Por que tanto ódio contra a ministra Marina Silva?
O ódio contra Marina vem de longe, desde os tempos de Chico Mendes
A ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, foi o alvo de ataques machistas e de teor misógino, nesta terça-feira (27), em sessão da Comissão de Infraestrutura do Senado pelos parlamentares Plínio Valério (PSDB-AM), Omar Aziz (PSD-AM) e pelo presidente da comissão, senador Marcos Rogério (PL-RO).
As cenas grotescas e as falas chocantes de senadores da direita extrema e do extremo Centrão foram marcadas pelo mais abjeto machismo e gestos explícitos de misoginia –, e apenas revelam a superfície do ódio contra a ministra Marina Silva.
Marina Silva reagiu com altivez e exigiu respeito por sua condição de ministra de estado. “Após mais uma agressão do senador Plínio Valério, lhe dei a opção de pedir desculpas, mas ele se negou. Por isso me retirei da sessão. Não posso aceitar ser agredida e não posso me calar quando atribuem a mim responsabilidades que não são minhas. A audiência pública foi transmitida ao vivo e tudo o que ocorreu lá pode ser conferido na íntegra pelo canal do Youtube da TV Senado: youtube.com/tvsenado”, postou a ministra em sua rede social.
A conduta do presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado, Marcos Rogério, além de inadequada e vulgar, também foi extremamente agressiva quando declarou em um tom de voz autoritário para a ministra: “Ponha-se no seu lugar”. Após as agressões e o desrespeito dos senadores, a ministra deixou a sala onde se realizava sessão da comissão.
O Ministério das Mulheres, em nota, manifestou repúdio aos atos de machismo ocorridos no Senado: “Um completo absurdo o que aconteceu nesta manhã com a ministra Marina Silva na Comissão de Infraestrutura do Senado. Ela foi desrespeitada e agredida como mulher e como ministra por diversos parlamentares – em março, um deles já havia inclusive incitado a violência contra ela”, afirma a nota assinada pela ministra Márcia Lopes.
As agressões contra Marina Silva provocaram uma ampla onda de solidariedade no país e no exterior. O presidente Lula, ministros, parlamentares de diversos partidos, movimentos sociais e ambientais defenderam a gestão da ministra e sua conduta na direção do Ministério do Meio Ambiente. Resultado: Marina saiu mais fortalecida politicamente a partir dos lamentáveis eventos de hoje.
Por trás da campanha de ódio contra Marina
Nos últimos meses, a ministra do Meio Ambiente tem sido o objeto de ataques pesados do agronegócio, das mineradoras, das madeireiras ilegais, de lobistas das petroleiras, de organizações criminosas de contrabandistas de ouro e pedras preciosas e dos tradicionais grileiros de terras que atuam na Região Amazônica.
Além disso, parlamentares vinculados ao agronegócio e ex-parlamentares, como o neobolsonarista Aldo Rebelo, realizam uma atividade sistemática de desconstrução das ações de defesa ambiental do ministério, do Ibama e de seus profissionais.
Marina Silva enfrenta uma reiterada e sórdida campanha financiada e organizada sob a capa de “desenvolvimento da Amazônia”, mas que na verdade opera pela manutenção do modelo agroexportador, que transforma o país num “fazendão” das commodities. É o antigo e continuado projeto de ocupação predatória da Amazônia e do saque de suas riquezas. Um velho filme que já vimos na extração do ouro da Serra Pelada, no Pará, na exploração do manganês na Serra do Navio, no Amapá, no criminoso Projeto Jari e na violenta construção da Rodovia Transamazônica, pela ditadura militar, que varreu do mapa tribos inteiras.
O ódio contra Marina vem de longe, desde os tempos do “empate”, uma forma de luta dos seringueiros organizados pelo líder ambiental e defensor da Amazônia, Chico Mendes, assassinado a mando de fazendeiros da região de Xapuri no Acre. Marina é a herdeira direta dessa luta, sempre esteve identificada com a luta pela sobrevivência dos povos da floresta.
No Senado, estava em pauta temas sensíveis e de forte impacto ambiental na Região Amazônica: A proposta de criação de quatro unidades de conservação marítimas no Amapá, a controversa defesa da exploração de petróleo na Foz do Amazonas, o Projeto de Lei do Licenciamento Ambiental e a extensão da BR-319, que liga Porto Velho a Manaus, que desencadeou uma ampla devastação de mata nativa ao longo da rodovia.
A ministra afirmou que a criação de unidades de conservação marinha na Margem Equatorial, no Amapá, não impede a pesquisa de petróleo na região e sustentou a defesa da política ambiental do Governo Federal, que reduziu o desmatamento na Amazônia e protege os demais biomas. E defendeu ainda um novo fundo de florestas tropicais para remunerar os proprietários que preservam áreas florestais.
Como um homem de ascendência amazônica, além da solidariedade política para Marina Silva, rogo para as divindades guardiãs da Floresta Amazônica — o sábio Curupira, que protegia o guerrilheiro Osvaldão no Araguaia, a astuta Matinta Perera, o ágil Mapinguari e a gigante Cobra Norato — que protejam a ministra da sanha criminosa dos que cobiçam vorazmente as riquezas da Amazônia e desprezam o seu povo.
* É colunista em diversos sites e portais da mídia progressista e de esquerda. Autor dos livros ‘Brasil Sem Máscara – o governo Bolsonaro e a destruição do país [Kotter, 2022] e de ‘Lava Jato, uma conspiração contra o Brasil [Kotter, 2021], entre outras obras. Graduado em Gestão Pública pela UFPR e Pós-graduação em Ciência Política. Ativista social e militante do PT de Curitiba.
* Este é um artigo de opinião, de responsabilidade do autor, e não reflete a opinião do Brasil 247.
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