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      Washington Araújo

      Jornalista, escritor e professor. Mestre em Cinema e psicanalista. Pesquisador de IA e redes sociais. Apresenta o podcast 1844, Spotify.

      78 artigos

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      A grande contradição: a IA extermina empregos ou só os reinventa?

      Enquanto especialistas preveem desemprego em massa, outros apostam em uma reinvenção radical do trabalho

      Imagem: Unsplash

      Desde novembro de 2022, como professor universitário, tenho dedicado meus estudos acadêmicos à Inteligência Artificial (IA) e suas profundas implicações na organização das sociedades. Nos últimos dois meses, para elaborar este artigo, mergulhei em um processo intenso de escrita e reescrita, checando fontes confiáveis, revisando publicações relevantes e desenvolvendo reflexões com colegas da academia. O resultado é uma análise abrangente do impacto da IA no mercado de trabalho global, que busca esclarecer tanto os desafios quanto as oportunidades dessa transformação tecnológica.

      A IA segue remodelando o mercado de trabalho global, trazendo inovação e incertezas. Em 2025, a narrativa alarmista de que a IA eliminará milhões de empregos convive com uma realidade mais complexa: a tecnologia, ainda em fase inicial, depende de supervisão humana, cria novas funções e exige adaptação contínua. 

      Longe de ser uma ameaça apocalíptica, a IA molda um futuro onde a colaboração entre humanos e máquinas pode impulsionar produtividade e criatividade, desde que enfrentemos seus desafios éticos, regulatórios e sociais. Este artigo explora o impacto global da IA no trabalho, equilibrando o sensacionalismo com a promessa de um mercado dinâmico, inclusivo e humano.

      Um Mercado Global em Transformação

      A IA está redesenhando o trabalho em escala mundial. Segundo o World Economic Forum (WEF) no relatório Futuro do Trabalho 2025, a automação pode eliminar 85 milhões de empregos até o fim deste ano, mas criar 97 milhões de novas funções, especialmente em áreas que demandam interação humano-máquina. 

      Um estudo da McKinsey de janeiro de 2025 revela que 75% das empresas globais utilizam IA generativa, automatizando tarefas como análise de dados, criação de conteúdo e atendimento ao cliente. 

      Nos Estados Unidos, 68% dos profissionais usam IA diariamente, enquanto na China a adoção em manufatura cresceu 20% desde 2023, segundo a Deloitte. Na Europa, 32% dos empregos estão expostos à IA generativa, com 5,7% potencialmente automatizáveis, conforme a Organização Internacional do Trabalho (OIT).

      No entanto, o temor de substituição em massa é exagerado. Modelos de IA como ChatGPT, DeepSeek, Grok, Gemini, Perplexity e Claude são propensos a “alucinações” — respostas falsas ou absurdas geradas com aparente convicção. 

      Esses erros crassos, como informações factualmente incorretas ou irrelevantes, podem comprometer decisões importantes. Em 2023, o ChatGPT inventou um precedente jurídico em um tribunal americano, causando constrangimento a advogados. 

      Em 2024, o DeepSeek fabricou dados financeiros de uma empresa inexistente, confundindo analistas asiáticos. O Perplexity citou um artigo acadêmico fictício em uma pesquisa europeia, enquanto o Claude errou a data de um evento histórico em uma consulta educacional na Austrália em 2025. 

      Esses casos evidenciam a fragilidade da IA reforçando a necessidade de supervisão humana para corrigir falhas e mitigar vieses.

      Hype Versus Realidade: Uma Revolução em Fase Inicial

      A narrativa de que a IA generativa substituirá trabalhadores em larga escala é alimentada por manchetes sensacionalistas, ou “hype” — termo em inglês que descreve propaganda exagerada, expectativas infladas ou promessas que superestimam as capacidades reais de uma tecnologia. 

      Esse hype sobre a IA ignora seus limites atuais, como resultados inconsistentes e dependência de intervenção humana, promovendo uma visão distorcida de automação total. 

      Na prática, os dados apontam para um cenário nuançado. Um estudo do MIT de 2024 indica que apenas 11% dos projetos piloto de IA generativa geram resultados significativos, e menos de 10% são aplicados em processos críticos. 

      Empresas como a OpenAI empregam milhares de revisores humanos para corrigir erros, desmentindo a ideia de automação completa. A tecnologia está em uma fase experimental, semelhante à eletricidade no início do século 20 ou à internet nos anos 1990, com desafios técnicos e éticos a superar.

      As alucinações da IA decorrem de dados de treinamento imperfeitos ou interpretações errôneas, resultando em respostas confiantes, mas falsas. Vieses algorítmicos também preocupam: em 2018, um sistema de contratação da Amazon favoreceu homens devido a dados históricos enviesados, um problema que persiste em sistemas globais. 

      Esses limites criam demanda por profissionais que supervisionem, corrijam e otimizem a IA, como especialistas em ética algorítmica e gestores de dados. Um relatório da Goldman Sachs de 2024 sugere que inovações tecnológicas historicamente criam mais empregos do que eliminam, e a IA deve seguir esse padrão, com 300 milhões de empregos suscetíveis à automação, mas apenas parcialmente substituídos.

      Educação e Habilidades: A Nova Moeda do Trabalho

      A rapidez das mudanças torna a requalificação profissional essencial. O WEF alerta que, até 2027, 44% das habilidades atuais serão obsoletas, exigindo aprendizado contínuo. 

      Em Singapura, programas de upskilling capacitaram 25% da força de trabalho em tecnologia desde 2022, segundo o Ministry of Manpower. 

      Na África, a Etiópia investe em academias de codificação, enquanto no Brasil o Pronatec Digital formou 100 mil pessoas em habilidades digitais desde 2024, segundo o Ministério da Educação. 

      Na Europa, a Alemanha lidera com iniciativas de treinamento em IA, beneficiando 15% dos trabalhadores, conforme o Bundesministerium für Arbeit.

      Plataformas de educação baseadas em IA personalizam treinamentos, ajustando conteúdos ao ritmo de cada profissional. Nos EUA, 70% das empresas utilizam essas ferramentas, aumentando a eficácia do aprendizado, segundo a Deloitte (2024). 

      A IA também otimiza a gestão do tempo, automatizando tarefas rotineiras e liberando trabalhadores para atividades estratégicas. Contudo, habilidades humanas — criatividade, pensamento crítico, empatia — permanecem insubstituíveis. 

      Um estudo da Universidade de Stanford (2023) mostra que profissionais que usam IA generativa, como consultores, melhoram a qualidade de relatórios em 40%, evidenciando o poder da colaboração humano-máquina.

      Impactos Setoriais: Ganhadores e Perdedores

      O impacto da IA varia entre setores e regiões. Tecnologia, saúde e energias renováveis estão em ascensão. Na Índia, a demanda por cientistas de dados cresceu 30% desde 2023, segundo a NASSCOM. Na Europa, a transição verde impulsiona a necessidade de engenheiros, com projeção de 15% de aumento até 2030, conforme a European Commission. Funções repetitivas, como telemarketing e istração, enfrentam riscos maiores. A OECD estima que 27% dos empregos em economias desenvolvidas são altamente automatizáveis, com menor impacto em países de baixa renda, onde apenas 26% dos empregos são afetados devido à infraestrutura limitada, segundo o FMI.

      Empresas globais que adotam IA ganham vantagens competitivas. A Zendesk relata que 60% das organizações que implementaram IA reduziram custos operacionais, enquanto a Amazon usa IA para otimizar logística e o Duolingo personaliza aprendizado de idiomas. 

      No entanto, a automação intensiva pode ampliar desigualdades. Na África Subsaariana, a falta de letramento digital exclui milhões de trabalhadores, enquanto na América Latina regiões industriais enfrentam desafios sem políticas de inclusão digital.

      O Papel dos Sindicatos e da Sociedade

      Sindicatos globais estão se adaptando à era da IA. Na Alemanha, o IG Metall negocia cláusulas para proteger trabalhadores contra demissões algorítmicas, enquanto na Austrália sindicatos promovem alfabetização digital. Nos EUA, a AFL-CIO defende regulamentações éticas para IA focando em privacidade e vieses. No Brasil, a CUT capacitou 50 mil trabalhadores em habilidades digitais desde 2024, segundo dados internos. Sindicatos também buscam assento em comitês de ética de IA garantindo que a tecnologia não amplifique desigualdades de gênero ou raça. A OIT estima que 25% dos empregos globais podem ser afetados, com maior impacto sobre mulheres.

      Questões Jurídicas e Éticas

      A adoção da IA levanta dilemas legais globais: privacidade, responsabilidade por decisões automatizadas e discriminação algorítmica. A União Europeia lidera com a AI Act, que entra em vigor em 2025, estabelecendo regras para transparência e ética. Nos EUA, a ausência de diretrizes federais cria incertezas, enquanto a China prioriza controle estatal sobre IA. No Brasil, a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD) regula dados, mas carece de especificidade para IA, com 61% das empresas enfrentando dificuldades regulatórias, segundo a Deloitte (2025). Normas da OIT, como a Convenção 87 (liberdade sindical) e a Convenção 155 (segurança no trabalho), reforçam a proteção dos trabalhadores.

      Perspectivas para o Futuro

      A revolução da IA está apenas começando. Até 2030, 30% das horas trabalhadas globalmente podem ser automatizadas, segundo a McKinsey, mas as falhas da IA garantem a centralidade humana. O WEF projeta 170 milhões de novos empregos até 2030, contra 92 milhões extintos, resultando em um ganho líquido de 78 milhões de vagas. A MIT Technology Review (maio de 2025) reforça que a colaboração humano-máquina é o caminho, com a IA amplificando a produtividade.

      Governos, empresas e universidades devem atuar juntos. Singapura e Coreia do Sul investem bilhões em requalificação, enquanto a África precisa de infraestrutura digital. Na América Latina, políticas como o Pronatec Digital são os iniciais, mas insuficientes. Marcos regulatórios éticos, como os debatidos na ONU, são cruciais para garantir transparência e inclusão. Redes de proteção social, como renda mínima, podem suavizar transições, especialmente em economias emergentes.

      Construindo um Futuro Colaborativo 

      A IA não é uma ameaça iminente, mas uma ferramenta poderosa que exige responsabilidade. Seus limites — alucinações, vieses, dependência humana — criam oportunidades para trabalhadores qualificados e sistemas éticos. Como disse Andrew Ng, “a IA não substituirá pessoas, mas pessoas que usam IA substituirão aquelas que não a usam”. Contudo, é natural que o ser humano se sinta desafiado ao sair da zona de conforto. 

      Na década de 1980, gerações que dominavam máquinas de escrever Remington e Olivetti enfrentaram a transição para computadores com teclados e mouses; em poucos anos, as máquinas tornaram-se peças de museu. Nos anos 1990, o hábito secular de enviar cartas foi substituído por e-mails e, a partir dos anos 2010, por mensagens instantâneas como WhatsApp e Telegram. Enciclopédias como Barsa e Delta Larousse, indispensáveis até os anos 2000, foram superadas por ferramentas de busca como Google e Yahoo. Até a profissão de ascensorista, comum até os anos 1970, foi extinta por elevadores inteligentes que, hoje, com vozes automatizadas, guiam ageiros aos andares desejados. 

      Esses exemplos mostram que o progresso exige deixar o conforto para trás. Essa verdade vale para o indivíduo, sua geração e a sociedade, impulsionando-nos a abraçar a IA com coragem e responsabilidade para construir um futuro de trabalho global inovador e inclusivo.

      * Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.

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