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      Luis Mauro Filho

      Luis Mauro Filho é jornalista, formado em Estudos de Mídia pela Universidade do Wisconsin, e é editor do Brasil 247.

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      Cem dias de Trump 2.0: EUA mais isolados, conflagrados e sem rumo global

      "Cem dias depois da posse, a América de Trump está mais isolada, desconfiada, conflagrada e imprevisível. E o mundo já sente os efeitos", diz Luis Mauro Filho

      Presidente dos EUA, Donald Trump, fala enquanto assina decretos no Salão Oval da Casa Branca, em Washington - 09/04/2025 (Foto: REUTERS/Nathan Howard)

      247 - O segundo mandato de Donald Trump começa como um dos mais turbulentos da história recente dos Estados Unidos. Em apenas três meses, o presidente republicano reacendeu conflitos internos, desmontou alianças internacionais e abalou a credibilidade econômica do país. O saldo dos 100 primeiros dias é de polarização, autoritarismo e crescente perda de protagonismo global.

      Internamente, o presidente aprofundou sua cruzada contra imigrantes e minorias. Reforçou a repressão na fronteira com o México, acelerou deportações — inclusive de pessoas sem antecedentes criminais — e bloqueou proteção legal a migrantes vulneráveis. Em paralelo, suspendeu programas federais de diversidade e inclusão, perseguiu universidades e incentivou estados a adotarem medidas contra pessoas trans. Governadores que resistiram, como a do Maine, sofreram cortes de verbas federais.

      O sistema universitário e científico virou alvo direto. Trump cortou recursos de universidades, suspendeu contratos federais e pressionou por demissões de cientistas — sobretudo estrangeiros. Harvard, Yale e Columbia enfrentaram ameaças de perda de isenção fiscal e congelamento de verbas. O resultado foi uma fuga de cérebros: universidades europeias relatam aumento na procura de pesquisadores norte-americanos em busca de estabilidade. França, Alemanha e Espanha anunciaram programas de acolhimento e financiamento de laboratórios para cientistas expatriados.

      Na economia, o chamado “tarifaço” se tornou o epicentro da crise. Trump impôs tarifas de até 145% sobre produtos da China e novos encargos contra Canadá, México e União Europeia. A justificativa: reequilibrar o comércio e punir países acusados de colaborar com o tráfico de fentanil. A consequência foi imediata: contração de 0,3% no PIB do primeiro trimestre, queda nos investimentos e pânico em Wall Street. O índice Dow Jones recuou 400 pontos em um só dia.

      Até apoiadores bilionários do presidente romperam. O investidor Bill Ackman chamou as tarifas de “suicídio econômico”, enquanto o CEO do JPMorgan, Jamie Dimon, alertou que a política comercial pode levar o mundo à recessão e enfraquecer os EUA globalmente. Elon Musk, espécie de conselheiro ideológico do governo Trump, criticou o fechamento de mercado. A instabilidade regulatória, dizem analistas, deixou empresas sem horizonte de médio prazo.

      No campo internacional, a diplomacia de Trump fracassou logo no primeiro grande teste: a guerra na Ucrânia. Durante a campanha, o presidente prometeu encerrar o conflito em 24 horas. Mas, ao se reunir com o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, Trump exigiu concessões à Rússia, cortou ajuda militar e ameaçou abandonar o país aliado. O episódio foi descrito por diplomatas europeus como um “espetáculo constrangedor”. Moscou comemorou.

      Já as negociações com o Irã sobre o programa nuclear avançaram pontualmente, com mediação de Omã. Mas seguem travadas por desconfiança mútua e pressão de Israel. Teerã aceita negociar apenas por intermédio de terceiros e resiste à exigência de Trump por diálogo direto. Em paralelo, Israel pressiona por uma ofensiva militar. O presidente dos EUA não descartou apoiar uma ação contra o Irã caso não haja acordo. A ambiguidade alimenta o risco de escalada regional.

      Com esse conjunto de ações — ataques a minorias, desmonte de instituições, tarifação global, rompantes diplomáticos — os EUA vão se isolando. Países aliados como Canadá e Alemanha já buscam novas articulações. A credibilidade americana como liderança global enfraquece, enquanto potências rivais como China e Rússia ocupam espaço. A diplomacia ocidental assiste perplexa.

      Analistas apontam um projeto ideológico por trás do caos: Trump aposta num nacionalismo autoritário para tentar conter a perda de hegemonia dos EUA. A ordem multilateral construída desde a Segunda Guerra é desmontada em ritmo acelerado. A pergunta que fica: até onde Trump pode ir sem implodir as bases institucionais e econômicas do próprio país?

      Cem dias depois da posse, a América de Trump está mais isolada, desconfiada, conflagrada e imprevisível. E o mundo já sente os efeitos.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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