Pressão republicana no Senado dos EUA isola Trump e amplia apoio a sanções contra a Rússia
Senadores como Lindsey Graham e Charles Grassley intensificam apelos por medidas duras após novos ataques russos, apesar da cautela da Casa Branca
247 - Um grupo influente, ainda que minoritário, de parlamentares republicanos intensificou nas últimas semanas os apelos por sanções rigorosas contra a Rússia, divergindo frontalmente da posição mais comedida do presidente Donald Trump. A reportagem é do The New York Times.
O movimento ganhou força após a mais recente onda de ataques russos contra a Ucrânia, considerada a mais agressiva desde o início do conflito. A iniciativa tem como principal vitrine um projeto de lei bipartidário no Senado que propõe sanções abrangentes contra Moscou. Com 80 senadores já apoiando a proposta — número suficiente para derrubar um possível veto presidencial —, o texto contrasta com a escassa adesão que teve até agora na Câmara dos Representantes.
Graham desafia Trump no Senado
O senador Lindsey Graham, da Carolina do Sul, um dos aliados mais próximos de Trump, lidera a proposta ao lado do democrata Richard Blumenthal. Em pronunciamento no plenário do Senado, Graham dirigiu críticas indiretas ao presidente ao destacar a ineficácia das tentativas de mediação com Vladimir Putin.
“Putin, na minha opinião, está nos manipulando”, afirmou. Ele também recordou iniciativas que, segundo ele, não obtiveram resposta da parte russa: “O presidente Trump pediu um cessar-fogo de 30 dias. A Ucrânia aceitou; a Rússia recusou. Trump também sugeriu um encontro em Istambul. Zelensky foi, Putin não”.
O senador defendeu uma mudança de estratégia: “Já oferecemos à Rússia várias chances para encerrar a guerra de forma digna. Eles não querem. Eles só vão mudar quando endurecermos nossa posição. Precisamos de clareza moral. Putin está prolongando isso”.
Trump insinua mudança, mas hesita
A Casa Branca de Trump, no entanto, tem evitado dar sinais claros de apoio às sanções. Em declarações recentes, o presidente expressou descontentamento com Putin e publicou em suas redes sociais que o líder russo está “brincando com fogo”. Segundo Trump, se não fosse por sua atuação, “muitas coisas realmente ruins já teriam acontecido na Rússia”.
O tom provocou resposta do vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia, Dmitri Medvedev: “Só conheço uma coisa REALMENTE RUIM — a Terceira Guerra Mundial. Espero que Trump entenda isso!”.
Ainda assim, não houve indicação concreta de que Trump apoiará o projeto do Senado ou que pretende retomar o envio de ajuda militar ou econômica à Ucrânia. Segundo um assessor da Casa Branca ouvido pelo New York Times, o presidente estaria mais interessado em preservar oportunidades econômicas com Moscou.
A porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou em comunicado: “A guerra Rússia-Ucrânia é culpa de Joe Biden, e o presidente Trump tem sido claro ao defender um acordo de paz negociado. Trump também deixou claro que todas as opções seguem na mesa”.
Base republicana se distancia
Apesar do silêncio da Casa Branca, outros nomes influentes do Partido Republicano têm elevado o tom. O senador Charles Grassley, de Iowa, cobrou publicamente uma reação firme do presidente: “Já vi o suficiente de Putin matando civis inocentes. Trump precisa agir. AO MENOS SANÇÕES”.
No dia seguinte, reforçou o apelo em uma nova postagem: “Acho que Trump foi sincero ao pensar que sua amizade com Putin traria paz, mas está NA HORA DE SANÇÕES FORTES PRA PUTIN ENTENDER QUE ‘o jogo acabou’”.
Grassley ainda fez uma analogia com outra pauta cara ao trumpismo: “Sanções para Putin como o corte de verbas federais para Harvard”.
O senador John Cornyn, do Texas, também cobrou uma postura mais firme: “Está claro que Putin não leva a sério as negociações”. Embora tenha elogiado os esforços diplomáticos de Trump, Cornyn declarou que “o presidente russo terá que mudar de postura”.
Pressão no Senado e estratégia calculada
Lindsey Graham, em artigo publicado no Wall Street Journal, sugeriu que Trump pediu a Putin que apresentasse uma proposta concreta de cessar-fogo. “Dependendo da resposta russa, saberemos qual caminho tomar”, escreveu.
Para Graham, a resposta pode já ter vindo com a nova ofensiva militar. O senador Todd Young, de Indiana, resumiu: “Precisamos fazer Putin sentir as consequências”.
Aliados do governo enxergam as ações no Senado como parte de uma estratégia calculada, que permitiria a Trump manter sua postura conciliadora enquanto o Congresso assume o papel de linha-dura. O ex-embaixador dos EUA na Ucrânia, William B. Taylor Jr., avalia que Graham dificilmente se moveria sem alguma sinalização da Casa Branca: “É preciso supor que ele esteja em contato com o governo”.
Mesmo assim, Taylor reconhece que as ameaças de Trump à Rússia, até agora, não se converteram em ações: “Ele já expressou frustração, já chamou Putin de louco, já ameaçou sanções... mas nada foi concretizado. Sem ação, essas ameaças não significam muita coisa”.
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