Netanyahu é acusado de armar milícia ligada ao Estado Islâmico na Faixa de Gaza

247 - Em meio ao prolongado conflito na Faixa de Gaza, uma grave denúncia agitou o cenário político de Israel. De acordo com reportagem do jornal israelense Haaretz, publicada nesta quinta-feira (5), o ex-ministro da Defesa e atual parlamentar da oposição, Avigdor Lieberman, acusou o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu de armar deliberadamente uma milícia local associada ao Estado Islâmico (ISIS). A medida, segundo ele, visa criar um grupo rival ao Hamas.

Procurado para comentar a acusação, o gabinete de Netanyahu limitou-se a dizer que “Israel está trabalhando para derrotar o Hamas de várias formas, conforme recomendação de todos os chefes do sistema de segurança”.

Lieberman detalhou sua denúncia em entrevista à rádio pública Kan Bet. Segundo ele, Netanyahu estaria repetindo uma tática já adotada anteriormente: fortalecer adversários do Hamas como contrapeso à Autoridade Palestina. “Agora, ele está ajudando a estabelecer uma nova força armada como contraponto ao Hamas”, afirmou.

Suposta milícia jihadista em Rafah

De acordo com duas fontes ouvidas pelo Haaretz, uma nova milícia ou a atuar no sul da Faixa de Gaza. O grupo estaria vinculado a um homem que se apresenta como Yasser Abu Shabab. Vídeos que circulam nas redes sociais nos últimos dias mostram combatentes palestinos com uniformes militares completos, incluindo coletes, capacetes e insígnias, entre elas a bandeira palestina e um distintivo escrito “Serviço Antiterrorismo” em inglês e árabe.

Abu Shabab é descrito como uma figura influente no enclave palestino. Membro de uma grande família beduína da cidade de Rafah, no sul de Gaza, ele já cumpriu pena em prisões istradas pelo Hamas, acusado de crimes comuns. Em novembro de 2024, quando foi entrevistado por telefone pelo Washington Post, ele negou ter saqueado ajuda humanitária, mas reconheceu que seu grupo esteve presente durante as ações. “Evitamos pegar alimentos, barracas ou suprimentos destinados às crianças”, declarou.

"Clã criminoso com fachada ideológica", diz Lieberman

Lieberman foi categórico ao descrever o grupo. “O clã Hamasha é, na essência, formado por criminosos fora da lei que, nos últimos anos, buscaram dar um viés ideológico às suas ações, aderindo ao salafismo jihadista e se identificando com o ISIS”, afirmou.

Ele acusa o governo israelense de fornecer armamento leve e fuzis de assalto à milícia liderada por Abu Shabab. “No fim das contas, essas armas serão usadas contra nós”, alertou.

A acusação expõe uma contradição grave na estratégia israelense: enquanto Netanyahu sustenta a retórica de combate ao extremismo islâmico, seu governo estaria, segundo Lieberman, reforçando um grupo radical salafista com histórico de violência e suspeitas de envolvimento em crimes contra civis palestinos.