Os desafios do Lula 4
'O conjunto de políticas sociais não foi suficiente para deslocar o capital especulativo como eixo da economia. Esse é o principal desafio', escreve Emir Sader
A reeleição do Lula é importante, em primeiro lugar, para evitar a possibilidade de retorno da direita à presidência do Brasil. Pelas pesquisas, Lula derrotaria a todos os possíveis adversários, mesmo se não está claro quem será o candidato da direita.
O Lula 3 se enfrentou, pela primeira vez, à circunstância de ter que governar sem maioria no Congresso. Tendo que negociar cada iniciativa, que fazer aliança com setores do centro, incluindo a incorporação de membros desse setor ao governo.
Foi possível realizar um governo frontalmente anti-neoliberal, centrado na prioridade das políticas sociais e no fortalecimento do Estado. Avançou uma reforma tributária em que quem ganha mais paga mais e um amplo setor da população deixa de pagar imposto de renda.
Outras iniciativas ficam pendentes, dependendo de negociações com o Congresso. Ao mesmo tempo, o governo enfrentou, como sempre, os meios de comunicação, como principal partido da oposição.
Um dos maiores desafios de um novo governo do Lula é o da eleição de um Congresso com maioria – desafio muito difícil. Talvez seja eleito um Congresso menos ruim que o atual, mas dificilmente Lula poderá governar de novo com maioria parlamentar.
Outro desafio se dá no plano econômico. Apesar do conjunto de políticas sociais que o governo implementa, conseguindo diminuir as desigualdades sociais e regionais e os processos de exclusão social, chegando ao pleno emprego, não foi suficiente para deslocar o capital especulativo como eixo da economia.
Esse é o principal desafio a enfrentar. Como ar do antineoliberalismo ao pós-neoliberalismo, isto é, da estrutura econômica que ainda tem seu centro no capital especulativo, a uma centrada no desenvolvimento econômico.
A inflação, como fenômeno real, mas também como fenômeno psicológico, que gera inseguranças na população, cujos aspectos são explorados fortemente pelos meios de comunicação, é um desafio complexo. A elevação da taxa de juros – expressa por um presidente do Banco Central que destoa das orientações gerais do governo – defende o governo do fantasma da inflação. Mas, ao mesmo tempo, representa um obstáculo para a retomada sustentável do crescimento econômico.
O Lula 4 teria, assim, que derrotar o capital especulativo, promovendo a agem da economia para uma etapa de desenvolvimento industrial sustentável. Teria que superar esse dilema entre estabilidade e crescimento econômico.
Além dessas questões, o Lula 4 deveria enfrentar, finalmente, o desafio de terminar de vez com o analfabetismo no Brasil. Tanto o analfabetismo real, como o funcional, aquele em que as pessoas tiveram condições de ler e escrever, mas com dificuldades de aplicar esses conhecimentos nas situações cotidianas. A taxa de analfabetismo no país é de cerca de 7%, cerca de 11,4 milhões de pessoas. O analfabetismo funcional é muito maior, cerca de 29% da população.
A maior dificuldade para terminar com o analfabetismo está em que a maior parte desse setor da população está entre os mais idosos, com as dificuldades correspondentes de convencê-los e lograr efetivamente que possam ser alfabetizados. Quanto aos analfabetos funcionais, depende da capacidade de programas que promovam a atividade de leitura e compreensão por parte desse setor amplo da população. Em suma, o sucesso do Lula 4 depende não apenas de políticas econômicas e sociais, mas de ênfases em questões como a de tornar o Brasil um território livre do analfabetismo.
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