Petrolíferas dos EUA entram em 'alerta máximo' com queda do petróleo e criticam otimismo de Trump
Produtores de xisto paralisam plataformas e cortam gastos enquanto governo aposta que petróleo a US$ 50 basta para conter a inflação
247 - Diante de uma combinação desfavorável de fatores — preços em queda, custos elevados e decisões geopolíticas externas —, o setor petrolífero dos Estados Unidos vive um momento de tensão crescente. De acordo com reportagem do Financial Times, reproduzida pela Folha de S. Paulo, grandes empresas do setor estão desacelerando investimentos, suspendendo operações e alertando para um possível fim do ciclo de bonança da exploração de xisto, que transformou os EUA no maior produtor mundial de petróleo na última década.
Um dos principais focos de crítica das petrolíferas é a avaliação do governo do presidente Donald Trump, que projeta que o barril a US$ 50 seria suficiente para controlar a inflação. A previsão é recebida com ceticismo pelos executivos do setor, que alegam que valores abaixo de US$ 65 por barril inviabilizam a continuidade da produção em larga escala. “Cada conversa que tive indica que este preço do petróleo não funcionará”, afirmou Travis Stice, CEO da Diamondback Energy, ao comentar os impactos do atual cenário de preços baixos e restrições financeiras.
“Todas as opções estão na mesa” - Clay Gaspar, diretor executivo da Devon Energy, sintetizou o clima no setor durante encontro com investidores neste mês: “estamos em alerta máximo neste momento”. A produção de petróleo nos EUA deve cair 1,1% em 2026, chegando a 13,3 milhões de barris por dia, segundo projeção da S&P Global Commodity Insights. Caso se confirme, será o primeiro recuo anual desde 2020 — ano atípico marcado pela pandemia de Covid-19.
Herbert Vogel, CEO da SM Energy, foi direto ao analisar o momento: “a palavra de ordem agora é aguentar firme”. Já Vicki Hollub, diretora da Occidental Petroleum, enfatizou a necessidade de foco: “como operadores, não podemos controlar o macro, mas podemos controlar como respondemos”.
A ameaça saudita e a guerra de preços - Outro elemento que pesa sobre os ombros dos produtores norte-americanos é a atuação da Opep+, em especial da Arábia Saudita. A decisão do cartel de aumentar a oferta de petróleo tem sido interpretada por analistas como uma estratégia para recuperar participação no mercado global, o que pressiona ainda mais os preços. Scott Sheffield, ex-CEO da Pioneer Natural Resources, alertou: “a Arábia Saudita está tentando recuperar participação de mercado e provavelmente conseguirá nos próximos cinco anos”.
Essa estratégia atinge diretamente o xisto norte-americano, cuja viabilidade econômica depende de preços mais altos. Sheffield estima que, se o barril cair para US$ 50, a produção dos EUA poderá perder até 300 mil barris por dia — mais do que produzem alguns países da Opep.
Cortes, demissões e freio nos investimentos - O impacto imediato das adversidades já pode ser observado: a contagem de plataformas ativas em terra caiu para 553 na última semana — 26 a menos que há um ano, segundo a Baker Hughes. Grandes petrolíferas como Chevron e BP anunciaram a demissão de 15 mil trabalhadores em todo o mundo, embora o número de cortes nos EUA permaneça até agora relativamente contido.
A retração também aparece nos números de investimento: os 20 principais produtores de xisto dos EUA (com exceção de ExxonMobil e Chevron) já reduziram seus orçamentos de capital para 2025 em cerca de US$ 1,8 bilhão, segundo a consultoria Enverus. Hollub revelou que sua empresa já diminuiu o número de plataformas operacionais: “reduzimos o número de plataformas em duas no primeiro trimestre”.
Para muitas dessas companhias, o novo foco a a ser preservar o caixa e manter os dividendos. “Você precisa se concentrar nos dividendos, eles são sagrados neste ambiente”, declarou Jim Rogers, sócio da Petrie Partners.
Políticas de Trump sob crítica - Além da pressão sobre os preços do petróleo, as tarifas comerciais implementadas por Donald Trump estão agravando o cenário. Os preços de insumos como aço e alumínio — fundamentais para a perfuração de poços — subiram consideravelmente. “O preço do revestimento aumentou 10% apenas no último trimestre”, relatou a reportagem. Doug Lawlor, CEO da Continental Resources, avaliou que “a economia será desafiada” e prevê uma retração ainda maior dos investimentos nos próximos trimestres.
Mesmo com promessas do presidente Trump de “liberar” mais produção e garantir a “dominância energética” dos EUA, o setor mostra ceticismo. A produção recorde atingida durante a gestão de seu antecessor, Joe Biden, parece agora distante diante da queda nos preços e da crescente competição global.
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