáveis, solidários. Ou seja, de um lado pequeno desenvolvimento, crise, recessão, poucas possibilidades de investimento, ameaças, sanções, tarifas, ou, numa palavra decadência e subordinação; de outro, crescimento econômico, busca de alternativas à ditadura do dólar, propostas de desenvolvimento compartilhado, comércio ganha-ganha, muitos investimentos, respeito à soberania nacional e estímulo ao multilateralismo. O que quero dizer é que os próprios fatos vão empurrando o Brasil para se alinhar mais claramente a um campo onde seus interesses possam ser viabilizados. O mundo multipolar que vai se consolidando oferece alternativas concretas por onde se pode escapar ao cerco imperialista.
Penso que as críticas por parte de alguns setores da esquerda que colocavam o governo Lula através do Itamarati como capitulacionista, subordinado aos EUA, vacilante em relação aos Brics, e à China se mostraram exageradas e precipitadas. Isso foi o que ficou demonstrado no resultado da viagem de Lula. Agora, a extrema direita, os setores mais pró-americanos da sociedade e da grande imprensa am a atacar violentamente a política externa do governo Lula, chegando a afirmar que Lula envergonha o Brasil ao se alinhar a facínoras e a governos autoritários.
Os precipitados da esquerda não chegaram a compreender a natureza das pressões internacionais imperialistas e a itir a possibilidade de manobras e recuos. Ao invés de fazerem a crítica construtiva dos erros cometidos pelo governo, preferem o caminho disruptivo, mais fácil. Desconhecem na prática que o governo não é oriundo de um movimento revolucionário ou mesmo de um movimento de massas radicalizado. É, ao contrário, um governo que não conta com maioria parlamentar e é obrigado a manobrar para sobreviver. A direita reacionária, por sua vez, mostra seus dentes afiados, destila veneno para enfraquecer o governo com vistas a voltar ao poder em 2026.
Portanto, o balanço da viagem de Lula à Rússia e à China é extremamente positivo. Para os interesses do Brasil e do povo brasileiro, para os interesses da luta contra-hegemônica que trava o Sul Global contra o Ocidente Coletivo.
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