Galípolo: o menino de ouro do presidente Lula ou o bezerro de ouro da Faria Lima?
Se não bastassem os juros abusivos, ele agora abraça a PEC 65, projeto desenhado por Campos Neto para facilitar a captura do BC pelo capital financeiro
O economista Gabriel Galípolo foi apresentado ao público pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como o “menino de ouro” da economia brasileira — jovem, sofisticado e de quem se esperava criatividade para reverter a política monetária desastrosa de seu antecessor Roberto Campos Neto. Mas, ados poucos meses desde que assumiu a presidência do Banco Central, sua atuação tem deixado uma pergunta desconfortável no ar: teria ele traído as expectativas e se transformando em um “bezerro de ouro” dos rentistas e da Faria Lima?
A pergunta não é gratuita. A manutenção da taxa Selic em absurdos 14,75% ao ano representa uma esdrúxula oferenda aos interesses do rentismo parasitário – o que destrói as finanças públicas e aumenta as pressões por cortes de gastos e até por privatizações de empresas estratégicas como a Petrobras e os bancos públicos. Enquanto a população e o setor produtivo enfrentam os efeitos do crédito caríssimo, bancos e fundos seguem acumulando ganhos bilionários à sombra da política monetária mais abusiva do planeta. No início de sua gestão, ainda era possível atribuir essa conduta ao “guidance” herdado de Campos Neto — um legado provisório e que seria rapidamente revertido.
No entanto, com sua recente defesa da PEC 65 — proposta de Emenda Constitucional que amplia a autonomia financeira do Banco Central —, Galípolo parece ter cruzado o Rubicão. A PEC foi concebida ainda sob Campos Neto e representa, na prática, uma tentativa de privatização informal da instituição e blindagem adicional da autoridade monetária contra qualquer controle democrático. O que antes podia ser interpretado como cautela, hoje soa como adesão explícita a um projeto de captura institucional do Estado por interesses privados – em especial do capital financeiro.
Não é à toa que a proposta despertou reação tanto dentro quanto fora do Banco Central. A defesa da PEC 65 por Galípolo causou incômodo entre os próprios servidores da casa. Há o temor de que a medida torne a instituição ainda mais refém de pressões do sistema financeiro, dificultando a condução de uma política monetária comprometida com o desenvolvimento e com o pleno emprego — pilares que, aliás, deveriam orientar um Banco Central comprometido com a sociedade e não apenas com aqueles que se consideram seus donos informais.A resistência do PT também se intensificou. O partido, que historicamente combateu a autonomia excessiva do BC, vê na PEC 65 uma ameaça grave ao controle público da instituição. O deputado Lindbergh Farias, líder da legenda na Câmara, afirmou que Galípolo sequer dialogou com a bancada sobre a proposta. A crítica não se resume à forma, mas ao conteúdo: trata-se de uma iniciativa que afasta ainda mais o Banco Central das metas de política econômica do governo legitimamente eleito.
O momento é decisivo. Galípolo pode reafirmar sua condição de economista progressista comprometido com o país, ou seja, como o “menino de ouro” de Lula, reorientando sua atuação para além dos dogmas de austeridade e do servilismo ao mercado. Ou pode optar por consolidar sua imagem como o novo “bezerro de ouro” adorado pela Faria Lima, à custa do povo brasileiro e de seu desenvolvimento. É hora de fazer escolhas — e assumir as consequências.
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