Lafaiete Neves, o ‘Senhor Tarifa Zero’

Quem participou da campanha por eleições diretas para presidência da República, no início dos anos 80, vai recordar do deputado federal paulista Ulysses Guimarães (PMDB), que liderou o movimento ao lado dos governadores Leonel Brizola (PDT-RJ), Franco Montoro (PMDB-SP), Tancredo Neves (PMDB-MG) e do emergente líder sindical do ABC, Lula, então presidente do Partido dos Trabalhadores (PT).

A campanha, que mobilizou milhões de brasileiros, ficou também marcada pela atuação destacada de Ulisses Guimarães, que acabou ganhando o apelido de “Senhor Diretas” pela mídia e pelos jornalistas especializados na cobertura da rotina política. É a causa e a personalidade numa espécie de fusão — juntas e misturadas.

Neste breve artigo, o “nariz de cera” é justificável. Pois trata-se de falar de mais um caso de fusão entre a personalidade e a luta, ou seja, a causa de uma vida. O personagem em tela, é o professor aposentado do Departamento de Economia da UFPR, Lafaiete Neves, que mergulhou profundamente na luta por um transporte público de qualidade e ível para o povo trabalhador, mobilizando a população junto com as associações de moradores e as comunidades eclesiais de base da Igreja Católica, nos anos 70, 80 e até o começo dos anos 90. E prossegue até hoje no mesmo objetivo e com novas táticas de luta.

Lafa, como também é conhecido, é um militante das antigas, esteve envolvido de corpo e alma nestas batalhas, sempre com olhar e os nervos atentos para a questão do transporte coletivo, enfrentando, na maioria das vezes, a truculência e as manobras do poder político municipal.

Lafaiete acompanhou todo o processo de transformação capitalista no setor do transporte, a tensão permanente entre os interesses da população e do pequeno grupo de empresas familiares, que controla o sistema em Curitiba, com apoio e a proteção dos diversos prefeitos e das maiorias de vereadores da bancada da catraca.

Atualmente, Lafa dispara a sua artilharia no que chama de forma adequada de “máfia do transporte”, que opera por mais de meio século, fraudando licitação e comprando apoio no meio político. Ele denuncia o preço abusivo da tarifa em Curitiba, “a mais cara do Brasil”, em que o usuário paga R$6,00, com um escandaloso subsídio da Prefeitura que paga aos empresários R$8,00 por ageiro.

A chamada “tarifa técnica” funciona como um dreno de recursos públicos para encher os bolsos do empresariado do setor. E tudo indica que na gestão neoliberal e bolsonarista de Eduardo Pimentel, os donos da catraca contam com o beneplácito do prefeito.

Tarifa zero universal é possível

A adoção da tarifa zero avança no país, cerca de 120 cidades oferecem o mecanismo para os seus habitantes, como em Caucaia, na Região Metropolitana de Fortaleza (CE), em Balneário Camboriú (SC), com 149 mil habitantes, entre outras. No Paraná, 12 cidades operam com a Tarifa Zero no transporte coletivo, entre elas, Rio Branco do Sul, Almirante Tamandaré, Tijucas do Sul, Quatro Barras, Paranaguá e Matinhos.

Na Câmara dos Deputados, a deputada federal e ex-prefeita de São Paulo, Luiza Erundina, apresentou o Projeto de Emenda Constitucional – PEC25/2023 que, se aprovado, assegura a gratuidade no transporte público em todo território nacional, efetivando a universalização da tarifa zero, o que amplia a mobilidade urbana e o direito à cidade.

Nova licitação do transporte em Curitiba

Uma nova licitação do transporte público está prevista, com edital para setembro, e a abertura das propostas marcada para o mês de dezembro. Vale ressaltar, que a última licitação segue judicializada no Ministério Público do Paraná, com inúmeros indícios de fraudes durante o processo licitatório.

A nova licitação também vai abranger os 29 municípios da Região Metropolitana de Curitiba, e contou com a formatação e assessoria do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

Movimentos sociais e sindicatos urbanos avaliam as formas e os meios de interferir no processo para impulsionar a mobilização da sociedade na defesa de um sistema público de transporte de qualidade, com uma tarifa justa e medidas de inclusão, como a adoção progressiva da tarifa zero para estudantes e trabalhadores, a domingueira 0800 — ampla geral e irrestrita para toda a população.

O novo livro do “Senhor Tarifa Zero” – ‘Tarifa Zero, De décadas de luta ao sonho possível’, editado pela Banquinho Publicações -, indica os caminhos da luta e a experiência social acumulada frente ao poderoso grupo de empresários que controla o negócio do transporte na cidade.

Mais uma vez, contamos com a capacidade de luta, o acervo militante e a imprescindível presença de Lafaiete neste novo combate…