Banco Central Europeu corta juros e sinaliza pausa após atingir meta de inflação
Autoridade monetária reduziu a taxa pela oitava vez, mas pode suspender o ciclo de cortes iniciado há um ano
FRANKFURT, 5 de junho (Reuters) – O Banco Central Europeu (BCE) reduziu nesta quinta-feira (6) suas taxas de juros, conforme esperado pelo mercado, mas indicou que pode interromper seu ciclo de flexibilização iniciado há um ano, após a inflação na zona do euro retornar ao patamar-alvo de 2%.
Desde junho do ano ado, a autoridade monetária cortou os custos de empréstimos em oito ocasiões, totalizando uma queda de dois pontos percentuais, numa tentativa de impulsionar uma economia fragilizada da zona do euro, que já vinha enfrentando dificuldades antes de ser impactada pelas políticas econômicas e comerciais erráticas dos Estados Unidos.
Com a inflação agora ligeiramente abaixo dos 2%, a presidente do BCE, Christine Lagarde, afirmou que o banco central dos 20 países que adotam o euro está "em uma boa posição" com o atual nível de juros – uma sinalização, segundo investidores, de que uma pausa nos cortes é provável, senão o fim da atual política de afrouxamento.
Fontes próximas ao debate disseram à Reuters que, diante do esforço já feito para conter a inflação, seria o momento de fazer uma pausa, ainda mais porque até a reunião de julho haverá poucos dados novos disponíveis. Quatro fontes com conhecimento direto das discussões indicaram que havia amplo consenso sobre manter os juros estáveis em julho. Algumas defenderam, inclusive, uma interrupção mais prolongada, a não ser que ocorra turbulência inesperada nos mercados.
Lagarde também deu indícios, ainda que de forma mais discreta, de que o BCE poderá manter a política monetária inalterada na próxima reunião. “Estamos bem posicionados após o corte de 25 pontos-base e com o atual caminho da taxa de juros”, declarou a presidente em coletiva. “Com o corte de hoje, no nível atual de juros, acreditamos estar em uma boa posição.”
As projeções dos mercados apontam para uma pausa em julho e apenas mais um corte nos juros sobre depósitos até o fim do ano, possivelmente em dezembro.
"Estamos nos aproximando do fim de um ciclo de política monetária que respondeu a choques sucessivos, como a COVID-19, a guerra na Ucrânia – uma guerra ilegítima – e a crise energética", acrescentou Lagarde.
Analistas veem fim do ciclo de cortes
Para muitos economistas, as declarações de Lagarde confirmam uma pausa. Alguns vão além e avaliam que o ciclo mais agressivo de cortes desde a crise financeira global de 2008-2009 pode já ter se encerrado. “Acreditamos que o BCE concluiu seu ciclo de cortes, desde que não surjam surpresas negativas e o cenário econômico siga se fortalecendo gradualmente, conforme projetado”, escreveu o banco Nordea a seus clientes.
A decisão desta quinta foi praticamente unânime, com oposição apenas do austríaco Robert Holzmann, segundo fontes. Procurado, Holzmann não respondeu aos contatos da Reuters.
“O nosso cenário-base é de que o corte de hoje deve ser o último por um bom tempo”, disse o HSBC em nota.
Lagarde também apontou um aumento do investimento estrangeiro na zona do euro, o que revela maior confiança dos investidores. Esse movimento ajuda a explicar a valorização recente da moeda única frente ao dólar desde o início da guerra comercial promovida pelo governo dos Estados Unidos.
Cenário incerto e efeitos defasados
Apesar dos sinais positivos, o BCE reconheceu um cenário cheio de incertezas. A queda nos preços da energia e a valorização do euro podem pressionar ainda mais a inflação para baixo. Isso se somaria ao possível recuo nas exportações do bloco caso tarifas mais altas reduzam a demanda por produtos europeus, deslocando o excesso de oferta para o mercado interno.
A depender dos desdobramentos da guerra comercial com os Estados Unidos, os cenários de inflação e crescimento podem se afastar significativamente das projeções atuais. Por isso, o BCE divulgou cenários alternativos, o que não é comum.
A justificativa para a pausa se baseia no entendimento de que os impactos da política monetária levam entre 12 e 18 meses para se refletir na economia. Assim, estímulos aprovados agora poderiam beneficiar um bloco que já não precisará mais deles.
“Em nosso cenário-base, esperamos que o BCE pause em julho e realize um corte final em setembro”, disse Konstantin Veit, gestor da PIMCO. “Uma recessão mais acentuada seria necessária para que o BCE acelerasse os cortes.”
Diante da fraqueza econômica de curto prazo, o BCE reduziu sua projeção de inflação para 2026. As tarifas impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já estão prejudicando a atividade econômica e devem ter efeitos duradouros, mesmo com uma eventual resolução amigável, devido à perda de confiança e ao recuo dos investimentos.
Mudanças no longo prazo
A perspectiva de inflação muda significativamente quando se olha para o longo prazo. A União Europeia deve retaliar caso as tarifas americanas se tornem permanentes, o que encareceria o comércio. Empresas podem transferir parte da produção para evitar as barreiras, mas a reorganização das cadeias de valor deve elevar os custos.
Além disso, gastos maiores com defesa – principalmente pela Alemanha – e a transição ecológica podem pressionar os preços, enquanto o envelhecimento da população tende a manter a pressão sobre os salários.
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